quarta-feira, 23 de abril de 2025

PÓS FESTA

De repente fui acometido pelo incômodo questionamento: que riso você esboça quando a multidão se vai?
Como habilidoso artilheiro driblei as verdades íntimas que se derramavam sobre minha alegria. Como artista intrépido, delicado e sagaz rasurei em minha face as marcas de celebrações pretéritas, mas meu júbilo era fúnebre.
Aconchegado pela penumbra da sala de estar vazia sucumbi ao choro. Um riacho sedento pelas vadiagens dos rios ejaculavam de meus olhos. Uma mistura viril e antagônicamente covarde se satisfazia de meu fracasso comigo. Eu errei, vacilei com o compromisso firmado em não abandonar a mim.
Aquela pergunta inoportuna me povoava cada milímetro do corpo. O meu ar era poluído pelas lembranças que meus mantras não aquietavam. E eu me esforçava para contrariar a razão. Tem dias que a razão falha. E tem falhas que a razão destrói os dias. 
Publicamente posturado na armadura de bom moço, incorruptível e honesto, saqueei a única reserva de integridade que me restava. Assumi pra mim que nunca deixei de amar você.

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