terça-feira, 30 de setembro de 2014

Hoje revi um ex-amor correndo na Lagoa

Talvez eu nunca tivera conhecido a dor da partida se não tivesse hoje te namorado na Lagoa.
Meus olhos te viram com o mesmo sabor dos beijos que nunca demos. Minhas mãos transpiraram os mesmos prazeres que nunca demos. Os Demos retornaram a ser os mesmos demos. As mesmas aflições de nunca ter sido e sempre nunca tido. Sempre no nunca.
Talvez continuaria a contar pra mim as mesmas carochinhas que fantasiavam o teto de meu quarto. Se eu não tivera visto teu corpo penetrar a paisagem de graça e paz da Lagoa eu até não choraria como chove agora.
Um amor mal velado é como vela que apaga e reacende com o vento. E é preciso molhar os dedos que indicam o ponto e pontua o tudo, bem na saliva ácida da boca e tocar as chamas que muitas vezes queimam e deixam marcas. Marque um amor comigo.
Amor mal velado e defunto que cultuamos vivo no arcaico aramaico das preces. Como todos os cemitérios sempre fora do convívio da cidade, mas dela sempre é parte. Parte que fica e parte.
Talvez se eu não tivera te visto hoje correndo na Lagoa eu correria pra te encontrar no anti-horário de teus passos. Um amor que não passou e passou de repente por mim.

sábado, 27 de setembro de 2014

Uns verão de uma andorinha só

Sou criança e choro
de sorrir e gargalhar
a esperança é coro
de quem rir e quer chorar

Sou lembrança e brinco
de pintar o coração
véi que é menino
e se cair
danço no chão

Sou criança e sinto
o que nem sei contar
juro que não minto
é tão simples como o ar

Sou lembrança e digo
uma andorinha faz verão
o céu vai colorindo
atraindo mais irmãos 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Eu não beijo os beijos que beijo

Eu não
Você talvez
De vez e outra
E outra e tal
Vez de eu
Eu de todos
Dos teus e eus
De muitos e poucos
E poucos não
De todos sim
De sim
De menos
Nos mesmo ais
Em cais
Em esmo
Com sais e cios
Sem cia
Com ia
E foi
E vai
E nunca
Em sempre
Quem pressente
Te sente
Ou não
O beijo
Que nunca beijou


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Senti Mentos na boca

Nos vultos de seu olhar
Eu via as lembranças de minha vó esculpida
Entre íris e pupilas salientava pra mim
Que
Todo amor estava fadado a mentir
Por isso me beijou com gosto de Mentos
E eu acreditei
As erupções que salientaram em minha língua
Tatearam o céu
De minha boca
E ela me traiu revelando 
O que eu mesma
Velando o corpo do falecido negava
Eu caí em amor
Vi estrelas em outro céu
Essas estrelinhas não me pontuavam o saber
Eu ainda não sabia jogar o amar
E amamos na primeira pessoa do singular
Pluralidades era o que produzia
Minhas canções
Minhas intenções e tensões cor-de-rosa
As deles
Cor-de-burro quando foge
Todos os homens me lembrariam o falecido
Todo amor estava fadado a mentir
E eu estava remodulando contos de fadas
Sem um conto de réis para pagar pelo meu coração
Penhorei minhas palhaçadas
E fiz de palhaça minha feição
Perdi minha própria casa
A casa própria ao acasalar com paixão de inquilino
Meu ventre
Livre
Eu ventríloquo, falaram por mim
Talvez o próprio coração 
Em desapropriação de si
Aprendi quebrar o nariz do Pinóquio
Administrei a academia de negar
Inventar
Em ventar os sentimentos
Senti Mentos na boca
Soprei e o vento não 
Soprou de volta
Dei a volta
Meia volta
Ventilei antigos medos
E gostos
Desgostos
Esgotos
E no goto prendi e aprendi amar

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Quando broke-upamos o amor

Os meus olhos te negarão
O meu nariz vomitará ao teu cheiro
Minha boca secará ao pronunciarem teu nome
A língua se trançará em tons de braile
Não tocarás mais o meu corpo
O copo
A culpa
Ou copular
Acabou
Ao cabo que
Chamarei-te pelo nome de ex
Extinto e acabado
Pois mal-acabadas eram tuas poses
Renunciaremos aos antigos paladares
Desaprenderemos as antigas coreografias
Dançaremos solitariamente por outras chuvas
Terras rachadas
Corroídas
Corro lapidando em mim as marcas de tuas pegadas
Quero possuir as terras em que habitou
Desconstruir os gozos que voluntariei
Estou
Seguindo em gerúndios os pretéritos passados
O passo que em uva-passas se broke-upeou

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O tal lençol velho e rasgado

A minha tentativa era de tragar cada fumaça daquele sono.
Eu percorria as silhuetas da saliente cama, mas essa transava indecentemente com o lençol velho e rasgado que há uns onze dias não trocava. Está aí uma palavra que nunca vejo em poemas. Onze. O que tem o onze de errado pra ser desprezado pelas buscas de palavras que fazes pra me enganar com teu amor? Tão pequeno, tão doce, maior que dez... Se tivesse, pelo menos, me proporcionado onze prazeres estaria cansada agora e adormeceria na paz desta sala escura onde repousa o meu corpo sobre a cama fria.
Por que não mentisses pra mim, poeta salivante? 
Se perdes nas verdades traiçoeiras e me rouba os sonhos eróticos que latejam minhas pernas e dobraduras. Vocês, senhores poetas se perdem nos sentir e esquecem o amor. Eu, amante, procuro os gostos e desconheço o saciar, alimentar, nutrir, e perco o sono.
Como acordarei amanhã sem as lacunas preenchidas por tuas palavras salpicadas como chuva serôdia de tuas salivas? Quero ser chupada agora por você. Ser sugada como laranja de gomo em gomo por teus lábios rubros que me lembram as almofadas que mamãe distribuía nas poltronas de sua casa. Distribua tua maciez bruta em meus lábios e eles se responsabilizarão de acomodar o teu corpo e pensamentos que não pensará tua cabeça. Lance o teu cérebro em mim. A tua intenção. Tensão. Intento.
Me canse. Me transe. Me farte. Furte o meu calor e frio. Me evapore ou misture o meu labor ao teu. Me faça parte de tua respiração, me tumultue e quando eu encontrar o monstro moribundo que por toda essa madrugada procurei, me cante uma cantiga de ninar, mas me cubra com este mesmo lençol velho e rasgado, cheio de bolinhas e manchas escuras e claras, só pra que a temperatura se concentre nas marcas de minha pele nua. Se sente e centre. E eu amanhã acordarei deliciosamente encharcada.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Esqueci do que iria escrever

O tempo parou
E nesse meio tempo
Fiquei meio que...
Ah, não sei o que queria dizer
Mas disse
Eu confessei o meu mal
E mal tive tempo pra...
Com fé sei...
Não, não sei
Sem tempo fica difícil ficar
Com tempo fica fácil fixar
E eu fissurei o contra-tempo
Não que fosse contra o tempo
Ou o tempo contra mim
Éramos conta-gotas
E de gota em gota desgastamos o gás
Gostamos dos desgostos
Outros nos tornamos
Sem ter 
Sem ter 
Sentido
Não operante
Errante no tom da ópera
Sem tempo pro que antes era dom
Erra o som
O bom da coisa
A tal coisa coisada
O mau coise que opera o com do tempo

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Gozo, peido e paixão

O que buscava era qualquer dor que lembrasse o rosto que me feriu. Qualquer tom, qualquer quer, qualquer qual.
É que chega um momento na paixão que a única verdade que podemos exibir é a mentira. Tiras de fantasias são amarradas aos laços de fidelidade. O engraçado é pensar que nem fiel à mim fui.
Armadilhas brancas são costuradas às estabilidades transitórias. Juras que cobram juros sem correção, mas erros libertinos. Risos são trocados por gargalhadas. Arrotos e peidos amargos por educação fria e cognitiva. As rugas salientam-se como profundos rios que nunca naveguei, nem ri. Águas que nunca fluíram em meu gozo. Gozado imaginar que hoje estamos secos. Ou encharcados de tantos esforços.
Eu morreria hoje se hoje me amasses. Ouvi dizer que era pra sempre o amor e a morte um até breve. Eu te veria outra vez e outra vez haveria o amar.
Se preciso fosse eu iniciaria uma guerra. Silenciaria as batalhas que travo com meus pulmões. Se preciso fosse eu deixaria de precisar. Apenas seria penas. Ar. vento. Calmaria. Mas não seríamos paixão. Caixão.
Eu revi minha mágoas. Cada puta que amei e não pariu a graça.
Se o nosso olhar se cruzasse at least por uma vez mais, descobririam os intentos que tramamos contra os queres. Querer querer não querer mais.