segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Leite de pedra (parte 1)

Aquela noite prometia ser uma noite digamos que ousada! Ou, apimentada, quente, altamente quente! Muito louca!
Ela já saiu de casa no instinto "hoje viverei como se não houvesse amanhã". E há quem diga, que devemos mentalizar o que ansiamos e então surpresas podem acontecer. E assim foi.
Ela, menina travessa ao som de Naughty girl, dançou, encantou, atraiu o calor pra si e manisfestou no salão um atrevido perfume que ardia em seu suor. Era impossível não se ater em seus movimentos os desejos que corroíam o íntimo desenhado em formatos geométricos questionáveis. Daquele mato não sairia coelhos, mas abrigaria adestradamente venenos de uma cobra astuta. Sim, haveria de ter nobreza e astúcia para driblar os seus famintos lábios que cantavam grosserias entre as salivas produzidas em sua vontade de professar o seu credo. E houve. Teve quem se digladiasse por seu corpo, mas houve um outro que virilmente se encantou por algo que todos não viram.
Quando este invadiu sua visão ela se atrapalhou em meio ao seu encanto e coreografia. Sabia que seus olhos denunciavam que algo a fragilizava a dança. Mas este foi sublime e delicado, como em tempos não via, se encontrou com um cavalheirismo que a comovia o espírito. Ela sabia ser mulher, mas desconhecia-se menina. Entre relutâncias adolescentes se entregou num primeiro beijo. Não sei se você alguma vez na vida já viu duas pedras fortemente se chocarem, uma com a outra feroz. Este encontro produziu faíscas, e logo incendiou num cubículo entre escadas que interligava curiosos e constrangidos. Pedras quando se chocam se aquecem, queimam e seus estilhaços ferem e machucam quem as rodeiam. Estas tais, foram marcados pela pancada de desejar ser muitos menores que si, serem moscas, formigas e se deliciarem ao assistir os pedregulhos se triturarem e produzirem rios. Sim, há quem tem a maestria de tirar leite de pedra!
Cambaleando e se esbarrando entre degraus e maçanetas foram se perdendo ao encontro do caminho de casa e entre muitas quatro paredes uma destruição pode acontecer. E houve fogo e dilúvio. Houve montanhas e planaltos, houve vale. Houve valer de tudo, houve tudo valer de nada e as descobertas de si, de encaixes de beijos, de aberturas se salientarem. Houve cola na escola. Repetição de série. Houve quem ouviu a quilômetros de distâncias os uivos de suas cantorias. Houve gozo! Na verdade, gozos!


[ CONTINUA...]

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