quarta-feira, 20 de abril de 2016

Puro desconhecimento

O amor não é puro
Assim como é santo o ciúme 
O amor é desconhecimento sabido
Terra virgem que se prostitui
O amor é equação de terceiro grau
Efetuada por terceiros
Quem irá nos proteger de nós?
Quem irá desatar os nós de nossa garganta?
Quem beijará o sapo que não transamos engolir?
Quem gozará por nós?
Se o amor fosse luz 
Onde se esconderiam minhas traições?
Se o amor fosse incondicional
Onde treparia a dor com querer?
O amor é trama ilegal
Subsequenciais medos arraigados com o risco
Tesão que não sambam as pernas
Porra que sempre é louca e quente
Amor é o querer você me dominar a não desejar
Ai, amor

terça-feira, 19 de abril de 2016

No dia em que Maria se morreu

Nem sei
Disseram que os dias passam
Mas os dias se enrugam
Gastam minhas utopias 
E nem pia minha gota d'água 
Eu se chama derrota
Que se acende sem escolta
Sem proteção do que nem se teve
E se atreve arriscar sinais
Nem sei se os sinos tocaram
Talvez pela sina sinalizaram os ais
Mas todos os dias eram talvez
E Maria era dor em vida
Risos coreografado sem sintonia
Com o que sinto
E sem cinto se situou no chão 
E nunca se levantou
Em si caiu
E ecoou no chão o seu silêncio 
Os sons que todos ouviam
E calavam
E traduziam
E adestravam
No dia em que Maria se morreu
Foi o único dia em que por mim
Se passou vida
Que descanse eu em paz
Ou morra de rir

sábado, 16 de abril de 2016

As ruas de tua boca

É bossa a harmonia do som de tuas palavras
É deleite
É manjar dos pecadores 
A textura de tua boca é o que deseja
A sequidão de meus lábios 
Tão vermelha quanto o fogo
Em contraste com o alvo de tua face
Onde se transcreve tua ingenuidade de menino
Onde se reflete as artimanhas de minhas mãos 
Ah, como me refresca o menta de tua saliva
Que não mente pra mim
Que me hidrata o coração 
Que me inunda de tesão
E imunda a tensão 
E a faz se sentir pertencente ao mundo
Tão natural quanto a luz dos olhos teus
Olhos que sangra pureza
E dilacera os lugares secretos em que se esconde a paixão 
E livra o meu peito 
Do livro que por saber ler
Me recuso inscrever
Ah, se eu pudesse capturar o cheiro que foge de tua boca
E penetrar os meus olhos com o gosto teu
Ah, se as ruas de tua boca falasse de mim
Ah, se tivesse eu pernas para em ti caminhar meus indicadores
Em todo amanhecer 

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Meu mal bem

Meu bem
É o ciúme o meu mal
Ele se acostumou aos meus encostos
Costurou-se firme em minhas costelas
Em fio de nylon
Em nó cego
E me permitiu ver a circunferência do umbigo
Ali na doçura das confusões de minha interpretação
Me afoguei

Meu bem
Você pega o meu medo
E abraça até que ele se sinta
Como parte de nós
Assim como o prazer
Parte que à parte dos parte em dois
E sinaliza nosso mal querer
Querer latifundiar o que é por natureza inóspito 
O coração


terça-feira, 12 de abril de 2016

Eu que sorri

Eu que ontem morri 
De ri
Hoje mato a fome 
Da solidão 
Submergido no agridoce molho
Do choro que não hidratei 
Me seco
Seco
Tratei em mordomia cristã 
As unhas que ceifaram minhas gargalhadas 
Rateei a partitura de seu som
Eu licenciei o silêncio nu
Ontem eu sequestrei a leveza do mundo
E imundo dancei com o chão da escuridão
Ontem à luz sorriu pra mim
Tímida 
Mas cores sagradas não permanecem
Assim como o beijo que partilhamos
Com palavras que não chamam nosso nome
E nos arrumam em pedaços soltos e perdidos
Oxalá, encontrar a parte que tatua-te
Quem me dera, contar as estrelas
Que no céu de minha boca colocastes
Só para me ver dormir e salivar por ti
Eu te espero como o gozo anseia a face
Te espero em cheiro forte
E espessura densa e invasiva 
E te deixo ficar
E te permito fixar o teu trono em mim
Para que não seja real o que digo
Pois o amor é plebeu
E o sorrir criadagem

segunda-feira, 11 de abril de 2016

O tempo do lar

O tempo parei para ti
Por ele paguei em solidão
Tão sólido olhar sobre mim
Foi tudo em vão
Um vão se instaurou dentro em mim
Ruptura razão e coração 
Nem cora o teu rosto sentir
Minha desilusão 
Quem muito ama pouco se quer amar
Em outras camas construirei meu lar
Ou então 
Tire a teia de aranha
Me olhe, desmonte essa banca
Se entregue por inteira
Não se acanha
Sem manha 
Amanhã é tarde demais




domingo, 10 de abril de 2016

Gozo

Deixa a noite dançar de organza
Seduzindo a estrada que nos municipaliza
Deixa as deixas das insinuações nos levar
E dance ao som do vento que acaricia o ar
Deixa as provocações alcançarem suas rixas
Não se lixa pras crases mal colocadas
Se permita a novas contrações
E aglutine corpos físicos 
Se seja espasmos
Esteja entregue
Entregue tuas represas ao mar
Gratuitamente
Não temas naufrágio 
Pois o amor é fogo
E o amar sequências de oceanos
Por hora rio
Outrora riacho
Diacho, o verbo é água 
E o imperativo não represar 
Deixe as unhas desse gozo cavar seu leito
E não sucumba as represálias do deserto do mal olhado 
Permeie lentamente os poros da pedra 
Acaricie em preliminares atentas
E não se atente aos conselhos meus
Sempre quando vem chuva
O céu é novo

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Toco uma pra ti

Tomo o teu corpo como um piano
Preto e branco
Componho minha música
Entre ais e encaixes
Entre desejos e movimentação
Entre entradas e permanências
Nos teus olhos tatua o gozo sua alucinação
E ela rege nossa manifestação
Com o receio que se perde no lençol
Descobrimos as bases que mascaram nossa imperfeição
E masco tua saliva temperada com Halls preta
E gosto do frescor
Sem frescura tonalizo o humor
Eu rio
E nos inundamos
Nesse oceano que em mim seca me afogo
E o fogo nos brinda em flamejantes lampejos
E silenciosamente a sinfonia dança outra vez