quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Até que o casamento nos separe

O nosso casamento foi o início de nosso fim. Antônio não podia entender que eu, de fato, não estava preparada para aquela eternidade proposta. Eu não estava preparada para ser pra sempre, ser todos os dias e também noites, tardes e madrugadas. Eu estava apenas. Estava totalmente disposta à ser companheira, namorada, amiga. Mas depois dos trinta todo homem precisa encontrar refúgio, na leitura de estabilidade, em uma mulher. E uma mulher à esta idade, o que anseia num homem? Amor? Sexo? Proteção? Ou a oportuna liberdade de ser simplesmente mulher ao subjugo de seu prazer e tesão. Aos trinta eu deveria ter começado à viver, mas vivi começando o que disseram que deveria.
Antônio não foi o primeiro homem ou amor de minha vida. Passaram muitos “Josés” por minha cama e poucos “Joãos” pelo coração, mas foi em Antônio que vi a emoção de passear junto, como nômades, hippie ou integrante de um movimento social, melhor, emocional qualquer e então pecorrer avenidas, ruas e brincar de dobraduras com as esquinas que teimavam em nos distanciar os caminhos. O Antônio não foi o único, mas um dos poucos de quem eu quis e me permitir trilhar trajetórias, mas ele implicava em fixar moradias, construir um futuro, uma vida. No tempo em que vida não nos faltava ele quis paralisar o presente e me presentear com incertezas e se’s que no futuro poderíam nunca existir. O Antônio teve o dom de precipitar o nosso precipício e caímos um de cada vez, em seu tempo, em seu peso, em sua dor.
Nunca fui uma menina de sonhar com príncipes encantados montados imponentes em cavalo branco, sempre me encantei com os pé-rapados que circulavam minhas ruas à pé, literalmente uma mulher de malandro. Sim, eu gostava da sensação de incertezas e inseguranças que eles me cercavam. Me faziam depender deles, confiar, era um medo que me produzia emoção. No amor, na paixão, temos que ter emoção, insegurança, medo. No amor, na paixão temos que sentir a adrenalina nos aquecer o interior, e a endorfina rasgar o nosso rosto com risos seguidos de gargalhadas sem um mínimo motivo. Não tem que fazer sentido para ser amor, paixão. Também não tem que ter não ter. Só tem que estar dentro e eu não estava já há muito tempo.
Não acredito nos dizeres de que o amor nos idiotiza, não, definitivamente não. O amor também não alfabetiza, por que o amor não tem grau, ou é ou nunca foi. O amor pode vir a ser e quando é falamos em uma outra língua e se há amor no amo, somos diretamente compreendidos, ao ponto de nós mesmo não nos entender. O amor é como um idioma, como uma disciplina, mas esta não se apresenta coerente nas grades curriculares das escolas da vida. Não precisa viver para ter amor, só precisa amar, mesmo depois da morte.
Certa vez cheguei à casa e encontrei o Antônio ansioso à minha espera. Parecia um cão que ouvira a voz do dono se aproximar e ruivava arranhando as patas na porta, mas como nos cães, em Antônio não havia feicão de alegria, era mais uma habitual cobrança e naquele fim de tarde o questionamento era o tão longo tempo que não ouvia de minha boca um eu te amo. Sim, ele contou da última vez em que disse até o dado momento. Até eu mesma me assustei, poderia contar em meia mão quantas foram após o casamento. Isto não era reflexo de falta de amor, não, eu sei que ainda o amava. Eu apenas não mais amava amar, não tinha prazer neste gosto, me enjoava só em sentir o cheiro. Era a mesma sensação que sentia quando uma amiga tomava ou apenas comentava numa caipirinha preparada com cachaça. O primeiro grande porre de minha vida foi com cachaça e desde então o meu estômago fez revoltas institivas cada vez o que o tal nome fosse pronunciado. O nosso casamento poderia ter sido como um degustar de um bom vinho, mas foi um porre fenomenal e permaneço em ressaca até os dias de hoje. Em coma de um amor que se ainda fosse alcóolico me produziria imaginações de sentir estar tudo bem.
Alguém poderia me trazer um pouco d’água, por favor? Ah, sem gelo e natural. Obrigada!

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