quinta-feira, 4 de setembro de 2025

ESPERO PELA ESPERANÇA

já faz dias
dias enrolado em lençóis
três edredons, travesseiros empilhados como guardiões
de um vazio que fede a cemitério

e é curioso — o cemitério me suspira lembra vida
ali, onde a morte se empilha, é onde mais sonhos repousam
honestidade, entrega, transparência
palavras que soam limpas
mas quando tocam a pele arranham
a gente cobra de si mesmo uma perfeição impossível
o perfeito paralisa.
o perfeito castra.
o perfeito fere
o perfeito enfraquece o possível feito
eleito por minha energia psíquica possível nesse jantar
e nesse jogo sujo de auto cobrança,
a gente se sabota,
a gente projeta no outro,
a gente se frustra

não culpe os narcisistas se você mesmo se calando
ao revelar os secretos ensejos 
os permitiram pela idealização se apaixonar
definhar, se afogar

um ciclo que se fecha em si mesmo.
é difícil sair.
é difícil admitir que parar também é movimento
que ouvir o silêncio também é escolha.
que sobreviver já é, de certo modo,
um ato de resistência
resistir sem se embrutecer
dance teu pas deux de com o vento 
mas sobreviver não basta

me descasco do medo.
me escamo da vergonha de ser frágil.
flerto com o fluxo
mesmo torto, mesmo lento, mesmo falho

e aí vem o perdão — pedir e conceder
o perdão que não é leve, mas urgente
o perdão que acorda antes que seja tarde
é agora
mesmo com o medo.
mesmo com o vazio.
mesmo com o nada.
é agora.
viver.
e repetir até acreditar a crença da esperança
amanhã acordar outra vez

ela irá

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