terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Quando as borboletas partiram deixei de meus dentes escovar

Quando as borboletas partiram deixei de meus dentes escovar
Cavei dez centímetros no chão do apê e me escondi
Fugi das lembranças que estavam nas areias da praia
Escapei das gotas de mijo no chão
Das cuecas atrás da porta do banheiro
Eu sumi
Em suma
Somei minhas dores e não prestei conta
Já pra nada prestava
E nadei naquele conforto do chão
Ali submersa prestava atenção na respiração que falhava
Não temi morrer
Tomei meus calafrios como ternura
Me acariciei do medo
Deve ter sido a dor
Ela somente saberia me adormecer
Ela me devia a proteção
A libertação do casulo de meu interior abandonado
Só pode ter sido a dor
Ela semeou sua beleza em minha pele
Fez brotar feridas como flor
E atraiu as lagartas sem brilho
Que se alimentaram de meus lábios
Me beijaram feito crianças sedentas
E quando borboletas
Partiram
Em partes, partida estou
E quanto aos dentes não tenho o que falar



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Faço de conta que ainda estás aqui

Me situo entre minhas caladas
Não moro em mim
Tenho transado com as palavras que não disse
Entrado pelos foras que gritei
Sou violentado pela companhia de meus travesseiros
Sem cheiro nem suor
Os fios de cabelos assinam os assassinatos que cometi
Pudera eu fugir
Pudera eu transpassar por meus poros
Mas não dava mais para tentar
Estávamos tentados a seguir em paz
Na paz de espírito que contrita a razão
Viagem
Viajei
Eu que no meu amor me apeguei
E nunca peguei o amor
Tenho masturbado o meu coração
Com prazeres que não gozam você
Não transpiram teus ais
Nem perdem teus fôlegos
Fechei-me em mim
Mas deixei a porta entreaberta
Caso você volte, solidão

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Queixas

Deixa eu errar
Deixa eu perder a linha
Um tal frio na espinha
Deixa arriscar

Se eu sambar
Deixa eu sambar na minha
Passo o que não continha
O meu vacilar

Deixa eu morrer de vergonha
Deixa eu rachar tua cara
Deixa eu viver bem putona
Deixa eu viver minha tara

Te deixo com as vergonhas
Te deixo com bela cara
Deixo e não me reponha
Deixa eu viver não me para

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Mulher-macho, sim senhor

Por ti 
eu ponho minha mão no fogo
ponho o meu coração em leilão
nem ligo
eu jogo o teu jogo
sou dessas que não "faz" questão
com paixão

Me pinto
e faço a princesa
se minto, passo à questão de esquecer
não liga
pois tem sobremesa
meu gozo e a tentação de viver

Meu fogo não deixa fumaça
Meus traços nunca deixarão me deixar
Não negues pois sou, sim, desgraça
sou fêmea e me viro macho ao amar


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Boa noite má

Tchau
Feche a porta ao sair
Se der
Tranque as cicatrizes 
Pra que suas dores não chorem
Deixe a minha dor 
Dormir em paz
Vá com o teu nome
Se distraia com as infâncias que escolheu
Saboreia a companhia dos doces que te encolhem
E se passarem dias
Abra a janela ao entrar
Alimentarei a saudades com minhas unhas
E assim não arranharei a tua face
Quando outrora me chamar de amor 
Mentindo pra mim
E destonalizando meus ais
Mente ao meu coração
E apague a luz
Durma bem, amor 
Boa noite

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Eu quero amor e deixar a impureza sair

Por mais que eu tentasse
Ou apenas me protegesse a minha psiqué
Eu estava fadado a morrer de amor
A fuga do destino me levava à caminhos tortuosos
Desfiladeiros íngremes temperados com chuvas serôdias
O chão tinturado à barro deslizava o meu tremor
E minhas forças despencavam montanha à baixo
Eu estava no traçar da trilha da morte
E simultaneamente eu tinha sede por vida
E o que é o viver se não os feixes de um abrir e fechar dos olhos
Não me acordem, nobres senhores
Deixe-me seguir livremente o cumprimento de minha jornada
Deixe-me surgir bruto para minhas emoções
E Ser lapidado pelo inexplicável sabor de ser paixão
Na textura dos tecidos que inflama o amor
Sabe quando você quer chorar e se permite?
Eu quero amar e deixar a impureza sair