inteiro, parto-me em silêncio
onde a noite lambe o osso da alma
se alimentando de minhas gargalhadas
regradas no vinho barato de fim de mês
você fala por olhares mornos,
me mata num gesto de indiferente carícia
sem ao menos me ver
dói: um afundar de mim
onde só ecoam vozes já mortas,
palavras não ditas —
cada sílaba um corte invisível
cada querer um saber
finjo o pulso acelerado,
o pulsar que deseja acontecer
— mas sou intrínseco vácuo,
somente vulto que teme
ultrapassar o próprio corpo
saio, passo por ruas líquidas de neon,
tremendo — exausto de existir onde me rejeita
e nessa fria volta pra casa,
sou um coral ecumênico de medos,
uma promessa que não sustenta
aumenta nos câmbios de gosto de menta
você, intacto segue inteiro
Mesmo assim, eu sei:
há um pedaço seu em cada amargor meu —
quebra-luz que me rasga e me cura
caio, renasço no mesmo instante,
me sobras tu
em ti falta um lapso de mim arquejante
e o que resta das nascentes que nos trombam
quando o silêncio é mais real
que qualquer beijo?
Principalmente, o que nunca beijei
sorrindo pra minha jovem estupidez
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