Como em toda consagração, despí-me das vestes ritualísticas de meu culto profano. Com êxito e regozijo dos olhos sangrentos que observam profanei a verdade de ser puramente eu.
A verdade não mais reside no cinto que sustenta o meu sentir e as direções de meus passos. Caminho por delicados ensaios de risos, abraços e cumprimentos educadamente treinados pela conveniência do social. É injusto me contemplar indefeso diante às armadilhas que eu mesmo traço no compromisso de administrar os anseios que o mundo suspira de mim. Cada mentira que prego para minha refém consciência me expõe ao vexame de desprotegido estar. E ainda assim caminho léguas em direção ao retardo do que almejo pra mim. Mas sempre conjugo a pluralidade de nós.
Sou abelha que opera solitária a missão de apregoar a paz. Eu que a desconheço. Eu que sucumbo aos ruídos ferozes das condenações que orquestram minha fé. Eu que luto um luto da morte da paz que nunca vivi. Desembainho a espada da palavra que sussurada cala teu sobrenome. Eu vivo na terceira pessoa do singular. E nas bocas de terceiros vivem o meu real gargalhar. Eu não sou rei para ser real.
Fraco, débil, franzino, esboço a minha presença na consciência da multidão. Ali me alegro. Ali me exulto. Aqui me desmonto da inverdade de ser herói.
Ainda celebrando essa ministração, eu recolho com zelo as partes da armadura, repousando-a sobre o travesseiro, onde descansarei meu corpo devorado pela insônia da verdade. Restos diurnos alimentam minha exortação. Fragmentos de glória iluminam os caminhos por onde percorrem as águas salinas do meu olhar vazio.
E por fim, me desculpo da infame mágica do retroceder.
Qual herói te recolherá o riso do acreditar?
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