quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dias e Noites

Hoje o meu céu amanhaceu estrelado.
Um brilho diferente e constante iluminava a escuridão de meu dia, dissipando as nuvens carregadas de chuvas e tempestade.
Hoje minha noite está iluminada a raios de sol. Paradoxal, peculiar e romântica. Uma noite mágica, uma noite simples, uma noite iluminada pelo brilho dos olhos teus...


[CONTINUA...]

terça-feira, 28 de setembro de 2010

You got me totally confused

Incrível o dom que tens de mudar a estação de meu dia. Faz-me transcorrer do inverno à primavera num sorriso tímido que esboça pra mim.
Queria poder te dizer não te amo, queria poder poder não querer, queria poder te ver como um simples amo, porém hoje apenas sei querer te querer.
Incrível o dom que tens de mudar a estação de meu dia. Faz-me retrosceder da primavera ao inverno num sorriso tímido que esboça pra mim.
You got me totally confused!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Madrugadas em insônia

Mais uma noite mal-dormida. Mais uma madrugada em insônia. Eu acordei, controvérsias e pra mim mesmo disse que precisava de um amigo, porém o meu apartamento já estava vazio, embora ouvia os murmúrios da segunda-feira que feroz se iniciava nas ruas da Gávea.
São 7h da manhã e daqui a pouco me encontrarei na faculdade, fingindo com bela máscara tudo está bem e tranqüilo, gargalhando, sorrindo e imitando intelectualidades.
O que sinto e me perturba o sono é manifesto de maneira bem peculiar de minhas outras complexidades psíquicas, pois me confronta à obrigação instantânea de posicionamento. Mas eu não sou miojo.
Por um instante tive a certeza de estar sozinho, solipsista, até que senti e ouvi uma respiração conhecida, mas esquecida nos pertences antigos deixados em São Fidélis, se bem que na verdade nem sei se por lá deixei...
Ela porém falava com a mesma paz, carinho e até amor, isto fez mananciais de águas vivas brotarem impetuosos em meus olhos. Essas águas me lavaram a alma e fizeram inevitavelmente ressurgirem uma sede incomunal que tempos não me secara.
Isto me retornou à um amor antigo, amigo, primeiro. Eu não estou sozinho, eu também tenho uma alguém.
Bom dia!

sábado, 25 de setembro de 2010

Amor por amar amar

Existem amores que passam pelo coração
Uns que nunca por lá perto passam,
Passam quilômetros distantes de sentimentalismos
Existem amores que nascem exatamente no lugar da razão
Roubando o senso, o tino, a sobriedade
Conduzindo-nos a prazeres e prezares
Alguns amores falam de amor
Falam de si mesmo,
De simplicidades, verdades, ternuras
Como também amores que só traduz dores
Murcham as flores
E ainda assim disfarçam odores
Odores das mortes de outros amores
Os amores vêm e vão
E não se cansam de retornar
Nos trair
Abstrair
Retrair o miocárdio
Existem amores que colorem os olhos com todas as cores
Mas existem belezas em amores preto e branco
Amores com o branco no preto,
Amores esclarecidos
Mas que ainda conservam as sombras das inseguranças que nos comunicam as paixões
Existem amores que de nada amor tem a vista
Mas de tudo amor é constituído por dentro
E se revela nas naturalidades do cotidiano
Existem amores que se passam com o cotidiano
Amores que se iniciam constantemente
Amores que mentem
Amores que sentem
Amores quentes
Que passam pelo corpo
E se saciam de gozo, fogo
Amores loucos
Amores
Existem amores como o meu
Amor que é simples amor
E por isto ama
E inflama por paixão
Declama ilusão
Derrama o coração
Amor por amar amar.

Dias e dias

Tem dias que amo
Outros odeio, grito , judio
Tem alguns em que meu nome é paz e tranqüilidade
Mas eu sua maioria são dias de revoltas e rebeliões
Tem dias que sou homem apenas
Momentos feminino, criança, menino
Ainda existem dias que nem sei o que sou
Tenho medo, coragem, tenho força
Fraqueza, debilidades, saudades
Tem dias que quero,
Outros rejeito e me irrito
Tem dias que almoço, janto
Outros vivo de dietas e emagreço o humor
Tem dias que nem dias são e já me canso
Têm segundos que penso
Outros que pensam e decidem por mim
Tem momentos que lamento
Sofro, sangro, sambo em minha avenida
Ave Maria, tem dias que caminhos léguas
Outros nem da cama saio
Na verdade tem dias que gostaria de ter pessoas em minha cama
Uma, duas, três, isto é claro, depende de meu humor
Sou de lua, sou de sol, estou em nuvens
Tem dias que credito, acredito, venero
Tem dias que duvido, questiono, maculo, mesmo acreditando
Tem dias que sou eu, sou meu, sou louco
Alguns outros perambulo
Pulo
Fujo
Corro
E recomeço outra vez
Em dias que como todos os outros sou apenas humano.

A pact

You’re here in me
But I’m feeling alone
My heart’s melting a way
With the hard day
The time has gone
We can do a pact just for this night
Yep, there’s no trouble
Even you wake up with me
And after I’ll set you free
With everything you gave me at night
But just let some memories
Let’s play being actors
'cause the lie becomes the truth

If my love had wings I’d fly where you are
But my love just have a heart to give you
It’s up to you
To make or not the best of our love’s story
I’m here… but I can be there
Where you are

Full

Fill my heart with the best your part
Doesn’t matter if you’re not great
We can be better together
I just wanna try to be full

Full of love
Full of me
Full of you
Full

If we don’t have dreams
We can take the clouds and dream way
If we don’t have time
We can stop the sun at twelve noon
If we don’t have passion
We can look at the moon
If you don’t have yourself to give
Don’t be upset,
‘cause I can give you all of me
I wanna hug you so much
There isn’t anything else to compare
I already miss your touch
And I cannot bear to live

Full of love
Full of me
Full of you
Full.

Aridez

Eu anoiteço e amanheço você
E desconheço os reais sentidos de suas ações
Transpiro e expiro você
E espirro alergias contraídas de emoções
Acabo me acabando de acabar
Na palavra do profeta de que o amor liberta
Porém em mim é palavra que aprisiona
Vida de quem se apaixona
E vive inválido
No meu árido
Sertão.
Eu anoiteço e amanheço você
E reconheço minhas olheiras
Voto com voto de devoto que crê
E volto seco tropeçando pelas ladeiras
À caminho inválido
Caminho ao meu árido
Coração.

Pela culatra

A maior dor em amar não é não ser amado, mas não ter nos ímpetos das imcompreenssões ou ira o dom de ferir profundo o amo, em seu exercício soberano de indiferenças.
Mas não seria o amor a real liberação de não ser amado?
Por que amor sem o eco de paixões?
Por que um coração sem sangue quente e vivo em suas cidadelas?
A maior dor em amar não é não ter o dom de ferir o amo, mas ferir à si mesmo em tentativas de assassinato do que move a paixão, mas que sai na culatra de suicídio.
Queria não acreditar em ressurreições e suscitar tua ira.

Tempos verbais da paixão

A vida é uma questão de contra-nomes... Eu amava Você que amava Ele que amando todos os pronomes na realidade não amará ninguém.
Eu amava Você no pretérito imperfeito no indicativo do presente. Você amava Ele no perfeito temporal e na imperfeição de tua meninice. Ele, pois amou num comum de todos os gêneros nas circuntâncias do condicional.
Você é uma questão de mais-que-perfeito. Isto eu queriria se não soubesse que és um futuro pretérito.

In English or em português

Revertérios de conceitos e pensamentos confusos numa mente que vaga em alfa entre frases in English and another things in Português.
I don't know why I know everything and não sei nada...
I'd like to catch meu pensamento, mas he goes away from me. Yep, I'm talking about him, not its.... Eu estou in a turnabout!
The life nos infantiliza para just to let us viver na íntegra feelings que a racionalidade da maturidade nos rouba. Fall in love isn't a good coisa para se permitir, but the life nos engana e caímos literalmente em amor.
Mas eu já estou crescendo once again. I'll be melhor!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Segundo olhar

Não tenho razão ao cobrar de ti as concretizações das expectativas infantis que eu somente projetei em tuas generosidades de um bom amigo.
Fui eu mesmo quem escolheu se perder neste ninho de defraudações insinuantes. Já sabia que este seria meu mal, mas escolhi.
Escolhi projetar você como rei de um reino que a ti não inspirava poder, tesouro, tampouco admiração. Prepotências de um arrogante!
Escolhi priorizar você e assim estabelecer dívidas, das quais cobraria com exorbitantes juros ao longo dos dias, dos meses, dos anos. Maquinei, de princípio, te tornar devedor dependente, um escravo de mim.
Escolhi te ensinar à escolher, mas questiono-me em minha real motivação, no medo de encontrar nestas revelações os sinais de que almejei na verdade te manipular, só por um segundo e assim seria todo o tempo do mundo. Queria eu te perder de teu mundo?
Não foi você, meu bem, quem escolheu me ver, mas fui eu quem arquitetou o segundo olhar na busca de teus olhos, mas não os encontrei. Não pousaram em mim.
Programei a música incidental deste encontro, havia trilha sonora nossos momentos e eles posso chamar de nossos, foram reais, nos sentidos nobre e factual.
Dançei sozinho a nossa música, a minha música. Tirei, num monólogo, meus pés do chão numa pauta coreográfica ensaiada pra dois. Pas de deux de solidão!
Escolhi escolher você, encolhi à mim. E hoje me paraliso, na encolha, para não escolher à mim.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Fragmentos

[...] Dependência ou morte!
Este precisa ser o grito da dor de meu coração
Que sangra diante da perda da liberdade
Liberdade de vida, de escolha, expressão,
Escravizado por suas próprias vontades egoístas,
Aprisionado pelo medo, pela fraqueza, pela vergonha;
De se expor como perdedor, como fracassado.
Diante de uma fé que me deixa morto ou aleijado
Torna-me deficiente espiritual, físico, emocional.
Sinto minhas pernas atrofiarem,
Meu rosto empalidecer,
Minhas pupilas não se dilatarem mais,
O meu coração ensaia não mais bater,
Nem arrepios frios me arrebatam o corpo.
Estou falecido, moribundo, morto,
À caminho do cemitério que adormece minha mente.
À caminho com a dor que me paralisa de repente
À caminho, caminho caindo.
Caindo, tropeçando, mas do chão não passo.
Caminho cantando
Caminho vendo flor
À caminho do caminho.
Que nem sei onde me levará.
Sou pecador, sou errante, sou menino.
Levanto e caio, mas não me envergonho,
Eu prossigo.
Eu sigo,
Comigo, contigo ou “sem tigo”.
Eu vou!

Eu vou, mas...

Que dor,
Que dor invade o meu peito.
Que dor corta o meu peito com um punhal
Que dor corta minha respiração,
Que dor!
A dor me pegou de surpresa
A dor me pegou e me arrebatou!
A dor me tocaiou,
Seguiu-me de noite e dia
De dia e noite
E no meu peito morou.

Às vezes no Brasil é sempre noite

Uma criança que dorme embriagada de sonho
Um sonho que dorme embriagado pela desesperança de um amanhecer
Às vezes no Brasil é sempre noite
Noite fria e escura, de silêncio cortado pelo ruivo dos lobos
Lobos ferozes que sentinelam as florestas
Mas florestas sem flores, sem caules, sem verdes
Florestas de concreto que arranham o céu cinzento.
Cinza, a cor da estação
Estação de inverno rigoroso num país tropical.
Cinza, a cor do coração
Coração de um povo nobre de um país tropical
Hoje o verde não é a mata
O verde mata, como erva daninha
Hoje o verde não é a mata
A mata são cinzas oriundas das queimadas
Hoje queimada está minha pele
Castigada pelo sol inflamado a ódio, dor e rancor
Como resposta fria da natureza
Ao homem nobre e tropical, mas sem calor
Hoje o amarelo não é o ouro, as riquezas , o penhor
Hoje mais amarela está a raça que o branco explorou
Entre uma nação que não se fundiu, mas miscigenou
Hoje o azul não são as águas, os rios, ribeiros, riachos
Os rios estão negros, pretos
Preto, ausência de cor, ausência de água
Preto presença de odor, lixo, “cácas”
Hoje o branco não é a paz
De uma nação de desordem e desprogresso
Pois preso nas quatro paredes de meu quarto
Vejo um mundo quadrado de minha janela
Regado à chuva de bala
Ah! Não é a bala tipo doce, açucares
Pois a criança despertou do sonho e cresceu
Embriagada de um pesadelo
Mas o sonho ainda dorme embriagado pela esperança de um amanhecer
Às vezes no Brasil é sempre noite...
Ei, por favor, que horas são?

São Fidélis

Minha cidade tem sol, tem rios, cachoeiras
Minha cidade tem mangas, tamarindos, tem palmeiras
São Fidélis tem praça, tem ponte, tem luar
São Fidélis tem morros e verdes montanhas a nos guardar

São Fidélis tem assovios, tem psiu, tem “coizinha”
São Fidélis tem fulanos, tem ciclanos, “gente-vizinha”
Gente-vizinha que mora ao lado, no quarteirão ou outro bairro
Porém todos amigos, da família, entrem e sintam-se em casa

Quem me dera ter outras São Fidélis pelas terras em que passei
Ter outras risadas pelas casas, entre os vizinhos ao entardecer
Quem me dera correr descalço pelas ruas e brincar
Brincar de pique, pique esconde, de pelada ou boleba

Quem me dera ver outras Marias, outras Andréias ou Joaquim
Ver gente que acolhe, que abraça, ou dizem um “oi” pra mim
Quem me dera ir na tua casa e me sentar pra tomar um café
Com pão quentinho e muita manteiga, riso souto e prosear até

Quem de dera ser fidelense, dizem os mineiros, capixabas ou cambucienses
Quem me dera ser daqui, desta terra, deste sotaque, desta praça, desta gente
Mas à estes vizinhos dizemos todos: Fiquem à vontade
Pois pra sempre fidelense são os que passam por esta cidade.

Fim de vida

Não tenho em que ou em quem acreditar, não tenho mais tempo, não tenho mais gana, desacreditei de mim, não me importa quem acredita ou crer.
Hoje é o meu hoje sem amanhã, me sepultarei como um passageiro que andou por estas bandas com a missão de não influenciar ou mudar o rumo do mundo, vou passar por aqui como um Zé Ninguém, João Ninguém, vou partindo cantando estes versos:
Hoje como o último dia de minha vida,
Eu quero acordar com o perfume de rosa no meu travesseiro,
Quero vesti-me com a roupa mais simples
E não pentear os cabelos
Quero ler meus poemas para os meus amigos
E escrever poesias para os meus amantes
Hoje eu quero gritar o que eu mais quero
Quero andar no meio da rua, em meio aos carros
Quero que a cidade pare para festejar a vida
Quero que alguém pare pra ouvir minhas palavras
Quero que pare pra me ouvir falar de alguém
Quero que olhe nos meus olhos
Quero falar tudo o que não tive coragem de dizer
Quero um amigo que me conheça de cima à baixo
Quero uma pessoa que me tenha como herói
Também quero ter uma alguém como um.
Quero uma pessoa que só vá se eu for.
Hoje eu quero ter um dia de criança
Quero que a cachoeira corra pela avenida
Quero brincar com alguém em suas águas
Quero fazer tudo o que nunca tive vontade de fazer
Quero tocar todas as minhas cicatrizes do corpo
E contar vantagens na roda entre amigos
Hoje eu quero que alguém seja todo mundo
Hoje eu quero que o mundo todo seja alguém
Hoje quero que alguém seja uma flor, um amigo, um passeio
E hoje eu quero regar minha flor
Hoje quero abraçar um amigo
Hoje quero convidá-lo à um passeio
Hoje quero tirar o dia para passear
Hoje eu quero que o dia dure o dia todo.
Hoje reservei o dia todo só pra você!

Suicídio

Não me resta mais motivo pra viver, eu sou um perdedor, sou um fracasso, sou o maior erro que a natureza cometeu ao dar à luz. Sou fruto da vergonha e desprezo, sou o nada, sou quantos zeros forem precisos à esquerda pra exprimir o desprezível, sou o infinito à esquerda.
Eu perdi tudo na minha vida, tudo!
As minhas lágrimas, minhas lágrimas secaram, não rolam lágrimas do meu rosto mais, eu choro seco.
Os dentes que recheavam meu riso apodreceram.
O ar que propagava minhas palavras esvaiu-se.
As dores que atormentavam minha cabeça, até elas se foram, nem dores eu sinto mais, nem sangue escorre por minhas chagas, por estes ferimentos que levo oriundos das batalhas perdidas, mas travadas à mão.
Eu deveria pregar na porta de minha casa, que não tem porta, um pequeno informe, caso alguém resolva me procurar, por que bem sei que é dom do ser humano, procurar, bajular, perfumar, gasta horas da madrugada com os mortos.
Chorar perante o caixão seco, preenchido com o corpo frio esquentado de maneira delicada por flores fétidas.
“Agora vocês podem vir me ver meus amigos”.
Agora eu não falarei algo que não agradará vocês, agora estou moribundo, morto, agora ando calado, me deito calado.
Enquanto em vida, não tinham tempo pra mim, mas agora todos me procurarão, falarão de meus feitos em epitáfio de grandes amantes.
Anunciem meu falecimento. Eu o quero bem assim:
“Nota de falecimento,
É com um sentimento estranho
Que comunicamos
O falecimento de meu coração.
Minha esposa, a solidão;
Meus filhos, a covardia e a derrota
E demais colegas e desconhecidos,
Convidamos pra o meu sepultamento!”
Eu também quero que celebrem uma missa de sétimo dia em intenção à minha alma que queima no inferno.
“É com também estranho sentimento.
Que os convidamos à participar da missa de sétimo dia em intenção aos sentimentos de meu coração para que enterrado na terra do esquecimento descanse em paz!”
Deixo como herança à humanidade minha participação discrepante e ignota!
Deixo-os também na liberdade de não se lembrarem desta minha participação, passagem ou ausência. Sintam-se livre para realmente e agora definitivamente me enterrarem no cemitério do esquecimento, mas, por favor, que não seja no cemitério de tuas mentes, não quero vocês se lembrando de mim, não quero vocês recordando de bons tempos quando virem minhas fotografias amareladas, nem rindo ao se lembrarem de minhas poucas gargalhadas, por favor, me enterrem e me esqueçam!

Sofia e novamente o amor sexuado

_ Em matéria de paixão eu sou assexuada._ Defendia Sofia para o primeiro espanto de cada um de nós, não que isto era algo muito irreverente vindo dela, mas não imaginávamos que se denunciaria assim tão claramente pra nós. Às vezes, Sofia diz umas coisas que arrepiam os cabelos do dedão de meu pé. Eta, menina pra ter imaginação!
_ Pra mim não importa sexo, cor, gênero, eu amo é a beleza sendo fêmea ou macho, homem ou mulher, caçador ou presa. O meu negócio é a beleza, o que me faz bem aos olhos, me traz bom aroma às narinas. Gosto de boca, de lábios que se enrolam, brigam, mas se encontram, gosto de toque, tato, aperto e não é por prazer, mas por uma simples admiração, por encanto, isto sou encantada pela beleza das belas criaturas._ Sentenciou.
_ Sofia, você não é normal. Como você me diz que gosta de cheirar, de tocar, beijar mulher? Você não percebeu que não é como eu e o Peter? Você é ou pelo menos deveria ser menina. _ Retrucou o Joseph.
_ Joseph, seu pirralho ignorante, eu não estou dizendo que gosto de mulheres, estou dizendo que admiro a beleza da vida, das criaturas. Pra ver a beleza que existe nas coisas ou as que eles escondem é preciso ter simplicidade, particularidade, ser assexuada, desprovida dos paradigmas da concepção da beleza que a sociedade impõe. Sou livre disto, sou assexuada, sim. Admiro o que gosto e repudio o que me é feio, cafona, e poluído.
_ Hum! Igual que você é muito linda.
_ Você não acha, mas tenho meus fãs! Você viu como o menino da turma 1202 olhava pra mim? Ele com certeza me achava bela, ele sim sabe admirar a beleza de uma donzela como eu.
_ É minha amiga, não se iluda. É do Felipe que está falando? Felipe Bougom?
_ Sim, o filho da senhora Borgom, a dona do salão de beleza.
_ Garante que ele é como você. Admira a beleza assexuadamente.
Bem, Sofia não iria admitir, mas a piada do Joseph foi muito boa. Ele sim é o melhor zuador que conheço, isto sim é beleza e sexuada.

Sofia e a religião

-Não, a religião não é uma mentira!- disse Sofia, mas logo calou-se, tomando delicadamente uma porção generosa de ar- É uma verdade que corrói, destrói, aprisiona, sufoca, rouba, fere, paralisa, desumaniza... A religião é uma verdade que mata!
Declaro-me hoje publicamente como a pessoa mais anti-religiosa, cética, que pessoa existir na face desta terra que repudio andar.
Terra. Ser humano. Relacionamento. Pra quê? Por quê! Dê-me apenas um motivo!
Fui ferida por esta praga de religião, foi tornada câncer, câncer que me corrói as vias respiratórias, que me aniquila, que me mata.

Era doloroso ouvi as declarações de Sofia, mas não havia ter um outro sentimento sobre a vida diante de tudo o que sofrera.

-Tive meus sonhos destruídos, perdidos, assassinados por esta Morte da Religião. Foi destruída minha vida em nome de Deus!
Aprisionou-me a religião em suas garras peçonhentas, em seu líquido viçoso da morte que sufoca a alma, a mente, o raciocínio, o coração, os dedos, as mãos, os pés... A religião é uma estátua de sal que ao ser tocado pelo vento das doutrinas, dogma, liturgias, conceitos (leia-se pré-conceitos) me seca, cega, soca.
A maldita religião me roubou o que mais puro e belo eu tinha... o meu coração que cria!
A maldita da religião me feriu onde eu era mais nobre e apaixonada, tornou-me monstro, bicho, se bem que nem os bichos, os animais são tão animais irracionais, como a religião me propôs. A religião me “morfoseou”, me deixou desumana!- Nesta hora ela chorou, um único fio de lágrima avermelhada, mas nem o seu rosto manchou.
- Sofia, você desistiu de Deus?
Cautelosamente perguntou Joseph, sendo rispidamente atendido por Sofia.
-Não! Eu desisti da raça humana!

Sofia e o amor sexuado

[...] - Em matéria de amor, de paixão eu sou assexuada.
A paixão não tem sexo, não tem gênero, nem número ou grau, a paixão é por natureza avassaladora, destruidora, contagiosa, não é trivial, mesmo sendo um feijão com arroz, é novidade à cada olhar.
- Ah, pare já com estas palavras de mulher apaixonada, Sofia.
- Parar por que, Joseph? Esta é a mais pura verdade sobre o amor e paixão. Eles não têm sexo; eu amo à homem, mulher, criança, adulto, à todos da mesma forma e sem medo ou pudor. O amor nos liberta e não nos aprisiona!
- Na moral, Sofia, eu concordo com o Joseph, larga mão destes comentários de menininha apaixonada, por que isto não tem nada a ver com você. Desde quando o amor é assexuado? Isto está me cheirando mal...
- O que está te cheirando mal, seu moleque, é esta cabeça pequena e recheada de estrume de boi que você carrega pendurada neste teu pescoço de girafa.
- Calma lá, senhorita Sofia, não precisa apelar pra baixaria...
- Baixaria? Se vocês dois descerem mais um pouquinho, se arrastarão no chão -já irritada com os meninos, mas prossegue o discurso- O meu amor não tem sexo mesmo, eu amo, abraço, faço carinhos sem medo, recebo também, eu amo. Não te amo por que você é homem e não o amo por que ela é mulher. Eu amo! Como já disse o amor não tem sexo e por ser o amor eu sou assexuada! Sou livre desta prisão que é esta sociedade e seus paradigmas arcaicos.
Se o amor tivesse sexo, eu não amaria você. Você é homem, e é meu amigo, cresceu desde criança comigo, é meu amigo.
Se tivesse sexo, eu não amaria a Luana, é mulher como eu...
Se o amor tivesse número, quando eu cansasse de te amar com este amor, eu usaria um outro mais novo, e zerado, porém mais destreinado.
Se o amor tivesse grau eu nunca te amaria baixinho, no simples, no pequeno.
O amor é grande, gigante e às vezes pequeno, bem pequenino. O amor é único, peculiar, particular, imitável. O amor é assexuado, por isto amo à todo tempo todos à quem bem entender, e na forma que quiser.
- Como você é teimosa Sofia- diz Peter, já cansado dos assuntos confusos e confundidos de Sofia- Vai entender a mente, melhor, o coração das mulheres!
-Melhor decorá-las -diz Joseph.

Independência e morte

De repente percebo que entreguei o meu melhor, os meus tesouros mais finos pra este conquistador de terras longínquas, percebo que revelei espontaneamente o meu segredo.
Caminho hoje no sigilo de seu domínio, defraudação e indiferença. Qualquer transação comercial perde o valor quando técnicas outrora desconhecidas se tornam dominadas. Perdi o meu valor!
Perdi o meu vaor assim como um produto que se desvaloriza no mercado, ou se reproduz com velocidade astronômica. Tornei um produto comum, não-sofisticado, produto acahado em qualquer uma destas vendinhas nas esquinas e ruelas dos subúrbios.
Sou hoje um produto muito distante do que sonhou o meu projetista. Infeliz!
Sou produtos de todos, mas não sou produto de alguém. Sou produto internacional, multinacional, sem nacionalidade. Sou de globalizações.
De repente percebo que entreguei também o meu pior, os meus mais singelo desvalor. Nem população de classe baixa, almeja me consumir. Ou dividir-me em parcelas exorbitantes em carnês.
Revelei meus medos, minha pureza e sinceridade. Me permitir vulnerabilizar e perdi-me em paixões. Seria diferente se eu me desapaixonasse? Qual valor teria depois da pós-paixão?
Independência. Independência ou morte! Se é que morto já não estou.
Independência e morte, do tão fascinante tesouro que colonizadores estrangeiros atraiu à mim e sucumbiu-me à fantasia de ser relíquia.
Independência de você que ainda me domina com sentimentos de exploração. me tornas seco e desnutrido depois de seus olhares frios de cobiça e avareza. Egoísta!
Independência e morte!
Morte de tudo de belo e feio que há em mim, morte de meu próprio eu e seus pronomes mais ilustres de tratamento. Libertação em sepulcro!
Uma de meus mais nobres predicativos era o amor à vida, mas que me perdoe Deus, prefiro a morte à me re-apaixonar novamente.
Mate-me e beba meu sangue. Coma minha carne. E liberte meu espírito.
Independentemente da vida, escolho a morte!

Menino sem menino

É como se um mundo novo se apresentasse adulto e ancião ao menino ingênuo e provinciano. Eram muitas informações que o mesmo mal conseguia processar ou definir como digeridas, sofria, o coitado, de má digestões cognitivas ao passo de prisão de ventre seca e mal-humoradas. Isto se reflete em mistos comportamentos e intenções, produz medo, aflição, reivindicações de posicionamentos de escolhas, um sim ou um não. Não tem o menino tempo pro talvez ou espera.
Sua vida corria em tempo ligeiro, o mundo externo se alterava e o seu interior o engolia ruminando seus orgãos e assim desvendando suas emoções.
Eram desesperadores os seus olhos que denunciavam os seus mais secretos instintos e sublimações. E ele nem sabia como com este turbilhão lidar!
Sofria por não ter sido ao mundo lançado, mas se perdeu no tumulto feroz de suas entranhas. Sozinho. Pois hoje não tem o menino o conforto dos pais. Não tem o menino a compreenssão dos antigos amigos. Não tem o menino a juventude de menino e ele ainda nem isto percebeu. Cresceu ou teve o crescimento roubado e se perdeu nos desenvolvimentos do intelectuo ao desencontro do natural.
Perdeu-se no envolvimento com o transcendental ao encolhimento do natural.
Perdeu-se em si mesmo e achou em terceira idade em perfomance infantil.