sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Distância III

Você sentiu o meu toque, sentiu a minha voz, senti meu olhar e não sentiu a mesma familiar presença que muito te adocicava o espírito.
Eu não te toquei com calor. Não te falei o nome com fogo. Não te olhei com chamas.
Você recorreu ao São Jorge, mas ele te recusou o dragão.
Mitificou Hefesto, porém ele se distraia com as traições de Afrodite.
Fez prece a Jesus, mas o Espírito Santo pairava por outros ares.
Você chorou ao não ver tua beleza se refletir em meus olhos. Não chorou por mim, não chorou por você, chorou por tua incomparável beleza que se perdia num olhar.
Teu espírito amargou o mesmo fel que eu bebi, mas não foi proposital que o servi. Ainda queria te encontrar nos meus jardins e permitir aos beija-flores roubar das delicadas flores o que de mais doce havia, o que de mais belo continham, mas eles também voaram para um outro lugar.
A natureza se afastou de nos. Não tinha mais prazer em nossa companhia. Não queria embelezar o nosso encontro. O natural nos concebia, e nossa natureza nos abortava o amor.
Um silêncio se instaurou e tua boca clamou por saudades. Como resposta os meus lábios batucaram intenções antigas, e a distância se re-instaurou em nós.
Enfim entendemos que estamos mais próximos quando nosso coração se faz longe.

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