terça-feira, 30 de outubro de 2012

Em puberdades afetivas

O silêncio silencia o processador de meu pensamento
O que rolam são as turbinas de meu computador
Ando estaticamente grilado
Disfarçando o som dos grilos e poucos carros
Fantasiando minha confusão
Eu não gosto de romances com espinhas
Já despedir das puberdades afetivas
Porém quanto mais rezo, mais paixão me aparece
E o seu sorriso sussurra-me tranquilidades
Sigo minha madrugada à dentro
Subindo para baixo tuas digitais em minha retina
Eu, vou e sigo o trânsito descongestionado de meu peito
Invariavelmente só de mim
Me confundo neste jogo que se inicia
E lanço o dado sem perceber que os dados já foram dados
E estabelecidas as regras do transgredir
Se até as folhas de minhas plantas amarelam
Por que não amarelaria o meu riso?
Estranho eu gostar tanto de você
Sem ao menos vocear o você
Sem ao menos conjugar o verbo nós


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Não aguento mais

Eu não aguento mais respirar o teu nome
Não suporto paz, quero porto em chamas vermelhas
Não aguento mais o unguento que desce sobre o meu peito
Eu não espero cura, eu deixo a alma deste jeito estreito
Não fui eu que cravei os joelhos no chão e clamou por toques
Posso morrer seca, mas não bela em fingidos retoques
Cale a boca e engula as palavras de ofensa
Não penses que mais uma vez esculpirá as mãos sobre mim
Feito acampamentos de famigerados abortos
Não pintes pra mim cenários de melancolia
Eu já bebi de tuas defraudáveis manipulações diariamente
Ao ponto que o meu corpo já produzira anticorpos contra tua transpiração
Estou vacinada contra você
Estou decepada deste câncer que é tua voz
Hoje me alimento dos refluxos de tua carícia
Eu rio rios das lembranças de minha estupidez
E não canso de mim
Me enxergo e vejo
Colorida e viva
Diante tua morte lenta e real
Num funeral de rei de pouca realeza
Eu não aguento mais respirar o teu nome
Não suporto o gosto de morte deste cemitério que sepulto em mim
Vá com deus e se aqueça no inferno


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Ainda há amores que morrem em si

Teu ofegar mudou
Não escreve mais pra mim um texto
Monossilaborizou
Soletra sons de um pequeno brinquedo
Suas rugas não sorriem mais
Tua caixa torácica não dilata o esqueleto,
Invertebrado amor
As folhas de nossas árvores acenam para mim
Ensaiam intimidade com o particular conhecido
E eu me desconheço em quarto fechado e coração aberto
Ferido
Atravessado quebranto
As pilhas de teus livros inclinam pra direita
Não caem
Nem pilham as lembranças de nossas sentimentalidades
Que fogem do mundo que capturei em fotografias
Envelhecidas e amareladas na estante
Um instante apenas para me despedir
E despir minha alma da esperança de colorir as lacunas dos cômodos de casa
Casa que casou com a solidão e me dispensou
A tua manteiga com sal embolorou
Segundo a canção que fazia seus passos pelo assoalho
Acorde o teu pão que descansa em coma
E coma de mim um alimento que nos retorne vida em cor
À cor de acordo de acordar pro amor

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Me transa em tranças destrancadas

O teu mar afoga o que em meu ser inunda
Encharca as salivas que se produzem em minha boca
O teu mar me abraça como eu oferenda pura
Ao mesmo tempo que me rejeita em ondas frias
Eu te devoto como santo desprotegido
Eu te inscrevo em meus alimentos santificados
E o devoro faminta e sedenta
E não me satisfaço de minhas intrigas
Brigo comigo para justificar os teus erros
E os lanço de volta ao mar
Nas profundezas dos espaços que rasam o teu amor
Submerjo os meus caracteres de emoção
Sufoco o meu rio que procura teu mar
Se desenho terra seca em minha pele
Ao ponto que meus hormônios dançam a chuva
E ela cai seca
E seca o meu riso caído
Destroça os guarda-chuvas que me irrigam
Desprotege o meu cais
Será que choverá esta noite?
Me destrança os cabelos que roubei do mar
Tirei de suas virtuosidades a segurança
E rendi a minha vida
Consagrei
Me destranca as comportas do céu 
Que se esconde acima do céu
Me transa
E então fluirão os meus rios ao encontro de ti

domingo, 21 de outubro de 2012

Amor num buquê de flores

Sim, eu amo por amor
Eu amo por pavor
Eu amo por querer amar

Enfim, eu canto desamor
Espanto o por favor
Meu pranto é te ver me amar

Não sei quantas flores te darei
Talvez as rosas roubarei
Não desenho em pétalas coração

Não sei se tua graça viverei
Talvez a desgraça eu terei
Não desenho em corpos emoção

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Deus me fez anjo, mas a vida me possibilitou também demônio

Ao me ver passar não olhe os meus rastros
Meus caminhos não são seguimentos para covardia
Quando virar minhas costas não pronuncie o meu nome
Minha presença não é lixo para alimentar tuas iras
Não cole em mim
Por que dentro de meu estômago há um mundo de trabalhos mal feitos
Que me alimentam, sustentam, tornam homem de carne e osso
Que costuram em torno aos corpos os pecados maestrais
Não sou santo de pau oco
Tenho vida escondida por detrás desta santidade
Não sou sepulcro caiado
Sou sujeira que se banha para viver
Não sou puro, nem imundo
Sou eventualidades
Sou processo que processa sentimentos
Gases que implodem estúpidas convenções
E espalham no ar o colorido do medo da vida
Sou nobre e franca honestidade
Sem cera, sincero, negro
Sou filho de deus e nele encontro minhas tristezas
E são delas que se animam minhas pernas
E percorrem o mundo virgem
Que sangram com a penetração de meu pé
Sou aquele que destrói
Sou aquele que modifica
Sou daquele que não tem dono
Mais livre que o ar que falta em meu pulmão
Eu sou gente, sou humano
Sou aquele acerto que deu errado
Sou estes olhos que me lêem torto
Por cima dos ombros caídos
Estas bocas que me pronuncia cheia de salivas de condenação
Sou estes ouvidos que se constrangem ao reconhecer a própria voz
Anjo esculpido por deus e habitado em terras demoníacas
Prazer em se reconhecer?

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Sobre estas paradas de amor e paixão

Quero um amor que não me dê rosas
Que conte mentiras e fale em prosas
Quero um amor desnaturado em si

Quero uma paixão que invada o peito
Que aguce o medo e confunda o leito
Quero um amor enraizado em si

Espero a paixão, humanidade, entrega
Espero o desejo, o finalmente e calafrio
Quero o amor, insanidade, espera
Espero o insejo, o advérbio e o cio

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Eu não preciso de tuas mentiras

Eu não preciso de tuas mentiras
O teu amor inscrito em minhas córneas
Já me cantam o teu te amo
E estas sonorizações perturbam o meu auto-amor
Auto-zelo
Auto-credo
Credo e cruzes, sigo-te como um piloto automático
Farejo o teu cheiro como cão sarnento e faminto
E satisfaço-me das migalhas
Que caem de teu pão sofrido por insônias
E refaço o meu humor
Acreditando que me queres 
E apenas se cala
Diante o medo do amor
Eu pinto pra mim a cena perfeita pra nós dois
Eu assovio a nossa trilha enquanto grito o teu nome
E despedaço minha pele correndo ao encontro de ti
Eu iludo minhas ilusões cansadas de arquitetar castelos de areia
Eu teatralizo Shakespeare, o inspiro
Eu sei que não gosta destes gêneros
Mas por eles hoje deixei de me matar seis vezes
Não teria coragem de morrer sem você
Eu sei que não vives por mim
Nem bebes de minha água
Eu sei
Eu sempre sei
Quem é que não sabe quando se sabe?

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

É que as pessoas têm andado muito arrogantes

As palavras não estão  mais doces
Os sorrisos não mais abraços
Nem olhos ventilam a alma
O que vejá é muito eus
Os narizes nunca tão empinados
Perfuram o céu e sangra a vista de Cristo
Valha-me Deus, perdão
Os julgamentos se inscreveram moda
O umbigo masturbou o mundo
Vergonha alheia de meus semelhantes
Às vezes, até nojo
De mim
E os dedos?
O que falar do dedos
Que não mais esculpe coração na pele?
O que dizer do que aponta contando tudo?
Mas nem sempre é verdade
Tem vez que apenas uma ótica
De não enxergar
Se enxerguem
Antes mesmo que o telhado se quebre
Cuidado
Cacos de vidro no teu chão
Desculpe-me
É que as pessoas têm andado muito ocupadas
Consigo mesmo
E a tão solene arrogância
Ao ponto que nem se lembram dos olhos
E não olham mais a si no espelho
Quebrado

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sabe aquele beijo que não encaixa? Pois então...

Teu corpo grudado no meu
Colado feito tatuagem maori
Apenas uma cor em traços tribais
Sobre mim
Sob mim
Menções de muitas paixões
Desejos
Insaciabilidades masculinas
Ansiedades por domínios
Subversões de poder
Versos de bela poesia
Versões contraditórias de nossos seus
Calor
Ternura
Cervejas
Frio
Calafrio
E o tua boca despedaçando bala Halls em minha língua
E então outras línguas falo
Falo e calo
Falo, desfalo, falador, fálico
Teus pelos
Teus seios
Cigarros
Sempre o fumo queimando insinuações
E temperando aquele beijo que se encaixa ao meu
Acontece

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Desaprendi a ficar sozinho

A porta bateu
Meu coração parou
Estátua
Morto
Vivo
O teu rosto não sorriu
Uma lágrima rolou
Amarga
Vivo
Morto
Vivo
A pele secou
O fígado desmaiou
Álcool
Vivo
Vivo
A cama engordou
A concha divorciou
Ecos
Morto
Morto
O silêncio pairou
A tevê conversou
Monólogo
Perdi


terça-feira, 2 de outubro de 2012

Nu amor nu e sem poesias

Um amor que
cabe
nu
coração
vale muito mais que
o pão
de cada dia
sim
Um amor
maior
que o meu peito
peita
os meus trejeitos
E cala a fantasia
que
Um amor
descrito em palavras
cagueja
as estradas confundem
os pés das bíblias
e
realiza
o nu do amor que
não
amou poesias