segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um papelete branco amarelado

À poucos dias atrás eu estava vasculhando umas caixinhas antigas que guardava em cima, bem no fundo do guarda-roupa e adivinhe o que encontrei.
Eu achei a chave de entrada de meu coração.
Fiquei alguns minutos, confesso, só olhando para a chave com receio de ao menos tocá-la, uma chave nova, sem marcas, afinal poucas, bem poucas vezes abri meu coração com ela, nas poucas vezes em que ele foi aberto, foi à força, agredido foi o meu coração.
Depois de pensar e repensar alguns minutos peguei a chave e o abri, tive até dúvida se era o meu próprio coração ao vê-lo tão sujo, empoeirado e vazio.
Descobri um monte de coisas ao meu respeito e logo o tranquei de volta e escondi a chave em um outro lugar. Tem verdade que nem devem ser ditas! Tem verdades que nem devo acreditar!
Como por exemplo, eu descobri que não gosto da vida que digo amar. Nem tampouco das pessoas que passeiam por ela, nem as que já passaram e deixaram lembranças, nem falo das lembranças ruins, tem recordações agradáveis e boas que preferia nem ter vivido. Odeio gente boa, educada e docinho!
Odeio as pessoas que bajulam, abraçam, andam certinhas e dizem à todo momento: te amo! Não existe raça mais hipócrita e mesquinha.
Na verdade, o que eu não acredito é neste amor, este que os poetas cantam, não acredito em reciprocidades de sentimentos. O ser humano, não sei se gosta de sofrer ou é cego mesmo, mas eu nunca olhei no mesmo instante para um mesmo olhar. Será que eu nunca vi, me vi ou nunca me enxergaram. Coitados!
Eu encontrei um quarto com um monte de guardados que me inspiram medo, datados nos dias em que tentei ser visto por alguém ou ver alguém que me olhava. Nunca mais farei isto.
Bem perto deste quarto tinha um cômodo com cheiro de egoísmo, fraqueza, ciúmes, muitos ciúmes, muitos. Lugar fétido, seco, frio.
O meu coração não era tão grande, mas tinha uns outros cômodos e ainda outros que nem quis entrar, mas em um tinha um grande espelho sujo e quebradiço em que me vi negramente refletido, eu era magro, esquelético, bem alto, com olheiras, uma criatura assustadora. Este quarto chamei de solidão, pois era assim que ficaria quando muitos me encontrassem na minha intimidade.
Também nem me importo, eu amo a solidão. Amo quem me ama e não me abandona, quem está incondicionalmente ao meu lado, sempre. Ela sempre chega quando os demais se vão, sempre chega quando a chamo, nunca me troca por alguém, é a única criatura no mundo que mantenho uma relação recíproca, saudável e confiável, pois da solidão não tenho medo, ciúmes, raiva, inveja ou sentimentos de rejeições. Ela sim me ama!
Posso te contar uma outra coisa?
Quando cheguei no quarto onde tinha uma cama, um guarda-roupa e um lençol, eu vi uma grande rachadura na parede e um pequeno buraco com um papelete branco amarelado, era um bilhete, carta, um pedido, sei lá umas palavras escritas com minha letra, eu as reconheci e nelas sabe o que eu dizia?
Eu, acho que orava, rezava, uma prece à um alguém quem eua inda tinha esperanças, dizendo de um sonho, eu dizia que era meu maior sonho, o meu segredo maior, minha verdade...
Poucas palavras escrita com letras e linguagem de criança, realmente deveria ser um texto bem antigo, talvez por isto a cor amarelada; escrito à lápis eu pedia: Você que sabe de todas as coisas e também pode todas, por favor, olhe pra mim e no próximo dia 12 do quinto mês me dê o presente que te pedi no aniversário passado e ainda não recebi... Dê-me um amigo, um irmão, uma companhia pra eu brincar de bola, de pique, um amigo pra eu dividir minhas balas e conversar à noite na hora de dormir e cochilarmos juntos.
Um papel branco, amarelado e simples, mas que me revelavam do eram feitas as paredes de meu coração, o mesmo coração que mesmo querendo não permite que belos sentimentos como este de menino o invadam à casa!

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