terça-feira, 27 de março de 2012

Eduardo e João: Parte 2

A toalha bordada

Caminhamos juntos depois o banho que tomamos separados no aperto de meu imenso apartamento. Permiti que tomasse o seu banho primeiro e me arrependi por não me oferecer como a companhia. Vai que algo a acontecesse e precisasse de minha proteção. Porém preferi fazer as hospitalidades da casa e deixei recobrar os seus sentidos e tempo na paz de um banho quente e calmo. Não sei que mundo se apresentava do outro lado daquela porta branca de madeira um pouco mais alta que eu, mas na minha mente havia um guerra e paz interior que se revelava nos vulcões que rompiam em minha pele frio. As horas pareciam terem se calado e o relógio paralisava o tempo para que minha consciência analisasse com calma a escolha que havia feito por mim, mas as lembranças das últimas horas escondidas naquela noite eram muito mais aprazível e sedutora, eu não tinha como resisti, sucumbi a mim e Eduardo gritou: “Eu preciso de uma toalha. Posso usar a tua?” Gago e infantil eu respondi que poderia trazê-lhe uma nova. Ele abriu a porta do banheiro, me revelando outra vez o seu corpo nu e molhado entre a fumaça do vapor da água quente que o cobria por inteiro. Eu me vi como naqueles filmes de super-herói com poderes de congelar os inimigos, me vi com as pernas travadas ao chão mais uma vez e um frio repentino subir por entre as mesmas em encontros de fluxos frios e quentes de líquidos rubros, espessos, sanguíneos que me transitavam em congestionamentos as veias. Havia uma certa confusão no meu corpo. Eu não tinha mais álcool em minha mente e tinha a oportunidade de olhar em seu corpo nu a nudez de minha vontade e desejo. Eu me via nos reflexos das gotículas em seu corpo. Conheci a mim naquele instante e trocamos as palavras que construíram o nosso maior diálogo até então.
- Que cor de toalhas você prefere?
- Até pano de chão serve – sorriu.
- O pano de chão está muito sujo – eu disse em dose cavalar de estupidez . Uma branca?
-Entre no banho. E então nos enxuguemos com a tua. É bom que economiza e eu não te dou trabalho.
Não preciso dizer o que aconteceu. Mas eu preciso. Não para que me entendas, mas para que eu possa compreender os meus símbolos linguísticos. E sua língua tinha gosto agora de minha pasta de dente. Vocês obviamente já imaginam que tudo recomeçou, mas desta vez tinha gosto de primeira vez. Tinha gosto de ser de verdade, de ser eu, de ser ela, como pessoa. De sermos de fato nós dois e agora me faltam as palavras certas para descrever o que se acumulava em minha mente. De uma noite pra outro dia eu deixara de ser um simples virgem na inocência da selvageria das minhas tentações e me via homem ao encontro das curvas e saliências que não eram distintas ao meu próprio corpo. E naquela mesma toalha que nos secou eu bordei em dias depois o nosso nome, Eduardo e João.
Ele era a pessoa mais estranha que havia cruzado a minha vida. Depois do banho tivemos que esperar uns trinta minutos para que os cabelos dele pudessem secar e recompor os belos cachos. Só não o comparo com um anjo, por que anjos não têm sexo. E era só sexo que tínhamos até então. De repente o ouvi pronunciar as palavras correspondentes às leituras que via em seus olhos. Não imaginava tamanha coragem. Via sua vontade interior desestruturar o seu corpo físico que tremia ao produzir aquelas sonoridades. Foi inevitável! Eu sabia que era diferente o que aquilo provocava em mim. E ouvi Lucy In The Sky With Diamonds dos The Beatles cantar em meus ouvidos. Tive medo de me permitir ser feliz. Digo felicidade pois seria a única resultante de meu entregar. Tem certas horas na vida que temos que ser honesto com nós mesmo e definir o traço de nosso riso, assim como delinear o curso de um rio. E eu sabia que estava preste a gargalhar, mas ainda eram nove horas da manhã. O meu mau humor não permitia. E demos um pausa pro café.
Ele usou uma camisa, calça e também cueca minha. Distribuiu alguns pingos do meu perfume em seu corpo e fomos saciar a fome que já se alimentava em nosso estômago. Eu sentei na mesma mesa de costume e via os olhares dos garçons em minha direção. Mas não entendia o que eles poderiam estar lendo em meu comportmento ou era a minha mente que maquinava todos os olhares para mim, como uma perseguição. Tinha a imprensão de que era o típico cafézinho preto de todas as mesas. Você já se sentiu assim? Não sei, mas todo mundo me via naquele dia e o garçon perguntou: “Feliz hoje, João?” Finji que não entendi a sua pergunta. O que ele tinha com minha vida? A preocupação dele deveria estar única e exclusivamente no meu café expresso e sem açucar e não no que acompanharia a minha bolacha. Tive vontade de levantar, pegar naquele colarinho e estrangular aquele pescoço mais fino que minhas canelas e romper a sua cabeça com tantos encontros que promoveria com a parede amarelo-ovo que se tangeria de vermelho sangue talhado com os meus murros, mas então Eduardo sorriu e replicou dizendo que era inegável a minha alegria, hoje era de fato um dia de mudanças. E eu queria mudar o curso de todas elas. Me vi pela primeira vez na vida em vida e nunca tive curso pra isto. Um guardanapo, por favor.


CONTINUA...

6 comentários:

  1. Esta ficando mt bom, ja quero ler a proxima parte!

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  2. Luisa Espindula Oliveira Andrade27 de março de 2012 às 00:52

    TO ADORANDO MUITO MUITO MUITO MUITO! linda a história val

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  3. Val quero maaaais! A história ta muito boa!!

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  4. Nossa,tá cada vez melhor, já estou ansioso demais para a próxima parte.

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  5. Parabéns Valdemy,por essa mente Insana e super criativa,a história tá me deixando com água na boca dos próximos capítulos,sucesso Val...

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  6. ahhhhhhhhhh quero ler maaaaaaaaaais!!!

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