Assim gritavam os feirantes na feirinha dominical:
-Quem vai querer, carne humana fresquinha!
-Alô, alô minha senhora, temos pernas, braços, cabeças de brancos, mulatos, negros... Quem vai querer?
-Temos coração na promoção hoje...
Às vezes me sinto como se na realidade estivesse numa feira de mutilados seres humanos, como se vivesse num açougue de carne humana distribuídas como de primeira, segunda, terceira à céu aberto.
Perdemos nossa capacidade de sentir pelo caminho da evolução da vida, perdemos o senso do valor próximo e pessoal nas esquinas dos bancos. Até mesmo nos bancos onde guardamos nossas fortunas perdemos o contato com o atendente no caixa trocando-o pelo caixa rápido e eletrônico, se bem que agora nem em bancos vamos mais, usamos a Internet.
A razão mercantilizou.
O sentimento é divido em infinitas parcelas à mercê de juros exorbitantes.
A emoção se rendeu aos movimentos capitalista-burguês.
A fé virou negócio, lucro, grana, bufufa.
Oh Deus, olhai por nós!
Envie novamente teu filho para que pessoalmente nos ensine como viver a vida vivendo com boa vida, mas não nos cobre por isto.
Ensine-me novamente à acreditar numa fé gratuita, eficaz e que não é como as efêmeras amostras grátis.
Não quero mais esta fé tocada ou traduzida por mãos humanas. Quero uma fé sobrenatural e não substancial.
Uma fé que abre os braços quando morre.
O autor da fé que pregado nestas empresas da fé morreu de braços abertos para o homem, mas hoje este mesmo homem vende esta fé em larga escala de produção, isto em partes talvez nem seja pecado. (Risadas)
Afinal tem que existir o mal para o bem vencer, o falso pra a verdade reluzir seu brilho.
Confesso que já nem sei o que é certo ou errado, verdadeiro ou falso, fé ou escravidão.
O mártir do Cristianismo quando morreu se rendeu na cruz, mas hoje a cruz se rende ao cifrão.
Pra viver neste mundo hoje é preciso se curvar, adaptar-se nas voltas do cifrão.
Ainda existe cruz?
- Existe e custa apenas cinco reais.
Rapidamente me respondeu algum dos feirantes.
Já não sei em que fé acreditar. Já nem sei se tenho fé! Já não sei se existo!
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