terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cheiro da Poema em Janeiro

Não era o cheiro do costureiro alecrim ou da hortelã preta que me fazia sentir ou simplesmente me lembrar de que eram dias de janeiro e eram férias, eram descanso, renovar de belas histórias e eu estava em casa.
Chovia nesta tarde, e o cheiro desta chuva era o mais doce que eu havia provado. Fazia o meu coração salivar de ingênuas emoções. Na tarde de hoje eu sorri entre amigos, brinquei entre irmãos e soube que ser feliz pode ser possível e simples todos os dias, basta esperar a chuva cair novamente e molhar o mesmo coração que no final de dezembro estava seco.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Leite de pedra (Final)

Carolina tinha como hábito repentino, porém já enraizado de fumar depois de suas transas, apenas daquelas que considerava uma boa transa, de verdade, com "t" maiúsculo, com tesão. Procurava no gosto dos cigarros o hálito de sua inocência e virgindade, o gosto do primeiro beijo que se perdia entre o dor da nicotina consumida. Transava com os desconhecidos, mas era com o cigarro que encontrava o sabor agridoce do amor.
Ele sentia o seu orgulho ferido ao se ver tratado como um mísero objeto, mas quantas vezes por ele mulheres foram tratadas assim? A única diferença entre Ernesto e os outros homens, é que este honestamente cria que era diferente. Mas desde quando homem é honesto? Esta era a pergunta que aquele animal arisco esboçava em sua maneira consumista de devorar seus parceiro, dos quais não constituíam parcerias. Os quais não se alimentavam da energia do sexo e morgavam enfraquecidos em sua cama. Mas é claro que isto não seria permitido pela Abelha Rainha.
Num rompante de uma pessoa que matam em suas palmas os mosquitos que as perturbam e bebem do sangue ela o ordenou que de sua casa saísse. Este riu, como se fosse uma bel piada que ouvira. Pegando-o pelo pescoço, como quem de uma cobra quer o veneno extrair, Carol o ordenou com fúria nos olhos transbordados de sangue. Fez das montanhas e vales que minutos atrás preenchiam o cenário de seu gozo, um planalto sem palmeiras ou erosão.
Atrevido como foi na primeira vez que a viu, ele a beijou e os morros se refizeram outra vez e não foi menos íngreme que antes. Mas desta vez houvesse uma avalanche monstruosa de seu cume, uma avalanche de água quente e volumosa. Ouviram som de muitas águas, muito suco, muito gozo. Carol se desfez em pó, sem rumo, sem força, e se refez como fênix das cinzas, mas não houve mais fogo para que a queimasse e Ernesto, houve paz e contato de olhos e mãos.
Carol é pedra fria, é pedra mármore e mãos sem fogo não a aquece, e ela esquece o que foi e se despede sem convites pra voltar. Ela se levantou do chão do corredor à esquerda, voltou a
área de serviço e pôs suas vestes. Penteou os cabelos como um distinta donzela virgem. Olhou-o como se contemplasse um estranho, e ele era. Disse-lhe um obrigado bem sincero, ele entendeu que era a porta a sua próxima estada e logo se prontificou. Se olharam como quem buscasse nos olhos de um e de outro um labareda sequer de faíscas, mas suas pedras já foram molhadas, encharcadas e não se tira fogo de pedra de leite já se derramou.


[Fim}

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Leite de pedra (parte 4)

Cessaram-se as palavras, instauraram-se os diálogos sonoros da pele, o corpo cantava suas sensações e o vulcão se refez dominante mais uma duas, três, quatro e tantas outras vezes! Houve fogo, houve lava. Houve mais uma vez encontro de pedras, como beijos entre placas tectônicas. Quando se há compatibilidade de gostos e generosidades para o encontro, se faz possível fluir leite de pedra e alimentar uma multidão de eunucos.
O enlace de Carolina e Ernesto fazia pedras chorarem suas dores. Uma catarse das hipócritas punições que o bem-comum suscitava em todos nós. Mas Carolina sabia ser arisca, uma égua indomável!
Entre montanhas e vales, Ernesto pediu um pouco de café. Ela sorriu e direcionou a garrafa de prata maciça que aos alcance de seus olhos depositava um café forte e preto passado em coador de pano na manhã do dia passado. Já eram quase quatro horas da manhã e já era outro dia.
Ernesto já se sentia em casa, já criticava os pratos sujos na pia e o uso de uma esponja só, para copos e panelas engorduradas. Era exatamente a personificação do que mais ela temia num homem: se achar o dono do pedaço. Como um cachorro em cruzo ele marcava o seu território. Em mijos de espermas.
Carol. Sim, Carol, já me considero íntimo dessa nobre que eu converso os esqueletos, eu conheço muito mais que suas carnes, mas seus ossos, nervos, e também o coração que insisto crer não ser de pedra. Ela não era como estas mulheres que pra tudo dizem sim. Não era ela serva do "não", era fiel das eventualidades da vida. Carol cultuava a si e suas tripolaridades femininas mensais e calmamente ela levantou, pegou suas vestimentas, mas não as vestiu, gostava de andar em casa tal como o mundo a concebeu, dizia que roupa suja se lava em casa, assim sendo sempre as mesmas estavam por lavar, se sentia honesta consigo mesmo e questionava o que tinha os homens em seu corpo para esconde-los e sacos de vestimentas. Ela pegou na bolsa que usara um cigarro e pôs-se a fumar e conversar seus sentimentos nas fumaças que dançavam no ar, revelando do que transitava em seu pulmão cheio de lacunas e terríveis vazios. Irritado como já se mostrava ele recriminou. Por que fumar depois de tão profundo momento de prazer? Dizia isto, pois sabia que se a perguntasse se ela fuma por que gosta, ela diria que sentia prazer. Todos dizem isto, o prazer do gosto quente nos lábios e o charme do cigarro entre os dedos. No entanto ela disse: -Fumo um cigarro todas as vezes que transo, assim encontro no gosto deste mato queimando o mesmo do primeiro beijo que dei na vida e a primeira vez que me senti mulher, ainda sendo menina. Procuro no gosto do cigarro o hálito de minha inocência e virgindade. Com você eu transo, mas no cigarro, eu amo.
Ernesto sentiu o café descer mais amargo do que no primeiro gole parecia ser. Sentiu as salivas descerem quadradas, pesadas, mas permaneceu calado e tentou um beijo dá-la, mas esta... Ah, como eu disse, esta é como um animal arisco.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Leite de pedra (parte 3)

Eram os dois apenas na área de serviço que compreendia também a cozinha, mas eram no momento, três à ensaiar as projeções como em pegação de fadas contada: Ele, ela e a sonoridade que discrepava a harmonia atual. Peixe morre pela boca, mas foi o que saiu dela que instaurou uma muralha da China em dias de dezembro à março entre os dois. O verbo, que outrora se fez carne, a crucificou abruptamente ao passo que era tão veloz quanto uma tartaruga. A fome outrora indomada deu origem à este inoportuno terceiro ser. O que era somente carne estupidamente ansiou malhar também outros músculos no corpo e não apenas bombear sangue para a descapada cabeça. Em pleno fogo de prazer e excitação homeopatizou em teu ouvido palavras das quais segundo o tempo que insanamente eles se desconheciam não tinham em si graça maior do que serem apenas vazias, diabéticas e mentirosas.
Ao ouvir tais declarações, ela, cerrou os seus lábios como quem quer conter a fúria de um rio em encontro ao mar, águas que não se misturam, que se discutem e acusam. Havia um tráfego livre para que milhões de microscópios seres a refém do Egito conquistasse a sua única morada segura, pelo menos por um certo período de criação de vida, mas ao surgimento do terceiro e intruso ser, viu-se o mar vermelho que antes se separou ao ser impetuosamente tocado pela enorme e viril vara se fechar em rupturas de promessas. E não houve proposta de vida futura.
Eu poderia tecer muitos nós para confundir a tua interpretação da história, mas não, era claro e alvo o que havia ele visto em seus olhos ainda onde dançavam se insinuando na frente dos outros. Com falsetes de cafajestices driblou a armadura de insensível mulher que dançava na noite à procura aparente de uma simples transa e encontrou por entre as cores frias e neutras de seu cartão de visita que contrastava com seu vestido vermelho decotado, não havia algo mais óbvio entre as mulheres que a escolha do sangue para revelar sua volúpia. Ele viu em tuas olhos a mesma fragilidade que via em todas as mulheres, a procura de um grande amor, mas sinto informar, meus caros Insanos, ele se enganou, não em relação à ela apenas, mas à muitas mulheres. Posso até crer que as mulheres de meus avós tenham sucumbido ao sufocar de seus instintos, mas esta que sambava em valsa o seu apetite sabia que poderia ser muito mais que apenas uma perpetuação de herdeiros, mas herdeira de seu próprio gozo.
Aos ouvir as palavras que ele pronunciara, ela enrijeceu suas pupilas que não mais se dilatavam com o fogo que dele aquecia suas pernas. E riu. Novamente riu. Até que gargalhou.
Não esperava ela por príncipe encantado, montado num belo cavalo branco. Ela preferia o cavalo ao príncipe. Preferia a dança que o seu cavalgar a convidava às translações das órbitas de um "papai e mamãe". Ela sabia que poderia ser mulher. E não ser apenas bicho! Ela sabia ser livre, e era livre de si mesma, não era menina escrava de seu pudor ou sentimentalidades moldadas pelo social. Isto me fazia gostar dela, ler isto me fez admirar e respeitá-la. Me perdoem se pareço querer persuadi-los. De longe é minha intenção.
Aquelas ainda eram as poucas palavras que eles haviam trocado. Não haviam tido tempo para isto. Por que falar se uma ação fala mais que mil palavras? Mas também foi válido lembrar que uma palavra é capaz de inoperar ação que mil verbetes não descrevem. Diante do embaraço estabelecido ele dispôs-se ao diálogo e seu nome perguntou. Ela, faceira como sempre, de vermelho nos rosto como denúncia de cansaço e suor, mas ainda muito vívida e disposta, sussurrou quase inaudível e rouca: Carolina.
O estúpido, logo tratou-se de chamar-lhe pelo apelido Carol. Mas esta o censurou, afinal, Carol era só para os íntimos. E o que era o rapaz com quem ela se atracou violentamente e agora se deitava entre as roupas sujas de sua área de serviço? Este era apenas uma transa, uma boa foda, um calor compartilhado. Para ela isto que era a definição perfeita do que acontecia entre os dois corpos que os históricos das marcas dos choros e risos desconheciam, um calor compartilhado, justo e honestamente dividido entre si. Uma transa sem sexo, não tinha amor, não tinha paixão, era apenas prazer. Tímido, mas ousado, paradoxal, ele disse: Muito prazer, doce Carolina. Ernesto Muracho, ao seu dispor! Cessaram-se as palavras, instauraram-se os diálogos sonoros da pele e o vulcão se refez dominante mais uma duas, três, quatro e tantas vezes!

[CONTINUA...]

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Leite de pedra (parte 2)

A temperatura dos cômodos estreitos daquele apartamento à beira mar se prescreveu apimentada, quente, altamente quente!O sofá foi cama, cama foi mesa, teto foi piso, parede foi chão e caminhadas animalescas desenharam rastros de fúria no chão dos que apetitosamente caminhavam sem chão e sim, flutuavam nas nuvens que se formavam da condensação de seu libido produzido na pele.
Pareciam dois cachorros o cio. Pareciam dois animais que desconheciam a compostura e os bons modos. Se bem que de um modo ou de outro, não somos muito diferentes dos animais. Que raça temos nós? Que animal enjaulamos por entre nossa pele e ossos? Eis um animal que se dependesse deles não entrariam nas listas mundiais de extinção: a carne. Esta não era fraca, mas forte e bem tratada.
Entre pronúncias de carícias e amasso aconteceu um tapa. No rosto. Forte! Seco! Chegou como um antagonista que rouba a cena. Chegou em cena em cantos de ópera e na cadência do funk ela sussurrou, bem baixinho: Se fosse pra ter carinho, eu correria para o colo de meu pai. E se for pra ser homem, que seja em caps lock. Ele entendeu o que pulsava alvo das entrelinhas e uma batalha de Mc's começou. Só canela. Só canela. De só canela preencheu o ar, quente e afrodisíaco.
Eu já havia dito outrora, que pedras quando se chocam se aquecem, queimam e seus estilhaços ferem e machucam quem as rodeiam. Basta olhar a casa como ficou, reduzida ao pó, abalada e sacudida. E a vizinhança? Estes se constrangiam, como criança que espera Papai Noel o ano inteiro, na esperança desbotada em amarelo ferrugem, de um brinquedo e é exatamente o que ganham, brinquedos e animações de fantasias. Ela não, sabia ser jovem e inocente, mas vivia dos supra sumo de suas realidades. Não, ela não tinha fantasias, mas fantasia o real e dá realeza ao gozo da vida e foram uma, duas, três e outras vezes mais. Até que de repente, o som mais esperado por todas as mulheres ouviu, mas este brochou o sua atmosfera e fez da fantasia ilusão indesejada. Eram os dois apenas na área de serviço que compreendia a cozinha, mas eram no momento três à ensaiar as projeções como em pegação de fadas contado: Ele, ela e a sonoridade que discrepava a harmonia atual.


[CONTINUA...]

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Leite de pedra (parte 1)

Aquela noite prometia ser uma noite digamos que ousada! Ou, apimentada, quente, altamente quente! Muito louca!
Ela já saiu de casa no instinto "hoje viverei como se não houvesse amanhã". E há quem diga, que devemos mentalizar o que ansiamos e então surpresas podem acontecer. E assim foi.
Ela, menina travessa ao som de Naughty girl, dançou, encantou, atraiu o calor pra si e manisfestou no salão um atrevido perfume que ardia em seu suor. Era impossível não se ater em seus movimentos os desejos que corroíam o íntimo desenhado em formatos geométricos questionáveis. Daquele mato não sairia coelhos, mas abrigaria adestradamente venenos de uma cobra astuta. Sim, haveria de ter nobreza e astúcia para driblar os seus famintos lábios que cantavam grosserias entre as salivas produzidas em sua vontade de professar o seu credo. E houve. Teve quem se digladiasse por seu corpo, mas houve um outro que virilmente se encantou por algo que todos não viram.
Quando este invadiu sua visão ela se atrapalhou em meio ao seu encanto e coreografia. Sabia que seus olhos denunciavam que algo a fragilizava a dança. Mas este foi sublime e delicado, como em tempos não via, se encontrou com um cavalheirismo que a comovia o espírito. Ela sabia ser mulher, mas desconhecia-se menina. Entre relutâncias adolescentes se entregou num primeiro beijo. Não sei se você alguma vez na vida já viu duas pedras fortemente se chocarem, uma com a outra feroz. Este encontro produziu faíscas, e logo incendiou num cubículo entre escadas que interligava curiosos e constrangidos. Pedras quando se chocam se aquecem, queimam e seus estilhaços ferem e machucam quem as rodeiam. Estas tais, foram marcados pela pancada de desejar ser muitos menores que si, serem moscas, formigas e se deliciarem ao assistir os pedregulhos se triturarem e produzirem rios. Sim, há quem tem a maestria de tirar leite de pedra!
Cambaleando e se esbarrando entre degraus e maçanetas foram se perdendo ao encontro do caminho de casa e entre muitas quatro paredes uma destruição pode acontecer. E houve fogo e dilúvio. Houve montanhas e planaltos, houve vale. Houve valer de tudo, houve tudo valer de nada e as descobertas de si, de encaixes de beijos, de aberturas se salientarem. Houve cola na escola. Repetição de série. Houve quem ouviu a quilômetros de distâncias os uivos de suas cantorias. Houve gozo! Na verdade, gozos!


[ CONTINUA...]

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Cama, Mesa e Destino (trecho)

(...)

- Os teus seios...
- (risos tímidos) O que tem os meus seios?
- Deixe-me ver. São como o Corcovado, imperam impetuosos sobre o teu corpo. Sustentam-me como o Cristo em meu gozo. Tenho gozo só em desfilar os meus olhos em teu corpo nu.
- (tocando delicadamente a face dele) Você tem o dom de ser feliz, apenas por que ainda consegue ver o simples e fantasiar aventuras e belezas...
- Não, eu tenho o dom de ser agraciado. E da graça que suspiro a felicidade. Eu não merecia da vida tamanha dádiva, eu não merecia da vida o presente de tocar você, mais macia que as orquídeas mais nobres de meu pai. O teu cheiro. Eu estou completamente apaixonado por você. Estou besta. O que seriam destes meus dias se não houvesse encontrado contigo? O que seriam de meus risos?
- Você sorriria, mas seriam de outras piadas da vida.
- Elas não teriam a mesma graça.
- Por que você demorou para aparecer em mim?
- Estava ocupado com outros sofrimentos. Mas cada um deles que me atraíram pra ti, assim como o Corcovado rouba os nossos olhos aqui na Zona Sul. Letícia, eu posso não ter sido feito pra você, mas foi você que o universo conspirou pra mim. Acho que pela primeira vez o destino se rebelou contra o seu próprio destino traçado, apenas para permitir que nós dois nos encontrássemos. Até ele mesmo sabia que só bastaria um olhar. E depois do primeiro, eu nunca tiraria os olhos de você.
- Você é um poeta!
- Não, hoje eu sou um amante e as minhas poesias são apenas faíscas de meu amor.

(...)

Um amor que desconheço

Conhecerias tu o fim de um amor?
Conhecerias tu a porção do ressurgir?
Conhecerias tu o início de um dor?
Se sim, conhecestes tu o sucumbir

Amei com minhas vestes e corpo
Amei em festival e funerais
Amei com minhas virtudes e sopros
Despedi-me em ternuras desleais

Conhecerias tu a dor de meu peito?
Conhecerias tu a paz que sonhei?
Conhecerias tu o singelo desprezo?
Se sim, conheces tu o que neguei

Amei com minhas vísceras e mente
Amei em declarações banais
Amei com minhas paixões descrentes
Eternizei-me em venturas reais

Como é grande o meu amor por você

Num único grito de silêncio ordenei que as duas prostitutas que fantasiavam a minha casa fossem embora. Num desesperado calar de minha dor revelei à mim a fragilidade que me corroía a alma. Eu chorei mais uma noite na lembrança de você. Eram elas que me restariam quando o nosso, ou meu amor se fosse com o esticar do tempo infiel, sem cheiro de jasmim, alegrim, ou Acquas de Gió.
Eu me lembro muito bem de Cauby que outrora cantara Conceição, agora fazia dos falsetes de "Como é grande o meu amor por você" a trilha sonora de minha despedida de mim, no meu mim que se tumultuou na esperança de você suspirando o nós, a sós.
E ainda vieram me lembrar do amor. Me falavam como se tivesse eu que esperar que aquelas sementes florescessem em ternuras e paixões. Mas eu sabia que você tinha a si, e isto te bastava. Tua beleza te sucumbia em você e eram as minhas sutilezas apenas bocados de faíscas ou cócegas de íntimo penar. Você tinha o mundo, tinha a vida e tem o calor de ser nobre. Teve o meu amor, teve meu fogo, e tem minha paixão. Foi o maior amor de toda minha pequena longa vida, foi o meu conto desencantado, com príncipe e sem reino real, como bobo-da-côrte e sem bruxas, das quais fiz eu mesmo o ministério e magia. Hoje não temos a nós, mas temos toda uma vida pela frente e nesta outros amores acontecerão e são neles que encontrarei você, mesmo ainda na dúvida se terei a mim. Ainda tenho paixão para toda uma vida.
Te amo, embora ensaia que nunca descobri o sentido de amar, mas amanhã, ah, amanhã vai ser outro dia e serás apenas uma paixonite que passou e tampouco calafrios deixou,tampouco sequelas. Te amo e hoje digo num apaixonado adeus!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Era uma vez

Eu sonhei acordado com você
Pensei ser o rei do mundo
Fiz bolhas de sabão pra te envolver
Tatuei você nos muros
Das cidades a circundar
Dos meus sonhos você foi o acordar
Fantasias bobas desenhei pra mim assim
Só você e eu em mim eu em ti

Desbotei o arco-íris que pintou
Te cobri de todo o ouro
No meu reino você foi quem reinou
Só em ti encontrei tesouro
Desbravei a mata a virgem por você
Semeei canções no sopro do luar
Atrai você pro conto de nós dois
Deixo o era uma vez para depois

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Laisa Muniz

Era uma poesia com nome e sobrenome que eu ensaiava esculpir neste fim de tarde de segunda-feira. Era a beleza das simplicidades dela que eu almejava roubar em minhas lembranças e fundir nesta singela composição de papel virtual. Mesmo à 300 quilômetros de distância, conseguia em minha pele sentir o cheiro de seu perfume e o calor de sua delicadeza feminina.
Seria estúpido pensar que caracteres de um teclado conseguiriam soletrar a sonoridade de tua voz doce, tão doce quanto as mesmas palavras que ela projetava no ar e se propagavam nos confins do universo. Ela era menina demais para ser mulher tocada por carícias momentâneas. Ela tinha o dom sacerdotal de ser aclamada para a eternidade, e era o instante presente o eterno. Era o momento que não volta o seu gozo, o seu riso, a sua graça.
Olha o que o amor me faz! Me leva a tontear-me em meus próprios conceitos de beleza e em soberba tentar relatar sua descrição. Ela era inenarrável e eu queria contá-la em meus versos. Não, a sua beleza é ímpar. Ou existe ela, ou existe ele, o meu poema. Ela e ele, já que não se culmina eu e ela.
Em acorde de lá maior fui construindo a partitura de tua canção, Laisa. Em dissonantes desconhecidas fui atraindo o canto das deusas que ministram as ondas do mar só pra trazer pro meu poema um tom de imensidão e beleza inexplicável. Assim como o mar que seduz e afoga, que seja o teu poema um mistério que se resume em amor. Que sejam as suas palavras as sonoridades humildes que cantam solenemente Laisa Muniz.

Unfollow

Eu precisei desenhar pra mim as profundidades das rasuras que teu unfollow me assinou. Todavia eu não chorei, embora sentia que minhas pupilas estavam ilhadas, como cidadelas neste verão de janeiro. Mas o verão não mais aquecia teu nome, nem me chamava para o teu mar calmo e belo. Este verão inundava minhas saudades, num banho de água fria e seca.
Era muito mais que um jogo social, foi de minha casa aberta e meu mundo transparente que fantasiei nossa realidade virtual, como num cartaz de uma peça qualquer. Eu senti a confirmação desta exclusão sangrar uma dor estranha em mim, mas eram de risos que eu respondia. Eu confiei em você, e só agora vi que me permitir de fato ser eu e entregue. Vulnerabilizado pela simplicidade que tua idade me comunicava.
Meu Deus, como podemos ser tão imundos simplesmente por amar?
Talvez fosse pelo erro de amar quem de mim não era próprio, mas apenas um produto que me vendia sensibilidades e talento. Eu me envolvi no esquecimento de que onde se ganha o pão, não se come o beijo. Errei por dedicar a minha ingenuidade e beleza.
Caramba, como me sinto pequeno e inválido agora. Como me sinto um nada. Como me sinto sem cinto, sem segurança ao encontro do colapso de tuas mãos que assinaram disfarçadamente o delete.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

2 minutos e 11 segundos

Demorou-se uma toda eternidade para que o Divino generosamente estabelecesse o seu projeto de amor e graça entre nós na pessoa de Jesus, porém foi num sorriso que dispensa todas as acusações que o profeta em dois minutos e onze segundos se desfez da parte de sua carne e corpo. Num boa tarde singelo e um caloroso riso maroto vi suas genialidades reveladas nas copas grisalhas assinar em minha rubrica a anulação do único projeto que sinceramente suspirei sequencialidades. Embora não fora minha rubrica que assinou por mim, mas o extenso de minhas emoções trêmulas e frustadas.
Eu lia a sua carta como um exame que acusava minhas células dos maiores demônios impuros. Como se eu fosse parte de um corpo o qual putrificava, maculava a honra. Logo eu que só quis amar e viver verdades! Eu era como um câncer, mas eu sou taurino. Não podiam me tatuar a culpa que o Cristo já levara por mim. Sim, no fundo eu sabia que já era livre!
Eu lia naquele papel branco, tão frio como minha face pálida e embranquecida: "Não deixemos de reunir-nos como corpo, como é costume de alguns..." E então estupidamente imaginava ao ver minha mão caminhando léguas sem os meu tronco, que Deus deveria ter muitos corações para habitar aqui e desconhecidamente ali. Não riem, sei que fui idiota: o coração de Deus não está em parte aqui ou ali, mas misteriosamente, pela fé, esperança e muito amor, nos uni aqui, ali ou mesmo acolá.
Em dois minutos e onze segundos de conversa silenciosa e muda gravada eu me via fora da Central. E não era da Central do Brasil. Era fora da estação que não me libertava em mim. Me paralisava numa órbita sem frequência audível. Eu não ouvia a minha voz. Não sentia o meu tato, nem as lágrimas que orgulhosamente se recusaram a descer e então escrever em meu rosto, não mais ingênuo, a minha dor. Sim, sinto até agora um rio de gritos represados em meus olhos e choros silenciados em meu peito.
Meu Deus, se é que ainda tenho o direito de assim te chamar, será que cometi o pecado de deixar de amar e crer? Mas honestamente ainda sinto o teu calor em mim. Vejo tua graça nos meus dias e são os teus estatutos que me sustentam. Oh, meu Deus, como eu queria ter visto amor, simplesmente para que eu pudesse me arrepender de simplesmente ser.
Em dois minutos e onze segundos me vi cadastrado em um outro grupo, gueto, ou como queiram chamar, corpo. Livre? Justo? Ah, não me façam perguntas difíceis agora. Vá saber o que sentiu Jesus na cruz, não é? Livre? Justo? Enfim, creio que de amor se alimentava e exalava. E estas coisas de amor não se explica, se ama e ponto. E foi assim, uma assinatura e um ponto final. De corpo orgânico e espiritual, me consagrei uma assinatura sócio-comercial, em nome do pai, do filho e do dízimo "santo".