sábado, 28 de junho de 2025

QUANDO SOBRA LUZ

 inteiro, parto-me em silêncio

onde a noite lambe o osso da alma

se alimentando de minhas gargalhadas 

regradas no vinho barato de fim de mês 

você fala por olhares mornos,

me mata num gesto de indiferente carícia

sem ao menos me ver

dói: um afundar de mim

onde só ecoam vozes já mortas,

palavras não ditas —

cada sílaba um corte invisível

cada querer um saber

finjo o pulso acelerado,

o pulsar que deseja acontecer

— mas sou intrínseco vácuo,

somente vulto que teme

ultrapassar o próprio corpo

saio, passo por ruas líquidas de neon,

tremendo — exausto de existir onde me rejeita

e nessa fria volta pra casa,

sou um coral ecumênico de medos,

uma promessa que não sustenta

aumenta nos câmbios de gosto de menta 

você, intacto segue inteiro

Mesmo assim, eu sei:

há um pedaço seu em cada amargor meu —

quebra-luz que me rasga e me cura

caio, renasço no mesmo instante,

 me sobras tu 

em ti falta um lapso de mim arquejante

e o que resta das nascentes que nos trombam

quando o silêncio é mais real

que qualquer beijo?

Principalmente, o que nunca beijei

sorrindo pra minha jovem estupidez


sexta-feira, 27 de junho de 2025

SIMPLESMENTE

quem acolhe
colhe sempre
no tempo certo
o melhor riso

pois quem é norte
se faz suporte 
pro nascer do sol 
quando preciso

PASSO

em cada passo
persisto

busco a luz que ainda insiste
na esperança
renasço menino
vejo no riso o elo divino

no velho, a tentação de ficar
mas escolho partir
reencontrar minhas partes
o tempo em que voar era verdade

no rosto
ver a pureza renascer
e reencontrar a velha infância
que abandonei no anseio de crescer

e deixar de ser pertencimento 


RUPTURA

quem me dera ao menos uma vez
entre a legião urbana sentir o ar
penetrar humanamente meu revés

deitar acolhido no bisturi suave do teu abraço
escuto a queda lenta de um prego enferrujado
tentar chorar de tristeza ou alegria
desmantelar os erros que faço

a solidão interrompida por tuas lembranças
eu perfuro as paredes do quarto
na procura de tua voz
no travesseiro não mora mais o teu peso
onde o quase choro é poesia

sou tantos quases que me faço nunca

espelho em frangalhos
máscaras distorcem no calor do fondue
e tuas lembranças me colonizam
numa opressão que ainda se reinventa

somos disfarces
faces desalinhadas com o sentir
o teu mantra hipnótico de me possuir
sem ao menos querer saciar
esse maldito vício da saudade
uma essência perdida, um adeus sem partir
pois é canção que nunca se compôs

quem me dera ao menos outra vez
diluir o adeus que em looping me incompleta



quinta-feira, 26 de junho de 2025

NEGO DA USINA

Sou do morro
E morro de orgulho 
De minha trajetória 

Sou do morro
Não corro da luta
Eu faço história 

Sou do morro
Não torro meu tempo
Provando verdades

Sou do morro 
Eu dobro a vida
Dosando-a em bondade

Subo o morro
Converso com Deus
Não perco a esperança 

Subo o morro
Conheço o céu 
Basta olhar uma criança 

Subo o morro
Divido o feijão
Presencio milagres

Subo o morro 
Digo “oi, meu irmão”
Da família sou parte

Desço o morro 
Nem sempre o bom dia
Contem alegria

Desço o morro 
Procuro no olhar um conforto
Sorria!

Desço o morro
Descubro que a graça 
Está no plural

Desço o morro 
Convido a praça 
Pra conhecer meu quintal

Sou nego da Usina
Não nego 
Sou vida em cena
Essa é minha sina
Ser Cidade em Poema

terça-feira, 24 de junho de 2025

LINHAS

Deus não escreve por linhas tortas,
pois tua sensibilidade inspira perfeição
mesmo quando tropeço e fecho portas,
Teu amor me abre outra direção

Deus de imensidão,
mas em meu peito faz morada
Senhor da criação,
que dos meus tropeços dá risada

Deus não escreve por linhas tortas,
mas entende os desvios do coração
mesmo onde deixei trancadas as portas,
Ele entra com chave de compaixão

Deus que sussurra nos ventos
e acalma as tempestades,
me guarda nos desalentos
e me livra de toda maldade

Deus de beleza que se curva às minhas falhas,
onde habita realeza e faz da dor lição,
me chama por nome entre as batalhas
e me coroa em meio à contradição

Deus não escreve por linhas tortas,
mas sabe ler minhas tentativas tortas,
traduz silêncio, cruza as minhas portas
e dança comigo em minhas derrotas

Deus de maravilhas,
que me conduz a ilhas — internas, solitárias
que ama, partilha,
e não desiste das minhas partidas diárias

Deus não escreve por linhas tortas,
mas faz poesia do que rejeitei
E quando penso ter perdido as rotas,
descubro que foi ali que mais me encontrei

sexta-feira, 20 de junho de 2025

PRETÉRITOS

 num pretérito mais-que-passado

te amei

numa conjugação coloquial

de quem teme o passado

e goza os predicativos chulos

de um presente do indicativo

que nada indica além

do que resiste a milímetros

do umbigo mal curado

tão raso que ao menos

a sincronicidade compartilha

tola, tolima, tolida


há pretérito mais-que-perfeito

onde moram línguas

em riachos doces

ou pastilhas de hortelã 

dissolvidas em goles

desenfreados da cevada

que tampouco Bukowski desconhece

mas antes de qualquer sonoridade falar

hidrate-se do que escorre da boca

antes mesmo de ter nome —

pois o céu da boca não mente,

e as línguas silenciam segredos

que só o suor ousa revelar

entre a constância de um vale e um pico

A poesia, essa vadia sagrada,

mora onde a fala falha:

nas entrelinhas.

e entre nós existe o querer


entre


quarta-feira, 18 de junho de 2025

REFLECTION IN A FOGGED MIRROR

suddenly, I glimpsed myself in the mirror—
not a face, but a flicker of absence
I traced the outline of my eyes,
those quiet abysses where meaning drowned
something in my pupils pulsed like a secret,
yearning to be named
I was there, yet not arrived—
a shadow staring back, unrecognized

still blind to myself,
I danced barefoot on the wet floor
of the bathroom where I had just bathed
I washed, I lathered, I scrubbed—
but the dust of your words,
your touches,
your touch,
your memory,
still clung to my skin—
naked, cold,
almost dead

I looked into the mirror
and saw not me,
but the you
I had created
to survive

alive?

terça-feira, 17 de junho de 2025

FELIZ OUTONO

Hoje a manhã acordou com anseio de amanhã. Como se os ponteiros do tempo estivessem embriagados pela pressa e pudessem pular a dor, adiantar a mágoa, silenciar o que ainda pulsa. Mas não pulam. Não silenciam. O hoje insiste em ser estilhaço do ontem, com a maturidade tardia que só a ferida aberta nos ensina a suportar.

O tempo não recua. As chuvas não se devolvem ao céu em forma de lágrimas. Um abraço quente não permanece onde a vaidade já cavou trincheiras. Sim, o amor é guerra. E amar talvez nosso último ato de revolução.

Hoje é um dia que não deixou de ser especial. E a memória insiste em peças pregar na narrativa do meu recordar. Rasteja em sua noite precoce como um cão ferido buscando o próprio rastro.

Um armandinho sorrateiro da lembrança me castiga com imagens sonoras que antes seriam ternura — hoje são afiados espelhos retrovisores. Caminho encontros e despedidas empregados nos pretérito-mais-que-perfeito. Todavia perfeito nada é.

Carrego no lombo teu corpo despojado de gentileza. Carrego tua infância eriçada, tua defesa armada, tua rispidez travestida de trauma da qual nunca experimentará a cura. Carrego tua voz encostada nas paredes da casa como mofo que não se deixa arrancar, como uma promessa que se apodreceu no tempo ou ainda a leveza de fitar teu corpo já cansado no banco grande e desconfortável da varanda.

E nas ruas, o silêncio. O silêncio do teu adeus nunca dito — apenas vivido. O silêncio que sempre foi a condição gentil.

Queria te desejar a morte em mim, mas na saga tortuosa pela indiferença, acabo te levando flores.
Flores mudas, flores vencidas. Pois fétido já está o requebrado da tua rigidez. E você ainda não percebe.

Meu peito hoje está lavado de esperança — como as escadarias do Bonfim, onde celebro um luto não autorizado. Despi-me de você sem mee despedir do âmago que eu criei.

Contemplo tua ausência como quem contempla um corpo desacordado de si, sem a intrepidez vivaz, enquanto se reza um reggae à meia-luz, entre velas e cinzas.

Feliz o homem que se permite, mesmo temendo, abrir o frasco de um amor guardado — não para ressuscitar, mas para finalmente enterrar os restos dos ossos do almoço insípido que preparei para o meu juízo.

Feliz aquele que aprende a despedir-se sem testemunhas, sem rito, sem culpa. Bem-aventurado o que não por mera aventura degusta o miocárdio quente que ainda pulsa teu nome, pelo simples apetite do possuir.

Feliz o outono, que em seus gravetos erguem guaritas de lucidez. Que a ti revele outra alma, não melhor, apenas menos cruel com os afetos que depositava na armadilha da defraudação. Afetos teu pra ti. Ah, se vc se rendesse de amor por ti. Quem sabe ainda haveria vida!

Feliz outono! Que em seus gravetos de guarita a verdade lhe traga um outro alguém que lhe toque o coração, sem rolá-lo numa mesa de bilhar, encapando em redes que pescam virilidade nesse amor que jaz como um losing game.

Eu, sigo.
Com a alma sangrando em silêncio e o peito limpo da esperança de retorno. E torno a dizer, sê feliz!
Não te espero mais. Não te desespero menos. Mas também não te expulso. Pode ficar, você  faz parte. Te guardo e te felicito junho. Porque há dores que não viram cinzas — viram poesia.

POROS

deixa a louça do café 
o mundo é curto pra se distrair.
vista o corpo com minha pele 
Me banha enquanto o sol  se ressurgir

eu gosto de você 
porque você é tão grande.
de Nietzsche a Monet
também cê fala bem com a glande 

eu gozo com você 
e não enceno o que sinto
você dedilha o prazer 
e nós meus lábios eu sou rio 

deixa a cama por fazer
um continente faz em casa
eu respiro em degradê
nuances em corpos flama em brasa

deixa eu colorir você
deixa eu escalar teu olhos
tudo entre eu e você 
é que nós grita os poros 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

EU REMO

 O açoite me fez carne

E minha carne virou memória.

Nos porões fétidos, úmidos

— onde se abafam nomes —

meu grito apodreceu junto aos teus galardões


Cicatriz que canta em silêncio

nos porões da tua história.

Meu corpo é como a noite

— denso, inteiro, sem clemência.

Esconde as dores que gritam,

e teme o dia com prudência

No leme rompido da minha existência,

sou navio sem rota, mas sigo em resistência

Mercadoria sem nota e de valor vilipendiado,

mas meu passo é tambor — jamais silenciado


Navego os mares que jorram os olhos,

sal feito do sal que me fizeram engolir

Cada lágrima é um remo

cada afogamento, um porvir

Velo corpos ao mar, mães que amamentam secas,

pelos reis que perdem rainha,

guerreiros que desconhecem a luta,

cultura e idiomas que não mais transam

pelos santos quebrados pelos murros,

terreiros queimados, orixás em desterro —

mas o tambor ainda pulsa no escuro.

Esperança a esverdear — quem me dera ser preta


De suas raias mães rasgam a doçura,

Abayomi para as crianças

sementes entre as tranças nos cabelos 

Nosso Dom na tortura: é manter-se duras

e na malemolência requebrar os quadril 


Oh, Colombo, por que de tanta infâmia?

Remo em vielas, em ruas, esquinas,

navego em lágrimas, gritos e sinas.

Eu remo, me tremo na coragem de sobreviver —

Oxalá, meu Deus, saborear o viver.


Renego a graça de me chamar de "ti",

pois não me vês, não me sabes.

Tua língua nunca soube meu nome

Tua boca nunca caberia meus abismos.

Nem teus sonhos as estrelas de lá 


Invoco meus deuses no ar que choro,

Oxum, Iansã, Nzinga e Dandara.

Meu peito é quilombo,

minha alma: espada rara.

Toda dor tem um peito.

Todo preto não tem um sentir.


Mercadorias lançadas ao relento —

som lento ressoa no corpo: tambor a ruir.

Ainda 'stamos em pleno mar,

em nau errante que cravam as favelas.

Senhor dos desgraçados, em tua ira rasga as velas!

E esqueça o mar — essa festa impura que tribupia.

Que reste a terra — onde a dor se costura

com a fibra da luta, e a alma não esfria.


Eu remo.

Contra a corrente do esquecimento,

pelos filhos sem parentesco,

e cultuar sem terras.

Remo contra o naufrágio da cor,

contra os olhos que me negam,

ou as câmeras que me cercam.

Remo pelo espelho que me deixou sem flor

e pelo odor de morte


Temo esse mundo de horror.

Já cansada estou de ser forte.

Temo por esse submundo de pavor

Já não sei se o inferno é aqui

Ou certo estão os que celebram a sorte


domingo, 15 de junho de 2025

SUSAN SONTAG

 eu colecionei beijos por rotina
Transpirei transas por nada mais pra fazer
escalei corpos pelo esporte da sedução
eu atrasei a noite só para te ter


A tua música me encanta 
Teu humor me agridoce 
Tua naturalidade me apanha 
por você anéis de Marte são posses 

Sempre nos saudamos em Deus
Sempre nos aconchegando no olhar
Ah, que pena os medos teus
Eu tinha um mar para te num papel capturar

APROVEITAR A FESTA JUNINA E QUEIMAR UNS GRAVETOS

não haveria tua presença 
se não a angústia da ausência 
assim como soam as melodias
na timidez do silêncio 

você é o que cala em mim
minha repetida discrição
teu olhar alfabetiza minha vida
tonifica a alegria
e não são das gargalhadas que canto 

em casa canto de mim 
mora um pronto secreto 
do que poderíamos ter ido 
e nós permitimos ao ir

no silêncio  do segredo 
de sermos dois
temos um ao outro
dói feito respingos de óleo quente nas íris 
me cega, nos mata
e agonizando eu revivo você

tem dias que queria ser o sol
te aquecer, me aquecer
te alimentar, me satisfazer
e saber que o partir 
é só o charme do retorno ama

Te sepulto todos dias 
E em todas as horas te reviverei

quarta-feira, 11 de junho de 2025

GRAVETO

Há ausências que não sabem ser silenciosas. A sua é uma delas.

O tempo passou e ainda me pego pensando em como tudo poderia ter sido diferente. Fomos cúmplices como poucos são. Conversávamos por horas, sobre tudo e sobre nada. Havia entre nós uma conexão rara — daquelas que não se explicam, só se sentem. Eu me sentia visto, ouvido, acolhido. E, talvez sem percebermos, estávamos ali... um no outro, em mim em você, e você em mim. Uma presença intensa, silenciosa e cheia de significado.
Nos faltou maturidade. Faltou coragem. Sobraram ciúmes, inseguranças, medo. E palavras que doeram mais do que eu poderia demonstrar, pois as feridas de amor são feriados prolongados. Assim como são os minutos em que você nunca quis parir.

Mesmo assim, eu nunca imaginei que esse afastamento aconteceria de fato. Eu nunca acreditei em tuas juras se silêncio. Que perderíamos o que tínhamos de tão precioso: nossa fidelidade ingênua, nossa lealdade rara, nossas conversas íntimas, inteligentes, cheias de vida. Nossos almoços simples, preparados com cuidado, na intensidade de quem está inteiro ali — e era isso que me encantava: estávamos inteiros um no outro, mesmo sem saber ou ousar assumir. Mas pra que denominar a paz se tantos já guerreiam por ela em nome de si?

Nunca houve fotos, nem exposições. E, de certo modo, isso também era bonito. Talvez por medo, por proteção, ou apenas por querer guardar aquilo só pra nós. E, egoisticamente ou não, eu gostava de imaginar que esses momentos habitavam também a tua memória com o mesmo valor que tinham pra mim.

Te vejo e te tenho como alguém especial. Sempre tive. Mas as tantas palavras agressivas, os silêncios e a rigidez me feriram. Produziram em mim um abismo de dor, medo, insegurança. E, por que não dizer, rejeição. Ainda assim, há uma parte de mim que não deseja um retorno, mas deseja que a vida te desarme. Que você encontre, de verdade, o sentido de ser homem — humano, sensível, leal. Se o teu pecado foi amar, até Deus já sorrir pra nós.

Desejo que essa revelação te ministre amor. E que, de forma mágica, ao tocar um Djavan, uma música da Cássia Eller, do Natiruts ou do Armandinho, alguma memória te leve não a mim, mas a beleza ímpar que é e pode ser você. E que, mesmo sem querer, um sorriso brote no teu rosto. Destes risos bobos, marotos, magrelos e quem sabe que eu sorrindo também eles se encontrem.

Porque, de verdade, todas as vezes que penso em você com paz, é um belo sorriso que se desenha em mim. 
Que mesmo na distância, você possa sorrir também. Sendo ingrato eu chamaria de livramento, porém sendo pureza eu conclamaria a gratidão, pois foi na tua ausência fria e seca que desconstruídamente encontrei quem é você: tudo que não espero pra mim. Gravetos finos e úmidos pelo ranger do medo não queima em labaredas que exige o amar.



CONVEXO

ele viu partir quem ama
em cada passo inversamente proporcional
partia em si as expectativas do agora
esquartejando o riso acolhedor 
envenenando a doçura que escandalizada 
o leito do rio de suas risadas
que desenhara em sua alma 
o colorido da face que se fez cinza
assim como céu outrora laranjado
as pernas não mais suplantavam a fé 
e assas ainda não tinha carícias
pra nós estômago voarem
soluço discreto o risco fino no coração 
sufocou em convexo o peito
que escalava a faringe 
manteve-se pleno 
assim como convinha a um imperador 
assim como aquele que nunca assumiram um amar
guerreou consigo mesmo suas culpas
e se aniquilou no paralisar
um amante
tudo era bem
tudo está bem
tudo haveria de passar 

mas e quando chora o peito o fel
vale a pena na insensibilidade dos outros
recolher o sabor e insípido gargalhar?

nesta vida solipsista só, 
bem só me resta viver
pois quem por mim choraria o meu mal?

AFIXO

Beijei muitas bocas 
as quais não agraciavam seu nome
Corri entre o mar e docas
em todo vento do outono o esperar consome

me deito na pílula que apraz
me esqueço de mim, da paz
revivo discreto o fim
que todo começo espero 

vejo nas perfeições dos outros
a ânsia apolínea em sufoco
prefixo de amar entre muros
paredes, afixos inseguros

entregas são puros pores-de-sol
barganhas são sempre o prazer
por mim, recuso o sol
do raio distante é você 

nem todo sentir é sentimento
E os que inventei é sempre amar

terça-feira, 3 de junho de 2025

RANHURAS

pensamentos conectados
com o desligar das sinapses 
que reconstroem sua voz
nas ranhuras dos muros
violentados pelas raízes dos coqueiros 
que não me trouxeram sombra
mas assombram meu jardim
com folhas secas
de um amor estéril 

o amar é a imprópria desproteção