quarta-feira, 28 de março de 2012

Eduardo e João: Parte 3

O alfabeto

Quem foi que disse que amor é uma soma de A + B? O amor pode ser todo o alfabeto e suas mais dissonantes combinações. Quem foi que disse que opostos se atraem? Quem foi que disse que haveria de ser desta forma o meu conto? Não era desta forma que eu suspirava contar as minhas alegrias. Eu queria poder gritar o meu romance. Como sou louco! Como posso falar em romances se não o conheço nem em vinte quatro horas? Mas são quase onze da manhã e minha mente pronuncia Eduardo. São duas da tarde e minha mão escreve Eduardo sem que minhas sinapses comandem. São seis da tarde e já está tarde para convidar para um outro café. Mas minhas conexões vinculam o seu nome sob mim. E se eu ligasse? Melhor não, poderia parecer estúpido. Mas estúpido por que? Somo adultos. Bem resolvidos. Sabemos o que queremos. Mas não, é melhor deixá-lo pensar em mim e quem sabe sentir saudades. Mas eu teria algum lugar já em sua vida pra construir saudades?
O telefone não tocou e eu me senti como uma mulher esquecida nas plenitudes do gozo. Juro que nunca mais faria isto com elas. Mas será que eu ainda sairia com outra mulher? Mas eu nunca estive com uma. Foram só beijos, apertos, amassos e nada mais. E então houve a primeira, a segunda, terceira, depois da quarta, da Vanessa, Alice e Carla e eu perdi as contas de quantas. E enxergava em mim o mesmo homem cretino e cafajeste que os demais. Eu era homem. E nunca nenhuma delas se queixou, ao contrário, elas conheciam o gozo em mim. Seria a minha sensibilidade? Ou mesmo a mulher que havia em mim? Mas eu não tenho nenhuma mulher dentro de mim. Eu sou homem. Eu sou homem. Na terceira vez gritei e toda repartição ouviu. Me desculpem, gente, estou ensaiando a apresentação da pauta do novo lançamento. Um produto exclusivo para homens.
Isto! Ser homem é um produto! Eu poderia comprar o manual no mercado. O que é ser homem? Eu sou homem? Esta última pergunta eu fiz durante os quatro meses consecutivos e no quarto mês e treze dias o Eduardo reapareceu. E como se nada houvesse acontecido sorriu pra mim. Era aquele mesmo sorriso cor de jambo e gosto de baunilha entre notas de nicotina. Eu gelei e tremi. Estufei o peito e eu voz grave perguntei: Por que sumiu?
- Pensei que primeiro ouviria um bom dia.
- Ah, sim, claro, eu me prescipitei e de repente esta pergunta surgiu em minhas palavras. Mas – Sim, eu estou gago novamente e falando coisa por coisa, sem sentido. Um verdadeiro estúpido idiota. Esperto como só ele poderia ser em sete primaveras a menos que eu, sorria de meus constrangimento. Eu tentei ser rude as suas graças, mas isto fluia como lenhas nas labaredas do fogo de sua ironia. Eu o convidei para se sentar comigo, mas era mais prático me ajuntar a ele e eu fui, sem revidar recusas. Entre silêncios, olhares e outras tais estupidez tomei meu café expresso e sem açúcar. No entanto nada tirava de meu paladar este gosto de amargo fel que me apetece. E ele me convidou para assistir um filme no sábado a noite. Que homem convida outro homem para ir ao cinema? Quem? Eu fui. Nós fomos. E os finalmente se iniciou outra vez, mas não foi como naquela noite. Não tinha sabor de descoberta. De liberdade! Eu estava sóbrio! E naquela lucidez o entreguei a chave de meu apartamento. E durante onze anos ela foi a chave de sua casa.
- É incrível o prazer que nós temos em estar juntos, né? A gente é muito amigo um do outro! A gente gosta de estar junto e se olhar, se ver.
- Dudu, você quer que seja pra sempre assim?
- Não tem que ser pra sempre. Tem é que estar na memória, no corpo, na vida. Eu acho que é pequeno pensar a vida nos contornos dos relógios que se limitam em seu traçado pré-planejado, sabe? O que eu gosto de nós dois é este lugar do livre, do belo...
- Eu sempre penso que não morreremos juntos.
- Eu tenho certeza. – Disse ele sorrindo e cheio de luz nos olhos. – A nossa história é de vida e não de morte. E...
Eu precisava interrompê-lo. Era difícil viver em acordo com as filosofias baratas do Eduardo. Eram sonhos e utopias demais para uma única pessoa. Ele tinha muita vida em mim, mas os anos se passavam aos nossos olhos e ele era sempre criança, jovem, menino. Eduardo não tinha medo da morte, nem da vida. Eu tenho. Temo os julgamentos que ainda vejo nas delicadezas das pessoas com a gente. É um tal de dizer que somos lindos juntos. Santa hipocrisia e desnecessidades. Temo a Deus e ao inferno. Na verdade, Eduardo sempre foi muito mais homem que eu.
- Por que você fala como se Deus não visse amor no que construimos? Por que você se priva ainda da felicidade? – Ele sabia calar as minhas conexões de consoantes e vogais. Sabia roubar-me os conectivos e só ficavam as interjeições, mas não calava a minha dor.- Deus não está preocupado com a gente, João. Deus tem muita gente que ainda não aprendeu a amar pra ensinar. E Ele não tem tempo pra perder, por que o amor não espera de braços cruzados e de repente com o tempo o coração se foi. Pára de bater. E então começa os aplausos mesquinhos e vazios que você tanto espera.


CONTINUA...

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