sexta-feira, 7 de setembro de 2012

FIM DE FESTA: Aquela do reencontro

MIGUEL – Oi, eu sou Miguel.
BIA – E eu sou Bia, mas Bia mesmo. Bia de Bia, não é Bia de Beatriz. Não sei por que as pessoas insistem em me chamar de Beatriz. Caralho, se estou dizendo que me chamo Bia é por que sou Bia e não Beatriz, Maria, Claúdia... tampouco Alice.
MIGUEL – Bia, já deu.
BIA – Esta música melancólica também já deu.
MIGUEL – Você se lembra?
BIA – Sério!? Reviver? Figurinha repetida não completa álbum, Jomi. Get a move on, dear. E tem mais, tem hora que é preciso fechar o cliclo, né? Já deu. 
MIGUEL – Como se fosse fácil?
BIA – Se a vida fosse fácil era seria uma piriguete. Cervejinha?
MIGUEL – Não estou afim de beber. Mas a piriguete eu aceito.
BIA – Vai sair careta? Vai ficar no canto e nempegar resfriado. Te conheço, se joga, Jomi. Pois a noite é uma criança. E os meus novinhos dormem cedo. Festa!

(...)

...O mundo pode dar muitas voltas e demorar os seus fiéis 365 dias para retornar a sua primavera, mas algo é certo: um dia a gente ainda irá se encontrar... Depois de meses de fugas e outras fugas mais, o reencontro aconteceu. E quem se perdeu fui eu. Me perdi da imagem que sustentei durante estas últimas estações do ano. E eu não sabia se já era fim de meu inverno. Eu não sabia se eram flores temporãs. Eu não sabia que calor era aquele que sentia...  Calor num misto de frio na espinha e calafrios por toda pele. O constrangimento do conflito "te quero sem te querer querer"... Eu reconhecia aquele perfume de rosas. Eu reconhecia aquele olhar que defrauda. E Alanis Morissette outra vez cantou "Head over feat", só pra mim.

MIGUEL - Carla, que bom de te ver! Como está?

Bom te ver? Oh, meu Deus, e eu ainda tenho que ser agradável e esconder esta vontade sobre-humana que tenho entranhada de desviar o olhar destes olhos que me perfuram... E então encara e olha nos olhos,na crença desta fraudulenta verdade que olho no olho transmite verdade. Seria tão fácil, se assim fosse... Ela me olha e já sabe de tudo que formenta em minha língua dizer. Eu sei que ela, somente ela me conhece, talvez até mais que eu mesmo. Por quê ela tem de ser tão inconveniente e me ler num simples sorriso? Ela me perdeu. E nem depois disto me teve amor... Não é que damos valor às pessoas quando perdemos, mas muitas vezes ganhamos tanto amor que nem espaço ou ar para amar temos e assim nos sufocamos em todas as sentimentalidades que também gostaríamos de expressar. E então quando se acaba o amor, nos fica o comodismo de todo carinho recebido e a saudade de todo aquele calor. Isto não ainda não dar valor. Falta, valor e saudades são expressões muito diferentes...

MIGUEL - Sim, você vive. Morta em meu peito...
CARLA - Quem está morto não vive, Jomi. E você também vive em mim. Me lembro sempre de ti, mas...

Sem meio "mas" nem menos. Acabou! Ou pelo menos não pode ser outra vez. Todas as escolhas da vida são irrevogáveis. Podemos fazer novas escolhas e mudar o curso, mas não o passado. E ela seria apenas uma lembrança da qual me esquecerei com as luas cheias. Quando retorna a minguante, a lua é apenas uma lua. Se bem que nem para lua eu olho, não sou tão sentimental assim.

MIGUEL - Garçon, por favor, outra dose de cachaça.
CARLA - Não. Não traga. Ele já bebeu o suficiente.
MIGUEL - Você não é minha mãe. Vai se fuder...
CARLA - Não sou tua mãe, então não se comporte como uma criança. E pare de me culpar pelo o que aconteceu com a gente. Você tem tanta culpa nisto tudo como eu. Miguel, amor não enche a barriga de ninguém. Não fiz o que fiz por não amar você. Eu nem sei se foi por falta ou sobra de amor. Apenas fiz. Racionalmente fiz e não me arrependo. Eu fiz por mim. É o meu corpo. É a minha vontade. Não pense que é mais homem do que na verdade é, Miguel. E...

...E quando se ama tudo perdoa? E quando perdoa continua a se amar?...

MIGUEL - E... Eu nunca vou te perdoar. E isto também não é por falta de amor. Apenas pelo fato de te amar. Se fica feliz por saber, eu te amo sim. Agora faça muito bom proveito disto. Tenha uma boa noite. 
CARLA - Miguel, a gente precisa...

Eu precisava me desprender de mim para saber que ainda estava preso à ela?... Não me ame, pois ainda não aprendi a me machucar. E não me machuque, pois o meu amor é nobre. O homem é longe um animal interessante. Tem a proeza de pisar a lua e um coração como terra que ninguém anda... No certo ou no errado, me amarrei nos laços das condenações que o meu juízo agora me imperava. Assim vivi por muito tempo, mas eu também tinha o direito de ser livre... Do que? De quem? Nunca será livre no mundo, quem está preso em si mesmo... Não quero o castigo de resssuscitá-la como à um Cristo cada vez que a reencontrar. Não fui eu quem matei o amor. Não sou eu o assassino. Minhas mãos estão limpas. Não quero eu ser o Cristo. Eu não nasci pra ser deus tampouco, para o amor. 
O homem é muito estúpido. Fica neste filosofar de amores e se engana que o amor só se ama amando. Quem dizer que odiar não é amar? 
"And I've never wanted something rational. And I am aware now. And I am aware now."


(...)

BIA – Talvez tudo o que você tem que fazer é se libertar da obrigação de fazer algo, Jomi. 
MIGUEL – Eu a amei, Bia. E ela soube disto. Isto foi um erro?
BIA – Não sei, Jomi.
MIGUEL – Coloca mais um pouco de uísque pra mim.
BIA – Jomi, eu acho que você...
MIGUEL – Deixe o álcool ser minha companhia. Hoje eu o tenho. Ele e o cigarro que me preenche. Pode ir lá. Acho que estou bem acompanhado aqui. Vai lá.
BIA – Tem certeza.
MIGUEL – Sempre tenho.



... Não precisa negar a paixão. Afinal nesta vida não viemos pra sanidades, mas pra vida e se possível com muito álcool, pois se tem álcool, é sinal que a privacidade virou uma festa...



* Próximo capítulo: "Aquela do Sexo à três". Não percam!!!

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