segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um amor daqueles

Num primeiro instante eu fui tomada por um suspiro dilacerador e repentino, destes que arranham os pulmões, congestionam as vias e secam o paladar. Logo fui embalada por três sequentes fôlegos ritmados que a minha voz roubou, pupilas dilatou e denunciou que era ele que os meus olhos viam se aproximar lentamente em minha frágil direção. Tentei fingir, fugir, fazer de conta que nem conta havia dado de sua presença, mas os risos tímidos já se salientavam num dos cantos de minha boca, revelando uma constelação de estrelas no seu céu que iluminavam o sorriso que em instantes segundos seriam gargalhadas idiotas e sem sentido. O amor sempre me fazia rir descompensada, menina e infantil, no sinônimo de verdadeira, transparente, destemida de apenas ser e viver as cores desprovida das formas.
E ele veio se aproximando e chegou, encontou e sorriu. Desfaleceram os meus poucos sentidos e os meus olhares se bifurcaram na coreografia de contemplar o céu e o chão e assim fugir de seu olhar, mas delicado o seu brilho me atraía, me conduzia à mim mesma. Olhar para si era encontrar à mim. Encontrar o meu reflexo em suas pupilas nas cumplicidades das íris era me sucumbir às defraudações incestuosas que a sua alma me convidava. Eu me sentia como menina convidada pela primeira vez à bailar ,vestida de debutante, ornada com orquídeas e perfumada com jasmim. Eu me sentia retornar no tempo e o seu gosto doce me fazia recordar as águas turvas do Paraíba, colorida a caramelo ingênuo e que em sua profundidade resguardava imensidões de coloridos vivos, em variadas saliências, em distintos mitos ou gritos infames. Aquele era um amor diferente, não era de inverno, outono, tampouco de verão, era um colorido mais vívido que primavera, era um romance de estação confusa, nova, livre, era um romance que continha em nossas palavras as sua própria trilha de sonoridades musicais que nos conduziam à danças reais, nobres, danças de realidades imaginárias e figurativas, que me conduziam à poesia, ao canto simples de suspiros de amor.
Era um amor dos quais todos sonharam, homens , mulheres, araras e piriquitos, era um amor que me entorpecia e trazia à margem todas as minhas saliências e emoções. Era uma amor transbordante que nem mesmo a a palavra amor capitava o dom da essência revelar. Um amor daqueles que nos rompem, tange e tingi, era um amor do qual não sei o nome, gramática ou tom, ou havia de ser somente um amor que sonhei.

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