terça-feira, 26 de novembro de 2024

Falta

Te recolhi nesse fim de dia como um íntimo diário que rumino meu silêncio. Sou cheio de ar e sufoco-me com as palavras não-ditas. Sou cheio de gritos e coreografo meus passos em melodias românticas que não se equalizam no left and right de meu headphone. Sou cheio de vazio intercalado por pas de deux com a inquilina solidão.
O cheiro da tinta tom castanho escuro se acasala com os tinos de minha mente. Uma explosão de desconexões tumultuam meu sentido. E nada sinto. Além do alumínio que esconde as primaveras que sangraram meus cabelos.
Eu mergulharia-me num copo qualquer de etílico barato. Melhor, mergulharia-me numa bela taça de cristal onde despejaria o rio que hidrataria o silêncio que me permitiria debruçar. Eu gargalharia pra mim. Contrariando o plot da vida medíocre que sucumbi.
No cheiro perpetuado no travesseiro recordo as lágrimas que mancharam meu rosto, inundando meus poros de salina das doçuras que rejeitaste. Nesse momento recordo-me que há meses não troco a fronha e o lençol da cama. Faz calor, o ventilador ventila cinturas caribenhas, eu me cubro transpirando sob o edredom cinza e a manta vinho. Uma taça de vinho eu beberia para alimentar em mim a esperança que no celular subscreveria na tela tuas lembranças de mim. Um.mensagem qualquer.
Outra vez sigo a falar de saudades. Outra vez sigo o rumo de esperar te ver.
Tenho dores no coração que apertam o fluxo do peito e seus músculos bombeiam pequenas explosões de medo tingidas por risos. Tão negros como o tom castanho escuro que me esconde nos calos que tatuei na esperança de te ver.
Outra vez volto falar de ti. Um círculo vicioso de espera e querer. Tenho piedade de minha falta de respeito próprio. A propósito, falta é a única presença aqui.
Outra vez eu sigo no fluxo de não fluir naturalmente e com violento comparecimento e recolho as veracidade. Os meus olhos não mentem. Eles não. Eles revelam o cômodo onde em casa velo teu corpo franzino, alvo e intrigantemente sedutor. Os meus olhos se vêem em ti e no cemitério de minha cabeça espero te descansar a ternura.
Caro diário, por hoje é só. Afinal, sou só.

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