quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Segundo olhar

Não tenho razão ao cobrar de ti as concretizações das expectativas infantis que eu somente projetei em tuas generosidades de um bom amigo.
Fui eu mesmo quem escolheu se perder neste ninho de defraudações insinuantes. Já sabia que este seria meu mal, mas escolhi.
Escolhi projetar você como rei de um reino que a ti não inspirava poder, tesouro, tampouco admiração. Prepotências de um arrogante!
Escolhi priorizar você e assim estabelecer dívidas, das quais cobraria com exorbitantes juros ao longo dos dias, dos meses, dos anos. Maquinei, de princípio, te tornar devedor dependente, um escravo de mim.
Escolhi te ensinar à escolher, mas questiono-me em minha real motivação, no medo de encontrar nestas revelações os sinais de que almejei na verdade te manipular, só por um segundo e assim seria todo o tempo do mundo. Queria eu te perder de teu mundo?
Não foi você, meu bem, quem escolheu me ver, mas fui eu quem arquitetou o segundo olhar na busca de teus olhos, mas não os encontrei. Não pousaram em mim.
Programei a música incidental deste encontro, havia trilha sonora nossos momentos e eles posso chamar de nossos, foram reais, nos sentidos nobre e factual.
Dançei sozinho a nossa música, a minha música. Tirei, num monólogo, meus pés do chão numa pauta coreográfica ensaiada pra dois. Pas de deux de solidão!
Escolhi escolher você, encolhi à mim. E hoje me paraliso, na encolha, para não escolher à mim.

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