Somos seres descartáveis à refém de uma ditadura de consumismo barato e escravista.
Somos lançados fora como um lixo fedido, nojento, prejudicial à saúde e bem-estar desta civilização primata, selvagem e cruel.
Somos excluídos do corpo como um câncer que contamina e se propaga em uma velocidade inalcançável pelos medicamentos que circula por suas vias matando, secando, enfraquecendo...
Somos seres irracionais quando o assunto é o próprio ser humano, seres pensantes que perderam a capacidade de pensar, viver, sentir, agir.
Perdemos a capacidade de tocar, de se abraçar, compreender, ajudar.
Perdemos a sensibilidade de sentir a macia brisa tocar o rosto, emaranhar os cabelos, despir nos o corpo. Perdemos a sensibilidade de sentir a fome que dói o estômago saciado por um legume, verdura, ou vegetal.
Perdemos a capacidade de perder. Somos criados pra ganhar, ter, conquistar, dominar.
Somos mutantes, “monstro-sapiens” neste mundo capitalista-burguês.
Somos adestrados para devorar um ao outro em legítima defesa.
Somos sujeitos à uma dieta regrada à barganha e racionada à afetos, fraqueza de meros mortais.
Somos discriminados, nós que nos rendemos ao um abraço, ao um pedido de socorro, ajuda. Nós que fragilizados e carentes ansiamos por um toque, uma companhia, um amigo, uma visita, nós criados para nós mesmos, para o autoprazer, tesão, glória.
Perdemos a capacidade de sentir saudade, falta, lembrança; sentimento fraco e mesquinho que nos sub-julga ou sub-eleva ao patamar de raça humana.
Perdemos a capacidade de co-memorar de trazermos juntos à memória boas recordações e co-festejar, friamente perdemos a capacidade de se alegrar com o próximo, de festejar as vitórias alheias, de rir de uma piada se não houver sido contada por nós mesmos ou apreciar um tempero novo de uma receita preparada com carinho e amor, não o amor encontrado no super mercado e divulgado maciçamente pela tv, mas o amor esquecido e não vivido por “eu e você’.
Perdemos a capacidade de sermos irmãos, amigos, parceiros, de sermos meros mortais, humano. Eu sangro, eu sinto dor, eu tenho medo, tenho carências.
Hei, eu ainda vivo!
Mas perdi a capacidade de ser simplesmente “eu e você”!
Pois perdemos a capacidade de apreciar as simplicidades da vida, o puro, o único e isto se conquista com sensibilidade, espiritualidade, ser simples é estar em estado de evolução.
Ser simples não é ser comum, medíocre, pequeno. Ser simples é ser sensível, acessível, apaixonado pela vida, pelas pessoas, pelo desconhecido, pelo real ou surreal, real ou utópico, mas com simplicidade, nas vantagens da conquista da maturidade e entendimento de que tudo valeu a pena.
Pessoas valeram a pena, o riso, o choro, o tombo, a subida e descida, a solidão e a companhia, a amizade e o abandono, eu e você.
Percebemos que dá valeu à pena, que compartilhar o pão e vê um sorriso de agradecimento e satisfação valeu à pena, que perder horas numa conversa só pra firmar nossas teses sobre a vida foi válido, pois exteriorizamos as nossas, somando com os que nos ouviam, viver é uma soma de “eqüiláteras e antagônicas” vidas.
Percebemos que viver valeu a pena, mesmo que tivesse sido uma vida sem vida, ser cor, sem brilho, sem “eu e você”.
Somos descartáveis e vulneráveis seres à refém de “eu e você”.
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