Há ausências que não sabem ser silenciosas. A sua é uma delas.
O tempo passou e ainda me pego pensando em como tudo poderia ter sido diferente. Fomos cúmplices como poucos são. Conversávamos por horas, sobre tudo e sobre nada. Havia entre nós uma conexão rara — daquelas que não se explicam, só se sentem. Eu me sentia visto, ouvido, acolhido. E, talvez sem percebermos, estávamos ali... um no outro, em mim em você, e você em mim. Uma presença intensa, silenciosa e cheia de significado.
Nos faltou maturidade. Faltou coragem. Sobraram ciúmes, inseguranças, medo. E palavras que doeram mais do que eu poderia demonstrar, pois as feridas de amor são feriados prolongados. Assim como são os minutos em que você nunca quis parir.
Mesmo assim, eu nunca imaginei que esse afastamento aconteceria de fato. Eu nunca acreditei em tuas juras se silêncio. Que perderíamos o que tínhamos de tão precioso: nossa fidelidade ingênua, nossa lealdade rara, nossas conversas íntimas, inteligentes, cheias de vida. Nossos almoços simples, preparados com cuidado, na intensidade de quem está inteiro ali — e era isso que me encantava: estávamos inteiros um no outro, mesmo sem saber ou ousar assumir. Mas pra que denominar a paz se tantos já guerreiam por ela em nome de si?
Nunca houve fotos, nem exposições. E, de certo modo, isso também era bonito. Talvez por medo, por proteção, ou apenas por querer guardar aquilo só pra nós. E, egoisticamente ou não, eu gostava de imaginar que esses momentos habitavam também a tua memória com o mesmo valor que tinham pra mim.
Te vejo e te tenho como alguém especial. Sempre tive. Mas as tantas palavras agressivas, os silêncios e a rigidez me feriram. Produziram em mim um abismo de dor, medo, insegurança. E, por que não dizer, rejeição. Ainda assim, há uma parte de mim que não deseja um retorno, mas deseja que a vida te desarme. Que você encontre, de verdade, o sentido de ser homem — humano, sensível, leal. Se o teu pecado foi amar, até Deus já sorrir pra nós.
Desejo que essa revelação te ministre amor. E que, de forma mágica, ao tocar um Djavan, uma música da Cássia Eller, do Natiruts ou do Armandinho, alguma memória te leve não a mim, mas a beleza ímpar que é e pode ser você. E que, mesmo sem querer, um sorriso brote no teu rosto. Destes risos bobos, marotos, magrelos e quem sabe que eu sorrindo também eles se encontrem.
Porque, de verdade, todas as vezes que penso em você com paz, é um belo sorriso que se desenha em mim.
Que mesmo na distância, você possa sorrir também. Sendo ingrato eu chamaria de livramento, porém sendo pureza eu conclamaria a gratidão, pois foi na tua ausência fria e seca que desconstruídamente encontrei quem é você: tudo que não espero pra mim. Gravetos finos e úmidos pelo ranger do medo não queima em labaredas que exige o amar.
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