terça-feira, 9 de novembro de 2010

Do sétimo centímetro andar

O menino da sacada de seu apartamento falava sobre o engajo que durante oito meses viveu na tentativa de descobrir naturalmente como homem. Faliu!
Cada pausa que dava entre uma enxurrada e outra de palavras frias, uma multidão curiosa de aglomerava embaixo. Sete andares de concretos o separava da multidão, mas o mesmo gritava hemorragicamente os centímetros de afastamento que provocavam solidão.
Passaram-se alguns minutos e ele já estava no para-peito do edifício, mas não ouvia coração algum pulsar lá. Não encontrou conforto. Não encontrou consolo. Sem solo ousou caminhar no vento. E voou!
A multidão que o assistia comentava de seu riso. Ele gargalhava no ar, de verdade andava nas nuvens, mas se libertou no impacto feroz com o chão.
O menino, agora homem, engatinhou despedaçado no chão e não houve rios de alegria, embora jorrasse como cachoeira, o líquido era viçoso e rubro, sua intensidade empalidecia o menino e era dia de sol. Sol de primavera-verão.
De seus olhos agora marejados, um líquido transparente corria, pingava, deslizava por suas marcas de expressão de antigos risos. Isto lembrava de quem era. Nostalgia!
O menino sonhou alto e traçou degraus. Caminhou intensamente em cada centímetro da escada. Esforço físico. Fadiga!
Descobriu sete maravilhas no novo mundo e solipsista desconheceu a única maravilha que tinha, no mundo que era de fato seu. Ele começou a falar desta, e mais uma vez houve brilho em seus olhos, não eram reflexos do sol, era o seu próprio astro que aquecia seus suspiros, mas logo se pôs em seu ocidente. Em sua noite não teve luar, não teve estrelas, cometas ou coisa do tipo, mas choveu e a chuva levou sua última palavra, de consoantes à vogais. Restaram apenas o silêncio! E este silêncio foi sete vezes calado, mudo, sem tom nem voz. Mas a multidão se desesperou, agitou, e ensaiou dezenas de sonoridades em desesperadas palavras. O monólogo continuou.

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