quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Leite de pedra (parte 3)

Eram os dois apenas na área de serviço que compreendia também a cozinha, mas eram no momento, três à ensaiar as projeções como em pegação de fadas contada: Ele, ela e a sonoridade que discrepava a harmonia atual. Peixe morre pela boca, mas foi o que saiu dela que instaurou uma muralha da China em dias de dezembro à março entre os dois. O verbo, que outrora se fez carne, a crucificou abruptamente ao passo que era tão veloz quanto uma tartaruga. A fome outrora indomada deu origem à este inoportuno terceiro ser. O que era somente carne estupidamente ansiou malhar também outros músculos no corpo e não apenas bombear sangue para a descapada cabeça. Em pleno fogo de prazer e excitação homeopatizou em teu ouvido palavras das quais segundo o tempo que insanamente eles se desconheciam não tinham em si graça maior do que serem apenas vazias, diabéticas e mentirosas.
Ao ouvir tais declarações, ela, cerrou os seus lábios como quem quer conter a fúria de um rio em encontro ao mar, águas que não se misturam, que se discutem e acusam. Havia um tráfego livre para que milhões de microscópios seres a refém do Egito conquistasse a sua única morada segura, pelo menos por um certo período de criação de vida, mas ao surgimento do terceiro e intruso ser, viu-se o mar vermelho que antes se separou ao ser impetuosamente tocado pela enorme e viril vara se fechar em rupturas de promessas. E não houve proposta de vida futura.
Eu poderia tecer muitos nós para confundir a tua interpretação da história, mas não, era claro e alvo o que havia ele visto em seus olhos ainda onde dançavam se insinuando na frente dos outros. Com falsetes de cafajestices driblou a armadura de insensível mulher que dançava na noite à procura aparente de uma simples transa e encontrou por entre as cores frias e neutras de seu cartão de visita que contrastava com seu vestido vermelho decotado, não havia algo mais óbvio entre as mulheres que a escolha do sangue para revelar sua volúpia. Ele viu em tuas olhos a mesma fragilidade que via em todas as mulheres, a procura de um grande amor, mas sinto informar, meus caros Insanos, ele se enganou, não em relação à ela apenas, mas à muitas mulheres. Posso até crer que as mulheres de meus avós tenham sucumbido ao sufocar de seus instintos, mas esta que sambava em valsa o seu apetite sabia que poderia ser muito mais que apenas uma perpetuação de herdeiros, mas herdeira de seu próprio gozo.
Aos ouvir as palavras que ele pronunciara, ela enrijeceu suas pupilas que não mais se dilatavam com o fogo que dele aquecia suas pernas. E riu. Novamente riu. Até que gargalhou.
Não esperava ela por príncipe encantado, montado num belo cavalo branco. Ela preferia o cavalo ao príncipe. Preferia a dança que o seu cavalgar a convidava às translações das órbitas de um "papai e mamãe". Ela sabia que poderia ser mulher. E não ser apenas bicho! Ela sabia ser livre, e era livre de si mesma, não era menina escrava de seu pudor ou sentimentalidades moldadas pelo social. Isto me fazia gostar dela, ler isto me fez admirar e respeitá-la. Me perdoem se pareço querer persuadi-los. De longe é minha intenção.
Aquelas ainda eram as poucas palavras que eles haviam trocado. Não haviam tido tempo para isto. Por que falar se uma ação fala mais que mil palavras? Mas também foi válido lembrar que uma palavra é capaz de inoperar ação que mil verbetes não descrevem. Diante do embaraço estabelecido ele dispôs-se ao diálogo e seu nome perguntou. Ela, faceira como sempre, de vermelho nos rosto como denúncia de cansaço e suor, mas ainda muito vívida e disposta, sussurrou quase inaudível e rouca: Carolina.
O estúpido, logo tratou-se de chamar-lhe pelo apelido Carol. Mas esta o censurou, afinal, Carol era só para os íntimos. E o que era o rapaz com quem ela se atracou violentamente e agora se deitava entre as roupas sujas de sua área de serviço? Este era apenas uma transa, uma boa foda, um calor compartilhado. Para ela isto que era a definição perfeita do que acontecia entre os dois corpos que os históricos das marcas dos choros e risos desconheciam, um calor compartilhado, justo e honestamente dividido entre si. Uma transa sem sexo, não tinha amor, não tinha paixão, era apenas prazer. Tímido, mas ousado, paradoxal, ele disse: Muito prazer, doce Carolina. Ernesto Muracho, ao seu dispor! Cessaram-se as palavras, instauraram-se os diálogos sonoros da pele e o vulcão se refez dominante mais uma duas, três, quatro e tantas vezes!

[CONTINUA...]

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