terça-feira, 23 de setembro de 2014

O tal lençol velho e rasgado

A minha tentativa era de tragar cada fumaça daquele sono.
Eu percorria as silhuetas da saliente cama, mas essa transava indecentemente com o lençol velho e rasgado que há uns onze dias não trocava. Está aí uma palavra que nunca vejo em poemas. Onze. O que tem o onze de errado pra ser desprezado pelas buscas de palavras que fazes pra me enganar com teu amor? Tão pequeno, tão doce, maior que dez... Se tivesse, pelo menos, me proporcionado onze prazeres estaria cansada agora e adormeceria na paz desta sala escura onde repousa o meu corpo sobre a cama fria.
Por que não mentisses pra mim, poeta salivante? 
Se perdes nas verdades traiçoeiras e me rouba os sonhos eróticos que latejam minhas pernas e dobraduras. Vocês, senhores poetas se perdem nos sentir e esquecem o amor. Eu, amante, procuro os gostos e desconheço o saciar, alimentar, nutrir, e perco o sono.
Como acordarei amanhã sem as lacunas preenchidas por tuas palavras salpicadas como chuva serôdia de tuas salivas? Quero ser chupada agora por você. Ser sugada como laranja de gomo em gomo por teus lábios rubros que me lembram as almofadas que mamãe distribuía nas poltronas de sua casa. Distribua tua maciez bruta em meus lábios e eles se responsabilizarão de acomodar o teu corpo e pensamentos que não pensará tua cabeça. Lance o teu cérebro em mim. A tua intenção. Tensão. Intento.
Me canse. Me transe. Me farte. Furte o meu calor e frio. Me evapore ou misture o meu labor ao teu. Me faça parte de tua respiração, me tumultue e quando eu encontrar o monstro moribundo que por toda essa madrugada procurei, me cante uma cantiga de ninar, mas me cubra com este mesmo lençol velho e rasgado, cheio de bolinhas e manchas escuras e claras, só pra que a temperatura se concentre nas marcas de minha pele nua. Se sente e centre. E eu amanhã acordarei deliciosamente encharcada.


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