terça-feira, 30 de setembro de 2014

Hoje revi um ex-amor correndo na Lagoa

Talvez eu nunca tivera conhecido a dor da partida se não tivesse hoje te namorado na Lagoa.
Meus olhos te viram com o mesmo sabor dos beijos que nunca demos. Minhas mãos transpiraram os mesmos prazeres que nunca demos. Os Demos retornaram a ser os mesmos demos. As mesmas aflições de nunca ter sido e sempre nunca tido. Sempre no nunca.
Talvez continuaria a contar pra mim as mesmas carochinhas que fantasiavam o teto de meu quarto. Se eu não tivera visto teu corpo penetrar a paisagem de graça e paz da Lagoa eu até não choraria como chove agora.
Um amor mal velado é como vela que apaga e reacende com o vento. E é preciso molhar os dedos que indicam o ponto e pontua o tudo, bem na saliva ácida da boca e tocar as chamas que muitas vezes queimam e deixam marcas. Marque um amor comigo.
Amor mal velado e defunto que cultuamos vivo no arcaico aramaico das preces. Como todos os cemitérios sempre fora do convívio da cidade, mas dela sempre é parte. Parte que fica e parte.
Talvez se eu não tivera te visto hoje correndo na Lagoa eu correria pra te encontrar no anti-horário de teus passos. Um amor que não passou e passou de repente por mim.

sábado, 27 de setembro de 2014

Uns verão de uma andorinha só

Sou criança e choro
de sorrir e gargalhar
a esperança é coro
de quem rir e quer chorar

Sou lembrança e brinco
de pintar o coração
véi que é menino
e se cair
danço no chão

Sou criança e sinto
o que nem sei contar
juro que não minto
é tão simples como o ar

Sou lembrança e digo
uma andorinha faz verão
o céu vai colorindo
atraindo mais irmãos 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Eu não beijo os beijos que beijo

Eu não
Você talvez
De vez e outra
E outra e tal
Vez de eu
Eu de todos
Dos teus e eus
De muitos e poucos
E poucos não
De todos sim
De sim
De menos
Nos mesmo ais
Em cais
Em esmo
Com sais e cios
Sem cia
Com ia
E foi
E vai
E nunca
Em sempre
Quem pressente
Te sente
Ou não
O beijo
Que nunca beijou


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Senti Mentos na boca

Nos vultos de seu olhar
Eu via as lembranças de minha vó esculpida
Entre íris e pupilas salientava pra mim
Que
Todo amor estava fadado a mentir
Por isso me beijou com gosto de Mentos
E eu acreditei
As erupções que salientaram em minha língua
Tatearam o céu
De minha boca
E ela me traiu revelando 
O que eu mesma
Velando o corpo do falecido negava
Eu caí em amor
Vi estrelas em outro céu
Essas estrelinhas não me pontuavam o saber
Eu ainda não sabia jogar o amar
E amamos na primeira pessoa do singular
Pluralidades era o que produzia
Minhas canções
Minhas intenções e tensões cor-de-rosa
As deles
Cor-de-burro quando foge
Todos os homens me lembrariam o falecido
Todo amor estava fadado a mentir
E eu estava remodulando contos de fadas
Sem um conto de réis para pagar pelo meu coração
Penhorei minhas palhaçadas
E fiz de palhaça minha feição
Perdi minha própria casa
A casa própria ao acasalar com paixão de inquilino
Meu ventre
Livre
Eu ventríloquo, falaram por mim
Talvez o próprio coração 
Em desapropriação de si
Aprendi quebrar o nariz do Pinóquio
Administrei a academia de negar
Inventar
Em ventar os sentimentos
Senti Mentos na boca
Soprei e o vento não 
Soprou de volta
Dei a volta
Meia volta
Ventilei antigos medos
E gostos
Desgostos
Esgotos
E no goto prendi e aprendi amar

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Quando broke-upamos o amor

Os meus olhos te negarão
O meu nariz vomitará ao teu cheiro
Minha boca secará ao pronunciarem teu nome
A língua se trançará em tons de braile
Não tocarás mais o meu corpo
O copo
A culpa
Ou copular
Acabou
Ao cabo que
Chamarei-te pelo nome de ex
Extinto e acabado
Pois mal-acabadas eram tuas poses
Renunciaremos aos antigos paladares
Desaprenderemos as antigas coreografias
Dançaremos solitariamente por outras chuvas
Terras rachadas
Corroídas
Corro lapidando em mim as marcas de tuas pegadas
Quero possuir as terras em que habitou
Desconstruir os gozos que voluntariei
Estou
Seguindo em gerúndios os pretéritos passados
O passo que em uva-passas se broke-upeou

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O tal lençol velho e rasgado

A minha tentativa era de tragar cada fumaça daquele sono.
Eu percorria as silhuetas da saliente cama, mas essa transava indecentemente com o lençol velho e rasgado que há uns onze dias não trocava. Está aí uma palavra que nunca vejo em poemas. Onze. O que tem o onze de errado pra ser desprezado pelas buscas de palavras que fazes pra me enganar com teu amor? Tão pequeno, tão doce, maior que dez... Se tivesse, pelo menos, me proporcionado onze prazeres estaria cansada agora e adormeceria na paz desta sala escura onde repousa o meu corpo sobre a cama fria.
Por que não mentisses pra mim, poeta salivante? 
Se perdes nas verdades traiçoeiras e me rouba os sonhos eróticos que latejam minhas pernas e dobraduras. Vocês, senhores poetas se perdem nos sentir e esquecem o amor. Eu, amante, procuro os gostos e desconheço o saciar, alimentar, nutrir, e perco o sono.
Como acordarei amanhã sem as lacunas preenchidas por tuas palavras salpicadas como chuva serôdia de tuas salivas? Quero ser chupada agora por você. Ser sugada como laranja de gomo em gomo por teus lábios rubros que me lembram as almofadas que mamãe distribuía nas poltronas de sua casa. Distribua tua maciez bruta em meus lábios e eles se responsabilizarão de acomodar o teu corpo e pensamentos que não pensará tua cabeça. Lance o teu cérebro em mim. A tua intenção. Tensão. Intento.
Me canse. Me transe. Me farte. Furte o meu calor e frio. Me evapore ou misture o meu labor ao teu. Me faça parte de tua respiração, me tumultue e quando eu encontrar o monstro moribundo que por toda essa madrugada procurei, me cante uma cantiga de ninar, mas me cubra com este mesmo lençol velho e rasgado, cheio de bolinhas e manchas escuras e claras, só pra que a temperatura se concentre nas marcas de minha pele nua. Se sente e centre. E eu amanhã acordarei deliciosamente encharcada.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Esqueci do que iria escrever

O tempo parou
E nesse meio tempo
Fiquei meio que...
Ah, não sei o que queria dizer
Mas disse
Eu confessei o meu mal
E mal tive tempo pra...
Com fé sei...
Não, não sei
Sem tempo fica difícil ficar
Com tempo fica fácil fixar
E eu fissurei o contra-tempo
Não que fosse contra o tempo
Ou o tempo contra mim
Éramos conta-gotas
E de gota em gota desgastamos o gás
Gostamos dos desgostos
Outros nos tornamos
Sem ter 
Sem ter 
Sentido
Não operante
Errante no tom da ópera
Sem tempo pro que antes era dom
Erra o som
O bom da coisa
A tal coisa coisada
O mau coise que opera o com do tempo

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Gozo, peido e paixão

O que buscava era qualquer dor que lembrasse o rosto que me feriu. Qualquer tom, qualquer quer, qualquer qual.
É que chega um momento na paixão que a única verdade que podemos exibir é a mentira. Tiras de fantasias são amarradas aos laços de fidelidade. O engraçado é pensar que nem fiel à mim fui.
Armadilhas brancas são costuradas às estabilidades transitórias. Juras que cobram juros sem correção, mas erros libertinos. Risos são trocados por gargalhadas. Arrotos e peidos amargos por educação fria e cognitiva. As rugas salientam-se como profundos rios que nunca naveguei, nem ri. Águas que nunca fluíram em meu gozo. Gozado imaginar que hoje estamos secos. Ou encharcados de tantos esforços.
Eu morreria hoje se hoje me amasses. Ouvi dizer que era pra sempre o amor e a morte um até breve. Eu te veria outra vez e outra vez haveria o amar.
Se preciso fosse eu iniciaria uma guerra. Silenciaria as batalhas que travo com meus pulmões. Se preciso fosse eu deixaria de precisar. Apenas seria penas. Ar. vento. Calmaria. Mas não seríamos paixão. Caixão.
Eu revi minha mágoas. Cada puta que amei e não pariu a graça.
Se o nosso olhar se cruzasse at least por uma vez mais, descobririam os intentos que tramamos contra os queres. Querer querer não querer mais.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Toda verdade sobre mim é mentira - PARTE II

Hoje vi uma borboleta. Sei que pode não haver absolutamente nada de interessante em começar falando isso. Borboleta. O que são borboletas? Mas me perguntei: quantas vezes vejo uma borboleta na semana? No ano? Na vida? Vejo lagartas em todas formosuras que conheço. 
Poucas coisas têm mudado em minha vida. Meses passados eu mudava de grande amor a cada transa. Trepe, gozei, beijei na boca? Deixei de amar. Agora sinto-me preso ao último adeus que soletrei. E me pergunto se deveria ter me despedido com um "eu te amo". Por que as mulheres querem tanto ouvir isso, caralho? Se ao menos houvesse me pedido antes da transa, seria mais fácil, teria um  motivo, razão e circunstância. Mas de graça? Gratuitamente, pra que mentir? Mas quer saber de uma coisa? Saquei algo. Amor castrado não é como coito interrompido, como costumo dizer. Amor castrado é como amor castrado, não vivido, podado. Não há outros parâmetros de comparação. É foda! Quero dizer, não é... O homem quer fuder. As mulheres querem que os homens se fodam. E assim seguimos o instinto de nos satisfazer. Esquecemos que há uma parte que também gozaria tão igualmente daquele momento. Só momentos...


(AARON e CINDY se encontram na bancada de um bar) 

CINDY - Você tem fumado mais que o normal.

AARON - E você parece muito bem.

CINDY - Obrigada. Fui ao salão hoje. Percebeu. (Risos)

AARON - Tá sozinha?

CINDY - Ninguém nunca tá sozinha a essa hora no Print's... Estou com a tequila.

AARON - Tequila te...

CINDY - Tequila não "me". Tequila "nos". (Vira a tequila e beija ardentemente AARON)

AARON (Rindo surpreso) - Cindy.

CINDY (Levanta o anelar direito para o garçon, indicando outro shot) - Aaron Ford. 

AARON - Eu estava achando que a gente...

CINDY - Achando? (Ri) Eu já encontrei. (Debruça no balcão) Disfarça e olhe pra trás. O moreno alto, forte, cabelos curtos e de camisa azul claro...

AARON - É o Marx.

CINDY - Sabe de uma coisa!? Ele beija bem, muito bem. Pegada, dança, pau, calor... Mas não fuma. E nada melhor que o gosto de tequila e cigarro misturado. (Risos)Tesão! Se importaria de me dar um...? Cigarro.


Sabe quando vem aquela vontade avassaladora de chorar? Dizem que ela nos atinge como um chute bem dado no saco, exatamente no ovo esquerdo - esse dói muito mais, uma dor que persiste, aguda. Eu nunca tive essa vontade. Em toda minha vida, chorei apenas uma vez. Mas não vou falar sobre ela. Eu nunca falo sobre. Nem a menciono. E já mencionei. Sou cercado por muita gente que chora pra se convencer de que sofre. Testificar a dor, carência, perda. Gente que troca atos de piedade e falso amor por mazelas de sofrimento. Valha-me Deus. Apenas observo o jogo que se constrói em volta do querer e o desdenhe. Nega que me quer que te convenço a me querer. Sem paciência pra tamanha brincadeira. Quando eu quero, eu quero mesmo. E quando não me quererem, poucas vezes me faço me quererem. Pra quê? Mas dou corda. Bato palmas pros loucos dançarem. Até que percebam que sou eu o meu querer. Minha masturbação. Meu gozo. Eu ri agora. Ri pra caralho. Porra! Meu antigo terapeuta sempre dizia que eu me desminto a todo momento. Eu continuo dizendo que ele deveria tomar no cu. Terapeuta da porra! Vou levantar agora dessa cama e fumar um baseado. De leve. Verde esperança. Paz! Tranquilidade. Agora estou olhando perdido para o teto. Eu não disse, mas nem sai da cama, o baseado sempre fica nessa caixinha preta com recortes de filmes em PB colados. Coisas que herdei dela. Essa cama... Não havia me dado conta do tanto que era imensa. Sabe quando vem aquela vontade avassaladora de chorar? Então, acho que caiu um cisco no meu olho.

Será que amanhã eu poderia te contar que nunca brochei?


[...CONTINUA...]

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Toda minha verdade é mentira - PARTE I

As pessoas tendem a nos julgar segundo os seus próprios medos e fraquezas. Se não temêssemos tanto os efeitos das drogas, viveríamos todos mergulhados em gostos e cheiros de maconhas ou sintéticos. Drogas não tem esse nome porque não prestam. São drogas porque se fossem doces a julgamento seria em torno de que engordam. Não vou dizer que não estou fazendo apologias, não me sentiria um ponto e vírgula culpado se tuas forças te motivassem ao primeiro teco. Na desculpa, é claro, ter sido sugestionada por mim.
O meu vício foi e é esse senso de liberdade que corrói minhas veias, engano-me a mim no propósito de ser dono de meu nariz e razões. Hipócrita, eu sou. Somos todos escravos de nós mesmos. No anseio de o outro dominar.

(AARON e CINDY sentados lado a lado no sofá bege. O menor do conjunto de três e dois lugares. AARON bebe uísque, fuma e balança as pernas. CINDY enrola os cabelos com os dedos. Ambos olham fixamente pra frente)

AARON - Por que tá chorando?

CINDY - Não sei. Acho que mesmo sabendo que não é você tem uma parte de mim que queria que tivesse sido.

AARON - A gente vai continuar amigo.

CINDY (Roendo a unha do anelar esquerdo) - Não, Aaron. A gente para aqui.

AARON - Por quê?

CINDY - Porque já tem muita parte de mim dentro de você. E eu que dei. Me dei. E já não posso reivindicar.

AARON - Se arrepende...?

CINDY - Eu vivi. E é essa história que vou contar.

AARON - Boa?

CINDY - História.

AARON - Boa?

CINDY - Toda história fica boa um dia. É só esperar.

AARON (Vira todo o uísque) - Eu...

CINDY - Não. (O encara) Você não foi a pessoa que mais amei.

Ando meio assim. Ando meio anão. Ando pela metade. Desando. Talho. Azedo. Avesso. Ando meio talvez. Pra não assumir minha culpa fui incorporando esta mentira no meu diálogo. A mentira de que havia amado. Eu nunca a amei. Desejei. E tive. Penetrei e exorcizei de meus músculos toda sorte de volúpia e paixão. Tendemos confundir o que é ótimo no agora com o que poderia ser bom no pra sempre. Eu só queria o ótimo, perfeito. E acabou. Fui me convencendo de que era verdade o meu conto, afinal, poderia contá-lo mil vezes ou mais. Sou paciente... Assim como esse trago de cigarro que agora dou e não libero. Fumo a fumaça. Essa sim me preenche e dá prazer. Tomo um gole do uísque e umedeço as palavras que nunca a disse e a fumaça sussurrará feito incenso. Lenta. Bailarina. Ladra. Prostituta. E amiga. Mas não era essa exaltação que ansiava o meu deus. Libero-a lentamente. A fumaça. E ela. Torno a tragar. Posso contar essa mentira que criei pra nós pelo resto de nossas vidas, mas ela nunca deixará de ser mentira. Contando e recontando, no máximo, ela passar a ser a nossa realidade. E o REAL nem sempre é o VERDADEIRO. E o verdadeiro é essencial?


quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sobre sintomas de pré-apaixonar

Um nó
fita e embrulha o peito
aperta o estômago
seco
torce a lágrima que cai
para que caia minha cor
e ela não para
macula o meu jeito
torto
magro
eu

torço pela perda
do peito
e deito
esqueço e lembro
o rosto queima
o coração cora e congela a saliva
as mãos acompanham o balanço das pernas
danço agora sem música
eu
e os pensamentos
sobre o peso do travesseiro
travesso e leve
sem razão
sem ação
são os nunca é
é o sempre seria
você

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Um amor-Peter Pan

Sorria pra mim, vai
Desmancha essa cara de bom moço que não me apetece
Revele-me esses teus caninos
Me devore
Deixe-me ser alimento, destino ou caos
Deixe-nos ser o real
O chão
Cama
Mesa 
Ou banho
Perdoe-me, mas desaprendi das polícias formais
Já não tenho tempo para as crases pôr nos is
Ou os pontos nos ais
Eu gosto de problema
Gosto dos lemas que se perdem nos gostos
Dos amores que crescem entre as pernas 
E nos desestruturam ao vento
Dos pés sob as mesas
Do roçar entre umbrais
Gosto de me senti queimar, arder
Apaixonada por infecções urinárias
Dispenso o remédio e tratamento
Amo o tratar em mentiras
Mente
Tiras
Nós
Ou a multidão
Whatever o que sempre tocará


quarta-feira, 30 de abril de 2014

Dancei pelado na chuva

A chuva caiu 
Indecente do orifício liso de minhas janelas
A minha alma silenciou
Os seus rios impetuosos
Eu ouvia Adele que cantava
Músicas de euforia
Enquanto meus poros se dilatavam
O suor
Delatava a frieza 
Do coração de lata em que conservei
Minhas emoções
As mesmas das quais alimentou o seu 
Gozo
Gozado imaginar o gozo que só imaginei
Construção de relação entre punhetas
De carícias
Do peito
Teus olhares confundidos por
Mim
Masturbaram o músculo frágil que bombeia 
Minhas explosões
Senti minha pele queimar
Queimei todos ossos de auto-proteção
Me joguei entre lamaçais de projetos
De novos homens
Nem as mãos delicadas de deus
Me paralisou
Para liso aperto de mão lancei-me
Por amor
De deus
Faz esta chuva acalmar
Dez dedos entrelaçados não fiz
Guarda-chuva
E me encharquei de dor
Do peito fugiu a dor
E consumiu a proteção que finjo
Dancei
Pé lado a lado com 
O medo
Do meu jeito
E sem jeito
Na minha chuva
Pelado

 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Atchim

Terminei dizendo que a tudo entendia
Minei o meu entendimento com respeito à escolhas que me feriam
Eu também assassinei o meu peito
Eu também fiz de nosso gozo coalhadas
No fundo os olhos nos olhos gritavam descobertas
Fomos cúmplices de um mesmo homicídio
Homens insistem em matar
E as mulheres esqueceram que deveriam chorar
Esqueça-me
Coma cascas de queijos e se lembra de mim
Devore os queijos que coalhei
Se alimente dos antigos espasmos
E eu me satisfarei dos gemidos que batem as paredes de casa
Eu já quase te esqueci
Apenas me lembrei de avisar que o frio chegou
Caso não mais sinta os ventos te beliscar
E o resfriado te aquecer
Lembrei de teus espirros
A ti
A ti 
A ti
A ti entrego o cobertor marrom
Eu que nunca menti
Terminei ecoando as mesmas verdades que sempre ouvi

A vodca acabou. Acabou o amor

A vodca acabou
E com ela o amor se destilou
Em sua única gota
Pontuando em pinga-gotas meus risos
Meus lisos
Hoje meus ásperos ranger
Deito-me e entrelaço com as pernas o travesseiro
Fundo o meu sexo a penugens frias
Se casam ao reconhecimento de temperaturas
Que outrora não encontrei
São sombras já vividas
As tuas lembranças
E eu nunca pedi paz
Gostava dos gostos das feridas
Do sangue diluído em salivas
Que suavizavam partidas
Beijou meu cerebelo em nome de outro lençol
Desarrumou minha cama
E nem fio de cabelo deixou 
Pra que eu oferecesse aos meus santos
Bebeu de meu sangue
Ensanguentou meu suor
A vodca acabou
O que oferecerei aos orixás?


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Quando as borboletas partiram deixei de meus dentes escovar

Quando as borboletas partiram deixei de meus dentes escovar
Cavei dez centímetros no chão do apê e me escondi
Fugi das lembranças que estavam nas areias da praia
Escapei das gotas de mijo no chão
Das cuecas atrás da porta do banheiro
Eu sumi
Em suma
Somei minhas dores e não prestei conta
Já pra nada prestava
E nadei naquele conforto do chão
Ali submersa prestava atenção na respiração que falhava
Não temi morrer
Tomei meus calafrios como ternura
Me acariciei do medo
Deve ter sido a dor
Ela somente saberia me adormecer
Ela me devia a proteção
A libertação do casulo de meu interior abandonado
Só pode ter sido a dor
Ela semeou sua beleza em minha pele
Fez brotar feridas como flor
E atraiu as lagartas sem brilho
Que se alimentaram de meus lábios
Me beijaram feito crianças sedentas
E quando borboletas
Partiram
Em partes, partida estou
E quanto aos dentes não tenho o que falar



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Faço de conta que ainda estás aqui

Me situo entre minhas caladas
Não moro em mim
Tenho transado com as palavras que não disse
Entrado pelos foras que gritei
Sou violentado pela companhia de meus travesseiros
Sem cheiro nem suor
Os fios de cabelos assinam os assassinatos que cometi
Pudera eu fugir
Pudera eu transpassar por meus poros
Mas não dava mais para tentar
Estávamos tentados a seguir em paz
Na paz de espírito que contrita a razão
Viagem
Viajei
Eu que no meu amor me apeguei
E nunca peguei o amor
Tenho masturbado o meu coração
Com prazeres que não gozam você
Não transpiram teus ais
Nem perdem teus fôlegos
Fechei-me em mim
Mas deixei a porta entreaberta
Caso você volte, solidão

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Queixas

Deixa eu errar
Deixa eu perder a linha
Um tal frio na espinha
Deixa arriscar

Se eu sambar
Deixa eu sambar na minha
Passo o que não continha
O meu vacilar

Deixa eu morrer de vergonha
Deixa eu rachar tua cara
Deixa eu viver bem putona
Deixa eu viver minha tara

Te deixo com as vergonhas
Te deixo com bela cara
Deixo e não me reponha
Deixa eu viver não me para

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Mulher-macho, sim senhor

Por ti 
eu ponho minha mão no fogo
ponho o meu coração em leilão
nem ligo
eu jogo o teu jogo
sou dessas que não "faz" questão
com paixão

Me pinto
e faço a princesa
se minto, passo à questão de esquecer
não liga
pois tem sobremesa
meu gozo e a tentação de viver

Meu fogo não deixa fumaça
Meus traços nunca deixarão me deixar
Não negues pois sou, sim, desgraça
sou fêmea e me viro macho ao amar


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Boa noite má

Tchau
Feche a porta ao sair
Se der
Tranque as cicatrizes 
Pra que suas dores não chorem
Deixe a minha dor 
Dormir em paz
Vá com o teu nome
Se distraia com as infâncias que escolheu
Saboreia a companhia dos doces que te encolhem
E se passarem dias
Abra a janela ao entrar
Alimentarei a saudades com minhas unhas
E assim não arranharei a tua face
Quando outrora me chamar de amor 
Mentindo pra mim
E destonalizando meus ais
Mente ao meu coração
E apague a luz
Durma bem, amor 
Boa noite

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Eu quero amor e deixar a impureza sair

Por mais que eu tentasse
Ou apenas me protegesse a minha psiqué
Eu estava fadado a morrer de amor
A fuga do destino me levava à caminhos tortuosos
Desfiladeiros íngremes temperados com chuvas serôdias
O chão tinturado à barro deslizava o meu tremor
E minhas forças despencavam montanha à baixo
Eu estava no traçar da trilha da morte
E simultaneamente eu tinha sede por vida
E o que é o viver se não os feixes de um abrir e fechar dos olhos
Não me acordem, nobres senhores
Deixe-me seguir livremente o cumprimento de minha jornada
Deixe-me surgir bruto para minhas emoções
E Ser lapidado pelo inexplicável sabor de ser paixão
Na textura dos tecidos que inflama o amor
Sabe quando você quer chorar e se permite?
Eu quero amar e deixar a impureza sair