quarta-feira, 30 de abril de 2025

UM AMÉM

no coração 
ainda residia o percurso 
que tua musculatura esboçava 
para sorrir ao meu ver

em meus olhos 
ainda iluminavam as notas
das canções tolas 
que orquestrava 
para divertir o meu dia

em minhas mãos 
o gosto do alho descascado 
masturbava minha papilas gustativas 
em erupções do sabor do beijo
que te respeitei

em minha casa
ainda descansa tua voz
sussurrando silenciosamente 
aquela frase boba
que eternizou em mim

em minhas lembranças 
o esquecimento de nossas tardes
martela águas de um rio mole
na rispidez de dois corações duros

você se fez e faz
constância do que poderia ter sido
se a condicional do secreto
não rassurasse a indiscrição 

com todo rancor dos desejos
ainda louvei a Deus 
por tua vida

quem morre em mim
segue o fluxo de me trazer vida
pois estar vivo
é viver
um amém 


sábado, 26 de abril de 2025

I CAN'T STOP LOVIN' YOU

copulei com as estações do ano
exalei meus risos na primavera
me deixei ser verão nos espasmos 
despi a alma das vestes imaculadas no outono 
recolhi-me aos recôncavos no inverno 
me respondi como bipolar
ignorando as normas das murmurações 
eu inventei pra mim um mundo
e no meu mundo a frequência é o desestabilizar

feliz o homem 
que habita o mundo 
do poder ser
e ignorar ser poder

sexta-feira, 25 de abril de 2025

COMO MORRE UM HERÓI

Como em toda consagração, despí-me das vestes ritualísticas de meu culto profano. Com êxito e regozijo dos olhos sangrentos que observam profanei a verdade de ser puramente eu.
A verdade não mais reside no cinto que sustenta o meu sentir e as direções de meus passos. Caminho por delicados ensaios de risos, abraços e cumprimentos educadamente treinados pela conveniência do social. É injusto me contemplar indefeso diante às armadilhas que eu mesmo traço no compromisso de administrar os anseios que o mundo suspira de mim. Cada mentira que prego para minha refém consciência me expõe ao vexame de desprotegido estar. E ainda assim caminho léguas em direção ao retardo do que almejo pra mim. Mas sempre conjugo a pluralidade de nós.
Sou abelha que opera solitária a missão de apregoar a paz. Eu que a desconheço. Eu que sucumbo aos ruídos ferozes das condenações que orquestram minha fé. Eu que luto um luto da morte da paz que nunca vivi. Desembainho a espada da palavra que sussurada cala teu sobrenome. Eu vivo na terceira pessoa do singular. E nas bocas de terceiros vivem o meu real gargalhar. Eu não sou rei para ser real.
Fraco, débil, franzino, esboço a minha presença na consciência da multidão. Ali me alegro. Ali me exulto. Aqui me desmonto da inverdade de ser herói.
Ainda celebrando essa ministração, eu recolho com zelo as partes da armadura, repousando-a sobre o travesseiro, onde descansarei meu corpo devorado pela insônia da verdade. Restos diurnos alimentam minha exortação. Fragmentos de glória iluminam os caminhos por onde percorrem as águas salinas do meu olhar vazio.
E por fim, me desculpo da infame mágica do retroceder.
Qual herói te recolherá o riso do acreditar?

quarta-feira, 23 de abril de 2025

PÓS FESTA

De repente fui acometido pelo incômodo questionamento: que riso você esboça quando a multidão se vai?
Como habilidoso artilheiro driblei as verdades íntimas que se derramavam sobre minha alegria. Como artista intrépido, delicado e sagaz rasurei em minha face as marcas de celebrações pretéritas, mas meu júbilo era fúnebre.
Aconchegado pela penumbra da sala de estar vazia sucumbi ao choro. Um riacho sedento pelas vadiagens dos rios ejaculavam de meus olhos. Uma mistura viril e antagônicamente covarde se satisfazia de meu fracasso comigo. Eu errei, vacilei com o compromisso firmado em não abandonar a mim.
Aquela pergunta inoportuna me povoava cada milímetro do corpo. O meu ar era poluído pelas lembranças que meus mantras não aquietavam. E eu me esforçava para contrariar a razão. Tem dias que a razão falha. E tem falhas que a razão destrói os dias. 
Publicamente posturado na armadura de bom moço, incorruptível e honesto, saqueei a única reserva de integridade que me restava. Assumi pra mim que nunca deixei de amar você.

domingo, 20 de abril de 2025

PÁSCOA

 foi amor
foi amor que Ele veio instaurar
foi amor que Ele veio ensinar
e foi na dor que Ele demonstrou esse amor
simplesmente para mostrar
que minha vida tem valor

foi paz
foi paz que Ele veio ministrar
foi por paz que Ele não guerreou
a outra face disponibilizou 
e todo entendimento suplantou, ultrapassou 

Ele é quem vem depois que a esperança morre
Ele vem quando o melhor amigo corre
Ele tem tudo aquilo que ao homem socorre
não o ignore

deixa nesse domingo
O Jesus renascer
deixa nesse domingo
na cruz o teu pesar

deixa nesse domingo 
O Jesus em ti viver
deixa de ser sozinho
de braços abertos ele morreu
só para te abraçar 

dê hoje a você a oportunidade da ressurreição 
RECOMECE
pois essa é a razão da cruz vazia estar

terça-feira, 15 de abril de 2025

ÚLTIMO DIA EM SÃO FIDÉLIS

se fosse hoje
o meu último dia em São Fidélis 
eu amanheceria de novo
com meus olhos molhados
e prometeria que uma vez mais viria te ver

correria desesperado pela ponte
tatuando no rosto o vento quente do Paraíba 
eu acenaria para toda gente 
e faria juras que logo voltaria 

se fosse hoje
meu último dia em São Fidélis 
eu adoçaria minhas palavras nos quindins 
invejaria os casadinhos 
observando-os na pracinha dos namorados 
ou a moça de seio perfeito
deitada no caminho para Angelim

oh, linda é essa poesia
tem sabor de chocolate 
solar como os quindins
dourado, prateado, rubro, negra
e destila boas rimas
na pureza de um amor coroado 

é de Vicente, de Paula, Ronaldo
é de Maria, de Antônio, Roberto
é de meu peito aberto

se fosse o meu último dia aqui
eu levantaria bem cedo
e de frente para São Fidélis rogaria
que fosse amanhã hoje outra vez

ah, São Fidélis 
quando estiver eu com meu corpo cansado
receba em teu terra
me acolha, me abraça, me aqueça 
para que possa eu germinar, brotar, crescer 
e outra vez florescer POEMA


LEVE

me dê pouco espaço
e me afasto em espasmos
de nós não disfarço 
em nós nos refaço 

me dê um pouco de tempo 
e eternizo o estar
te coleciono momentos
leve o tempo que levar

amor bom é leve
pra ser leve 
leva uma vida de amar

segunda-feira, 14 de abril de 2025

RECOMEÇAR

faça pão 
toma um vinho
faça dramas
abra caminhos

ensaia um não 
se dê um sim
costure as tramas
há começos no fim

sexta-feira, 11 de abril de 2025

RESPOSTAS

pus à mesa meu sentir
desfiz dos silêncios as indagações 
indaguei das respostas os sentidos
senti na pele a frieza dos vulcões 
me larvei de ti

em meu mar de lágrimas 
me fiz ilha posta
e resposta do fim 
que nunca foi sim

terça-feira, 8 de abril de 2025

EXISTIU

de repente
um abraço quente 
um suspiro forte
um silêncio sussurrado 
uma distância descartada
uma doce paz 
e a saudade terna 
em rememorar você 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

OLHOS

como regular inquilina
ela residia em meus olhos
resistia ao sol, resistia às brisas
se hidratava nas chuvas
se alimentava de meus silêncios

como devota amante 
ela satisfazia-me dos embargos
me orquestrava em espasmos efêmeros
mentia pra mim e me revelava verdades
se acalentava de meus pensamentos 

hoje a lágrima me abandonou 
e num choro atropelado por suspiros
lavou-me de mim

terça-feira, 1 de abril de 2025

COR

eu corro
para dar corda
ao eu
que sempre acorda
para desacordar
as cordas 
que de cor
decoro 
no decoro da paz

eu corro
e me ponho cor, rapaz