quarta-feira, 15 de maio de 2013

Só tenho medo de que a mudança me mude

Johnny também não está em casa. Ninguém está. Todos saíram cedo e ainda não voltaram. Eu sigo dando voltas e revoltas em torno de mim.
Se tem comida na geladeira. Ela está cheia. Deixaram tudo congelado, inclusive a minha respiração. Os meus pés estão frios. A minha boca ressecada, parece terra fendida do sertão. Minhas palavras estão secas.
Eles deixaram um recado antes de sair. Colaram-o na geladeira. Mas não sei que diziam. Não sei ler no idioma que eles falam. Gritam. Cantam. Talvez fosse apenas um lembrete de algo que eu deveria fazer ou alguma encomenda que está pra chegar num destes dias. Não é nada pra mim. Nunca é.
Eles não consertaram o vazamento da pia do banheiro. Ela continua chorando. Chorando. Chorando. Ontem ela se cansou. Parou. Isto foi por apenas alguns segundos. Preferi deixá-la só. Questão de respeito. Mas pedi pra Iemanjá represar as águas de sua alma. Mas ela também estava ocupada. Saiu pra caminhar pela orla. Estava cansada do sol perturbando sua face. 
Eu não tenho medo do escuro. E ontem nem teve trovão. Só tenho medo de que a mudança me mude. E então eu fique mudo. E então eu fique Johnny.

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