quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O meu maior medo é esquecer o rosto de meu pai

Eu e papai, década de 80

Com todo o respeito e educação, posso falar?
Não precisa me ouvir
Temo macular teus ouvidos que gritam por santidade
Não, não estou alterado tampouco preciso respirar fundo
Preciso é respirar lento, raso, tímido
E quem sabe poluir as narinas dele com vida
Mas ele não respira mais
Morta estão tuas lembranças que assassinam essência
E Deus,
Deus amou o mundo de tal maneira 
Que tirou o meu pai dele
Entre lutos que se repetem 
procuro manter viva em mim suas gargalhadas
A maneira crente de esperar pelo Pai
Hoje eu acordei querendo ser Deus
Só pra dar vida novamente ao meu pai
Não, Deus
Não me venha com tua sentência 
És tu que sabe de todas as coisas
Eu não falo das coisas
Eu clamo pela existência
Não, Deus
Não chores, pois não estou proferindo setas inflamados contra tu
Estou retirando com minha frágeis mãos de homem
Os dardos que fazem o rio vermelho fluir de meus olhos
Eu disse que não precisava me ouvir
Isto não é uma oração
Respeite-me em meu secreto
E deixe-me clamar por mim
Hoje acordei humano
E é o meu pai terreno, o de carne e osso, que me acolheria
E restaram só os ossos
E eu nem sei onde estão
Não queimamos no inferno
E ardemos no fogo que o próprio homem maquina para o nosso fim
Estaria a vida eterna na permanência das lembranças?
O meu maior medo é esquecer o rosto de meu pai
Temo a morte em vida
Morrer e esquecer de repousar minhas lembranças
Hoje eu acordei moribundo
Morto
Vivo
Vivo
Mort
Viv
Vi
M

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