Uma orquesta cantando no lugar que deveriam trilhar cordas vocais. É o teu nome que elas cantam. Gritam. Cada palavras que pronuncio soam como notas agudas e graves falando o teu nome. Você está em minhas palavras. Você é o meu verbo na música que Ray Charles canta em I can't stop loving you.
Eis outra coisa que me assombra, será que realmente suportaria ver-te por alguns instantes sem as maquilagem que escondem as imperfeições? Só te tenho agora frio em meus braços e quente em meu peito. Te tenho atrelado às minhas auto-acusações. Procuramos na vida estabilidades, ou eternidades, mas preferimos descer ao inferno à subir no altar selando assim votos de amores eternos, cumplicidade e companhia. Mas por você eu iria ao mais profundo de meu ser e encontraria nas minhas essências o nosso lar.
- Você não tem que se culpar pelo o que quis fazer. Você não me deve a tua vida. Sempre te quis livre, João.
- Eu não podia ter negado o nosso amor. Eu tinha que ter escolhido não quer. - A minha dor se concentrava no seu silêncio que arranhava a minha íris. E os seus olhos ainda mantinham o mesmo brilho por mim. Ele já não era mais estranho. Era comum como todos os demais. Eu já era comum. Juro que preferia vê-lo gritar suas raivas por mim e assim como um cão que outrora preso se liberta das correntes, avancei minha mão em cinco dedos em sua bela face marrom cor de jambo e colori com o vermelho de minhas cinco declarações de medo.
- Por que tua mão está trêmula e fria? – Estúpida pergunta que ele me fazia. Não poderia minhas mãos que tocaram outro corpo estar de outra forma. Sem forma. Deformada. – Eu nunca te cobrei perfeição, João. Apenas te excitei a vida. Você caiu no buraco que você mesmo pra si cavou, o buraco de superpotência. Eu te quero homem e menino. Te quero humano. Sem esta amargura que entorpece suas declarações de amor por mim.
- O que isto significa? Eu não entendo.
- Eu te amo, responde? – Belisquem-me se eu estiver ouvindo errado? Estas últimas palavras de Eduardo, se apossou de meu espírito como bálsamo e me fez ver à mim como seu. Da forma que nunca senti. Ele sorriu e agrediu o meu corpo como um rio que rompe a repressa e destrói a paisagem de naturalidades e belezas que o circunda. Ele me apresentava um nova beleza pra contar. Suas águas vinham de encontro as pedras que estruturavam minha angústia e esculpiam minha paz. Água é mole, pedra é dura, tanto bate até que fura. E foi a minhas descrença de ser amor que Eduardo quebrou com sutileza e simplicidade.
Ele sorrindo e maroto, pegou o seu típico copo de Whisky que por dias, dias e 3/4 de dia me olhavan em ternura, sedução e pronunciou as palavras que sempre esperei ouvir orquestrar aos meus ouvidos.- Eu te amei desde sempre.- Eu o abracei pela última sublime vez e o seu corpo se esfriou em meus braços que o suportou com firmeza de amor e arrependimentos. Era como se ele igualasse-se a minha dor pra me aquecer com sua paz e assim o fez. Eu me sentia como na primeira vez que nos vimos. Neste momento eu sintia o seu grave bumbo acelerar o compasso e cada vez mais e mais o rio que enrijecia o meu prazer se tumultuar em seu peito. Eu o beijei com todo amor que eu poderia inspirar em meus pulmões, nunca quis tanto ser a mesma fumaça que o percorria, queria inflá-lo e esvaziá-lo do vazio de mim. Eu queria penetrar o seu céu, construir suas estrelas e em sua boca desconheci o gosto do fel da desilusão. Fomos pra sempre. E pra sempre nos fomos em nós dois.
Todo o amor que tínhamos um pelo outro acabou naquela sexta-feira do dia 30 de março. O nosso amor morreu em seu egoísmo e mediocridade e nos encontramos em corpo e verdade de espírito. O nosso lar se desfez em ruínas, nas lembrabças dos castelos construídos de areia a beira mar, o que eu via era a farsa que construi pra mim se desdobrar entre uma nova proposta de vida colorida em cumplicidade e juventude. A nossa história com o tempo deixou de ser contada entre os grupinhos pelas ruas. Caímos no esquecimento de todos. Naquela espécie de buraco negro onde todas as memórias se escondem com o tempo, e com tempo pra perder ou ganhar. Sem a pressa do horário do almoço! É incrível como as pessoas se frustam em seus próprios preconceitos e vazios. Maquinam o nosso mal e nos roubam a integridade e liberdade de ser simplesmente nós e felizes. Ainda assim, foi a mais bela história de amor que eu vivi em toda minha vida. E vivo! Ou posso arriscar dizer que foi a única vez que amei. Talvez não por que tenha sido o maior amor o que o torna especial, mas foi o último. O eternopra sempre todos os dias em segundos escritos em olhares, toques e silêncios rompido por gritos de ternura e paixão. O amor que nos coloriu a face se refletia nas minhas lembranças que vejo refletida neste copo d’água em temperatura ambiente com gosto de fel nos perfumes de elixir paregórico das soluções das diarréias da infância. Fico a pensar no quanto somos volúveis e mesquinho com as marcas que o tempo vai escrevendo em nossa pele. As lembranças povoam em minha mente como varejeiras em torno de corpos necrosados, fétidos, numa decomposição que me funde ao solo e não me permiti locomover minhas pernas no espaço. Sinto-me fundir neste cemitério de sentimentalidades de minha cabeça insana. Sinto que minha orquestra de medo e acusação encerra o seu espetáculo, mas Ray continua a cantar melodias-jazz em suas teclas alvi-negras em notas que adocicam o meu paladar. Sinto-me fundir ao corpo do Eduardo numa sentimentalidades de alma que se incendeia em chamas de amor e paixão. Os meus olhos vão se perdendo em branco e preto e meus braços ensaia o seu próximo abraço, mas o amor é quem aquece nosso peito que se derrama em delicadez e doçura neste copo, agora vazio, o quem depositei com fidelidade o coração que deveria ter estado sempre no meu peito, aquecendo nós dois. Cresci ouvindo que a mim seria possível ser feliz e precisei morrer em mim e me redescobrir.
- E juro que nunca cri que seria inteiro teu.
- Eu sempre acreditei em nós dois, João. E não foi escolhendo todo dia estar contigo que descrevi o meu amor por você. E não me arrependo. – Ele cantava estas palavras pra mim, enquanto enchia o meu copo com a nobreza do vinho. E o vinho nos adoçva a alma e nós adoçávamos a vida. E assim foi, ontem, hoje e todos os dias, Eduardo e João!
FIM. RECOMEÇO. FIM. COMEÇO. PAUSA. FIM. FIM...VIDA!