sábado, 21 de agosto de 2010

Despeço-me de ti (Texto de 2008)

E então já com os olhos marejados, na cor de fogo enfurecido, componho numa folha em branco de um caderno antigo de anotações de acontecimentos importantes sobre minha vida, a última poesia pra você. Despeço-me de ti que um dia pensei quem seria no pra sempre a companhia de todos os dias de vida e todo descanso de morte.
Despeço dos cheiros das rosas, das chuvas, dos doces, despeço das poesias, dos boleros, gafieira, despeço dos suspiros, calafrios, das borboletas no estômago, da cascavel nos olhos, despeço do brilho, da cor, do sol, nascendo ou se pondo, despeço das inspirações apaixonadas.
Eu fui matando as lembranças, fui retirando da estante as fotografias de nossos passeios, nossos risos imortalizados neste papel, minhas pseudo-exitações, fui queimando ao trazer luz, em minha mente os filmes ainda nem revelados, mas que não ficarão ou farão história.
E então fui permitindo-te matar cada uma de minhas emoções, sentimentos, gostos por você, matar minha sensibilidade, aos poucos eu sensibilizado, agora nem mais, apenas frígido de constante, sem ressonância de sentimentos.
Estes dias em um súbito expirar de queda, até ensaiei o retorno à você, mas minha intuição não mais me conduzem aos teus caminhos, não sei em que esquina te perdi, não me recordo mais do cheiro de teu perfume, não o meu cão se lembra de teu nome para que te cace ou minhas rodas de bicicleta a trilha pra que pedale minhas pernas ao rumo de tua casa. Queria apenas lembrar de teu rosto e da sonoridade de tua voz, mas a morte se fez por inteira. Quem diria, eu ensaiava nossos diálogos sempre encenado por meus monólogos, vendo o teatro com casa pura, sem luz, sem figurino, cenário, fantasia, e pouca merda. O teatro acabou e a realidade se fez notória.
E então deverei tomar mão dos medos e lançá-los fora na esperança de viver um outro verdadeiro amor, mesmo que esteja contido neste medo o medo de perder você, quem concluo nunca ter tido.
Viverei para a eternidade na presença deste ausente amor.
Nos momentos em que me invadir à memória em partilhadas frações de segundos, sentirei-me como que masturbar-me, e satisfeito, solitário em prazeres que me fogem pelas mãos nas madrugadas e acusam-me dotados de legalidade nas manhãs seguintes, me repudiarei por não resistir não à ti, mas à mim mesmo. Fraco amante, eu sou!
Viverei na vergonha e impotência de ainda amar você, odiando te amar! És a única pessoa pela qual vivo nas intensidades dos ímpetos sentimentos, amo-te tanto quanto me odeio, e se não inspiro amor por mim, me engano ao jurar amar você.
Te jurei amor, com palavras de amizade, te provei amor com palavras de carinho, te repudio amor com atitudes de respostas, vazias e soltas.
Não sei se o que me dominou foi amor, mas foi amor o que queria viver.
É tudo isso que com quase mil gagueira eu queria dizer.

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