sexta-feira, 31 de agosto de 2012

FIM DE FESTA: Aquela dos cigarros

MIGUEL - Oi, eu sou Miguel.

BIA - E eu sou Bia. Mas Bia mesmo. Bia de Bia, não é Bia de Beatriz. Não sei por que as pessoas insistem em me chamar de Beatriz. Caralho, se estou dizendo que me chamo Bia é por que sou Bia e não Beatriz, Maria, Laisa...
MIGUEL - Mas agora o teu nome é Maria 44!
BIA - Caro, Miguel, eu sempre fico pensando no real motivo que te leva implicar tanto com uma pessoa tão doce e generosa como eu...
MIGUEL - Nossa! Fico feliz, você pensa.
BIA - Penso. Claro, que não frequentemente, pois não vim a esta vida pra gastar tempo com pensamentos reflexivos, mas para investir vida em meus pensamentos.
MIGUEL - Você está...
BIA - Eis a diferença entre nós dois, guy: eu vivo e respiro meus pensamentos, você pensa e se sufoca neles mesmos. Fica a dica. Beijo no ombro!... Partiu?

(...)

É um fato que se estende a todos: todo mundo tem algo a esconder. E todos fingem que nada esconde. E eu não poderia estar excluído desta estúpida generalização...
Bia tinha o dom de nos ler as mais corriqueiras “meia-verdades”. Não era um julgamento de meu comportamento. Era a sabedoria dela que se manifestava na arte de reconhecer a árvore pelo fruto... Fim de festa para o velório que me sepultava vivo no peito, era hora de dar vida aos meus monstros e sentir o doce ou mesmo o amargo sabor da vida, pois a mesma só é continuamente mel para aqueles que fazem de seus sonhos ou ilusões a sua verdade absoluta e cristalizada.
Eu sentia em meu paladar que o meu real desejo era de construir agridoces sabores em minhas realidades e então desconstruir as verdades que as ilusões e sonhos que muitos construíram pra mim. Se a vida é fugaz como uma fumaça que se esvai, será nos cigarros que definharei a minha ilusão... E quem disse que existe verdade? Já falamos sobre isto...
Parti pra festa. Parti pra balada! Parti pra vida numa sede de viver como se não houvesse amanhã... Like there's no tomorrow! That's the point! Se joga? Não. Se voa, Miguel...
Eu sentia um incêndio acelerar carbono em minhas veias. Precisava correr atrás dos anos passados. Tinha, de fato, uma vida pra viver. Tinha sede por vida... Sede?

BIA - Você deveria começar bebendo devagar...

Devagar anda a Terra. 365 dias para percorrer o sol. Eu ando na velocidade da luz, preciso de muito álcool no meu motor. A palavra é acelerar... Queima na largada e morre e à beira-mar. Crianças

UMA MULHER AFIM DE MIGUEL - Eu não tenho outra opção. Você é quem eu quero esta noite!
MIGUEL - Desculpe-me a estupidez, mas com todo o respeito e educação: Eu não sou uma opção!...Grosso!

Que se foda! As mulheres pensam simplesmente por serem mulheres eu tenho que estar sempre à disposição delas. Reclamam que as tratamos como um produto no mercado, mas somos nós, homens, que somos tratados como um objeto. Desculpem-me, mulheres, eu gosto da condição de caçador. Por favor, não inverta a ordem dos produtos. Tenho a minha masculinidade muito bem definida ao ponto de dizer um não à mais gata da balada, simplesmente por não estar afim. Não achei o meu pau no lixo, tampouco minha boca no... Eu sempre digo: bebeu? Perdeu-se o filtro! Cadê o Wallita?
Nunca leve uma amiga que bebe mais que você nos dias em que quiser tomar um porrete faraônico. Ela sempre tentará te controlar ou ficará a dar toques de autocontroles o tempo todo. Se fosse beber para ter controle de meus atos eu procuraria uma igreja evangélica e iniciaria uma campanha destas qualquer. Foco? Focamente desfocalizado!

MIGUEL - Não quero foco. Quero perder o foco, o auto-controle, o centro... E o orifício rugoso? Os de bêbado não tem dono... Quero fogo! Quero fogo. Alguém tem um cigarro?
BIA - Você vai fumar?
MIGUEL - Não. Vou preencher o vazio de meu pulmão e esvaziar-me de minha paz.

Poetizando os cigarros, eles são como vazios que preenchem o vazio que carregamos afetivamente no peito. O cigarro mata a nossa solidão. Preenche a boca, o pulmão, nos vazios mais minúsculos e inabitados. Ignoro as estatísticas de morte e doença... Já que há tanto veneno num trago de cigarro, que eles mortifiquem os meus medos e dores. Que eles queimem minha solidão de mim a cada trago e então eu te trago o meu amor...
Álcool e cigarro não combinam. Ressaca de cigarro? Pior ainda. Viver a vida como se não houvesse amanhã é pros fracos, os fortes deliciam-se dos segundos que nos foge e então celebram a arte de viver. Mas não precisa ser sóbrio! Claro!

(...)

MIGUEL - Eu não estou aguentando tanta dor de cabeça...
BIA - Fuma mais um pouco, filho da puta.
MIGUEL - Acho que enchi tanto o meu vazio que estou cheio de solidão.
BIA - Também, quer viver como se fosse o último dia de vida.
MIGUEL - Bia se eu morrer você vai chorar?
BIA - Chorar? Chorar é pros fracos. Darei uma festa e tomarei um porrete apocalíptico, afinal nesta vida não vim para...
MIGUEL e BIA - Sanidades!
MIGUEL - Fim de festa!

... Não precisa se preocupar em apagar o cigarro. Afinal, nesta vida não viemos para sanidades, mas para inundá-la os vazios... E se possível com muito álcool, pois se tem álcool é sinal que a privacidade virou uma festa...

* Próximo capítulo: "Aquela do reencontro". Não percam!!!


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