domingo, 21 de novembro de 2010

Nu segundo intervalo da novela das 8

Foi no exato segundo intervalo da novela das oito que o meu telefone tocou. Ao abrir o flip me surpreendi ao ver o seu nome no visor, aquela combinação de letras provocara uma desorganização em minha mente já em insanidades.
Ao atender, sua voz suave e juvenil me ensaiava perguntas que prontamente respondi: Estou sozinho sim, pode subir... já conhece o caminho.
Logo planejei um riso leve, mas os meus músculos faciais estavam cerrados, adormecidos.
A campainha soou e assim também minha nuca, naquela noite fazia frio, porém um vulcão se despertou irritado e nada registrara na Escala Richter. Era imensurável e silencioso. Ao encontro do olhar foi destruidora a sensação de que hoje a minha natureza seria transmutada.
Sem graça, graciosamente ousamos algumas brincadeiras, tentativa de quebrar o gelo que teimoso não se derretia diante de tanto feixes de calor e eu ofereci educadamente, água, suco à base de soja, brigadeiro, bolo, frutas, pão e por fim uma salada de alface, acelga, rúcula, tomates cereja e mussarela de búfala, todavia era outro o apetite e aos fins de semana não havia dietas. Livres!
Brincamos de olhar nos olhos. Brincamos de olhar nos lábios, a boca. Brincamos de tocar as mãos nas mãos.
Os sorrisos se intimidavam e as intenções se estabeleciam. Não excitamos, nos sucumbimo-nos.
Desenhamos o corcovado ao ponto de Cristo se render e buscar abrigo em outro lugar, abrimos nossos braços ao encontro do oceano azul-esverdeado, adoçamos suas águas, agitamos o seu mar, ventilando suas areias, construímos o nosso castelo e as ondas furiosas na maestria do vento musicalizou poesia, silenciando os gritos das pedras.
A lua se constrangeu com o nosso momento e convidou as estrelas para entrar nos esconderijos entre as nuvens, como que se o sol que nos atravessava as pupilas as encobrisse o brilho. Humildemente roubamos a noite pra nós e a natureza respondeu em rios de chuvas torrenciais e serôdias. Lavamos nossa alma, o corpo, encharcamos nossas palavras, refrescamo-nos o pensamento e irrigamos o viver, o ter, o experimentar.
Cansados como refugiados de guerra desfalecemos à beira-mar. Satisfeito como criança pequena gargalhamos sem excitar. Depois de muitos sons e ruídos as palavras vieram, mas a simplicidade e honestidade do olhar as calaram, estabeleceu silêncio e a noite correu em paz.


[CONTINUA...]

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