terça-feira, 7 de setembro de 2010

Suicídio

Não me resta mais motivo pra viver, eu sou um perdedor, sou um fracasso, sou o maior erro que a natureza cometeu ao dar à luz. Sou fruto da vergonha e desprezo, sou o nada, sou quantos zeros forem precisos à esquerda pra exprimir o desprezível, sou o infinito à esquerda.
Eu perdi tudo na minha vida, tudo!
As minhas lágrimas, minhas lágrimas secaram, não rolam lágrimas do meu rosto mais, eu choro seco.
Os dentes que recheavam meu riso apodreceram.
O ar que propagava minhas palavras esvaiu-se.
As dores que atormentavam minha cabeça, até elas se foram, nem dores eu sinto mais, nem sangue escorre por minhas chagas, por estes ferimentos que levo oriundos das batalhas perdidas, mas travadas à mão.
Eu deveria pregar na porta de minha casa, que não tem porta, um pequeno informe, caso alguém resolva me procurar, por que bem sei que é dom do ser humano, procurar, bajular, perfumar, gasta horas da madrugada com os mortos.
Chorar perante o caixão seco, preenchido com o corpo frio esquentado de maneira delicada por flores fétidas.
“Agora vocês podem vir me ver meus amigos”.
Agora eu não falarei algo que não agradará vocês, agora estou moribundo, morto, agora ando calado, me deito calado.
Enquanto em vida, não tinham tempo pra mim, mas agora todos me procurarão, falarão de meus feitos em epitáfio de grandes amantes.
Anunciem meu falecimento. Eu o quero bem assim:
“Nota de falecimento,
É com um sentimento estranho
Que comunicamos
O falecimento de meu coração.
Minha esposa, a solidão;
Meus filhos, a covardia e a derrota
E demais colegas e desconhecidos,
Convidamos pra o meu sepultamento!”
Eu também quero que celebrem uma missa de sétimo dia em intenção à minha alma que queima no inferno.
“É com também estranho sentimento.
Que os convidamos à participar da missa de sétimo dia em intenção aos sentimentos de meu coração para que enterrado na terra do esquecimento descanse em paz!”
Deixo como herança à humanidade minha participação discrepante e ignota!
Deixo-os também na liberdade de não se lembrarem desta minha participação, passagem ou ausência. Sintam-se livre para realmente e agora definitivamente me enterrarem no cemitério do esquecimento, mas, por favor, que não seja no cemitério de tuas mentes, não quero vocês se lembrando de mim, não quero vocês recordando de bons tempos quando virem minhas fotografias amareladas, nem rindo ao se lembrarem de minhas poucas gargalhadas, por favor, me enterrem e me esqueçam!

Nenhum comentário:

Postar um comentário