As pessoas
tendem a nos julgar segundo os seus próprios medos e fraquezas. Se não
temêssemos tanto os efeitos das drogas, viveríamos todos mergulhados em gostos
e cheiros de maconhas ou sintéticos. Drogas não tem esse nome porque não
prestam. São drogas porque se fossem doces a julgamento seria em torno de que
engordam. Não vou dizer que não estou fazendo apologias, não me sentiria um
ponto e vírgula culpado se tuas forças te motivassem ao primeiro teco. Na
desculpa, é claro, ter sido sugestionada por mim.
O meu vício foi
e é esse senso de liberdade que corrói minhas veias, engano-me a mim no
propósito de ser dono de meu nariz e razões. Hipócrita, eu sou. Somos todos
escravos de nós mesmos. No anseio de o outro dominar.
(AARON e CINDY
sentados lado a lado no sofá bege. O menor do conjunto de três e dois lugares.
AARON bebe uísque, fuma e balança as pernas. CINDY enrola os cabelos com os
dedos. Ambos olham fixamente pra frente)
AARON - Por que tá chorando?
CINDY - Não sei. Acho que mesmo sabendo que não é você tem uma parte de mim que queria que tivesse sido.
AARON - A gente vai continuar amigo.
CINDY (Roendo a unha do anelar esquerdo) - Não, Aaron. A gente para aqui.
AARON - Por quê?
CINDY - Porque já tem muita parte de mim dentro de você. E eu que dei. Me dei. E já não posso reivindicar.
AARON - Se arrepende...?
CINDY - Eu vivi. E é essa história que vou contar.
AARON - Boa?
CINDY - História.
AARON - Boa?
CINDY - Toda história fica boa um dia. É só esperar.
AARON (Vira todo o uísque) - Eu...
CINDY - Não. (O encara) Você não foi a pessoa que mais amei.
Ando
meio assim. Ando meio anão. Ando pela metade. Desando. Talho. Azedo. Avesso.
Ando meio talvez. Pra não assumir minha culpa fui incorporando esta mentira no
meu diálogo. A mentira de que havia amado. Eu nunca a amei. Desejei. E tive.
Penetrei e exorcizei de meus músculos toda sorte de volúpia e paixão. Tendemos
confundir o que é ótimo no agora com o que poderia ser bom no pra sempre. Eu só
queria o ótimo, perfeito. E acabou. Fui me convencendo de que era verdade o meu
conto, afinal, poderia contá-lo mil vezes ou mais. Sou paciente... Assim como
esse trago de cigarro que agora dou e não libero. Fumo a fumaça. Essa sim me
preenche e dá prazer. Tomo um gole do uísque e umedeço as palavras que nunca a
disse e a fumaça sussurrará feito incenso. Lenta. Bailarina. Ladra.
Prostituta. E amiga. Mas não era essa exaltação que ansiava o meu deus.
Libero-a lentamente. A fumaça. E ela. Torno a tragar. Posso contar essa mentira
que criei pra nós pelo resto de nossas vidas, mas ela nunca deixará de ser
mentira. Contando e recontando, no máximo, ela passar a ser a nossa realidade.
E o REAL nem sempre é o VERDADEIRO. E o verdadeiro é essencial?
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