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segunda-feira, 8 de setembro de 2025

QUEBRADO

Uma palavra sincera. Apenas isso, um gesto pequeno que poderia ser ponte. Mas às vezes parece mais fácil erguer muralhas do que abrir janelas e deixar um ar novo entrar.
Um olhar gentil, um olhar generoso, um acalento. Tão pouco e, ainda assim, tão raro. Estou todo exausto, defendendo trincheiras invisíveis, como se amar fosse um campo minado e sorrir fosse uma ameaça. 
Há tantos rios para chorar. E eu me pergunto por que escondemos nossas águas. Que medo é esse de transbordar diante do outro, se no fundo todos carregamos enchentes represadas dentro do peito? Tantos mares de braços fechados, recusando-se a acolher. Tantos portos fechados em nome da pressa, da indiferença, da sobrevivência.
O silêncio grita. Grita nas conversas vazias, nas mensagens não respondidas, nos abraços ensaiados e nunca dados. Grita quando deitamos a cabeça no travesseiro e sentimos o peso daquilo que não dissemos. Ou das performances que atuamos na composição de precisar prosseguir. Hoje sou paralisia.
E é nesse instante que eu volto ao gesto simples: uma palavra sincera. Não resolve o mundo, não estanca os mares, não silencia os gritos. Mas abre uma fresta. E às vezes, basta uma fresta para que a luz insista em entrar. 
Me quebro todo dia.
Me destruo de propósito.
Me ataco, me mordo, me corto por dentro.
Depois tento me domar com comprimidos, doses de uso oral e adulto, como se fosse possível engolir um pouco de paz.
No fundo sei: não é cura, é remendo.
Mas até o remendo serve.
Às vezes, no quebrantado, uma fresta se risca.
E nessa rachadura entra um cisco de luz.
Um cisco maldito, que incomoda, que dói, que esfrega na cara que eu ainda estou vivo.
E estar vivo é isso: sangrar, ferir, suportar.
Estar vivo é arder até aprender a não se apagar.