quarta-feira, 30 de abril de 2014

Dancei pelado na chuva

A chuva caiu 
Indecente do orifício liso de minhas janelas
A minha alma silenciou
Os seus rios impetuosos
Eu ouvia Adele que cantava
Músicas de euforia
Enquanto meus poros se dilatavam
O suor
Delatava a frieza 
Do coração de lata em que conservei
Minhas emoções
As mesmas das quais alimentou o seu 
Gozo
Gozado imaginar o gozo que só imaginei
Construção de relação entre punhetas
De carícias
Do peito
Teus olhares confundidos por
Mim
Masturbaram o músculo frágil que bombeia 
Minhas explosões
Senti minha pele queimar
Queimei todos ossos de auto-proteção
Me joguei entre lamaçais de projetos
De novos homens
Nem as mãos delicadas de deus
Me paralisou
Para liso aperto de mão lancei-me
Por amor
De deus
Faz esta chuva acalmar
Dez dedos entrelaçados não fiz
Guarda-chuva
E me encharquei de dor
Do peito fugiu a dor
E consumiu a proteção que finjo
Dancei
Pé lado a lado com 
O medo
Do meu jeito
E sem jeito
Na minha chuva
Pelado

 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Atchim

Terminei dizendo que a tudo entendia
Minei o meu entendimento com respeito à escolhas que me feriam
Eu também assassinei o meu peito
Eu também fiz de nosso gozo coalhadas
No fundo os olhos nos olhos gritavam descobertas
Fomos cúmplices de um mesmo homicídio
Homens insistem em matar
E as mulheres esqueceram que deveriam chorar
Esqueça-me
Coma cascas de queijos e se lembra de mim
Devore os queijos que coalhei
Se alimente dos antigos espasmos
E eu me satisfarei dos gemidos que batem as paredes de casa
Eu já quase te esqueci
Apenas me lembrei de avisar que o frio chegou
Caso não mais sinta os ventos te beliscar
E o resfriado te aquecer
Lembrei de teus espirros
A ti
A ti 
A ti
A ti entrego o cobertor marrom
Eu que nunca menti
Terminei ecoando as mesmas verdades que sempre ouvi

A vodca acabou. Acabou o amor

A vodca acabou
E com ela o amor se destilou
Em sua única gota
Pontuando em pinga-gotas meus risos
Meus lisos
Hoje meus ásperos ranger
Deito-me e entrelaço com as pernas o travesseiro
Fundo o meu sexo a penugens frias
Se casam ao reconhecimento de temperaturas
Que outrora não encontrei
São sombras já vividas
As tuas lembranças
E eu nunca pedi paz
Gostava dos gostos das feridas
Do sangue diluído em salivas
Que suavizavam partidas
Beijou meu cerebelo em nome de outro lençol
Desarrumou minha cama
E nem fio de cabelo deixou 
Pra que eu oferecesse aos meus santos
Bebeu de meu sangue
Ensanguentou meu suor
A vodca acabou
O que oferecerei aos orixás?