Hoje vi uma borboleta. Sei que pode não haver absolutamente nada de interessante em começar falando isso. Borboleta. O que são borboletas? Mas me perguntei: quantas vezes vejo uma borboleta na semana? No ano? Na vida? Vejo lagartas em todas formosuras que conheço.
Poucas coisas têm mudado em minha vida. Meses passados eu mudava de grande amor a cada transa. Trepe, gozei, beijei na boca? Deixei de amar. Agora sinto-me preso ao último adeus que soletrei. E me pergunto se deveria ter me despedido com um "eu te amo". Por que as mulheres querem tanto ouvir isso, caralho? Se ao menos houvesse me pedido antes da transa, seria mais fácil, teria um motivo, razão e circunstância. Mas de graça? Gratuitamente, pra que mentir? Mas quer saber de uma coisa? Saquei algo. Amor castrado não é como coito interrompido, como costumo dizer. Amor castrado é como amor castrado, não vivido, podado. Não há outros parâmetros de comparação. É foda! Quero dizer, não é... O homem quer fuder. As mulheres querem que os homens se fodam. E assim seguimos o instinto de nos satisfazer. Esquecemos que há uma parte que também gozaria tão igualmente daquele momento. Só momentos...
(AARON e CINDY se encontram na bancada de um bar)
CINDY - Você tem fumado mais que o normal.
AARON - E você parece muito bem.
CINDY - Obrigada. Fui ao salão hoje. Percebeu. (Risos)
AARON - Tá sozinha?
CINDY - Ninguém nunca tá sozinha a essa hora no Print's... Estou com a tequila.
AARON - Tequila te...
CINDY - Tequila não "me". Tequila "nos". (Vira a tequila e beija ardentemente AARON)
AARON (Rindo surpreso) - Cindy.
CINDY (Levanta o anelar direito para o garçon, indicando outro shot) - Aaron Ford.
AARON - Eu estava achando que a gente...
CINDY - Achando? (Ri) Eu já encontrei. (Debruça no balcão) Disfarça e olhe pra trás. O moreno alto, forte, cabelos curtos e de camisa azul claro...
AARON - É o Marx.
CINDY - Sabe de uma coisa!? Ele beija bem, muito bem. Pegada, dança, pau, calor... Mas não fuma. E nada melhor que o gosto de tequila e cigarro misturado. (Risos)Tesão! Se importaria de me dar um...? Cigarro.
Sabe quando vem aquela vontade avassaladora de chorar? Dizem que ela nos atinge como um chute bem dado no saco, exatamente no ovo esquerdo - esse dói muito mais, uma dor que persiste, aguda. Eu nunca tive essa vontade. Em toda minha vida, chorei apenas uma vez. Mas não vou falar sobre ela. Eu nunca falo sobre. Nem a menciono. E já mencionei. Sou cercado por muita gente que chora pra se convencer de que sofre. Testificar a dor, carência, perda. Gente que troca atos de piedade e falso amor por mazelas de sofrimento. Valha-me Deus. Apenas observo o jogo que se constrói em volta do querer e o desdenhe. Nega que me quer que te convenço a me querer. Sem paciência pra tamanha brincadeira. Quando eu quero, eu quero mesmo. E quando não me quererem, poucas vezes me faço me quererem. Pra quê? Mas dou corda. Bato palmas pros loucos dançarem. Até que percebam que sou eu o meu querer. Minha masturbação. Meu gozo. Eu ri agora. Ri pra caralho. Porra! Meu antigo terapeuta sempre dizia que eu me desminto a todo momento. Eu continuo dizendo que ele deveria tomar no cu. Terapeuta da porra! Vou levantar agora dessa cama e fumar um baseado. De leve. Verde esperança. Paz! Tranquilidade. Agora estou olhando perdido para o teto. Eu não disse, mas nem sai da cama, o baseado sempre fica nessa caixinha preta com recortes de filmes em PB colados. Coisas que herdei dela. Essa cama... Não havia me dado conta do tanto que era imensa. Sabe quando vem aquela vontade avassaladora de chorar? Então, acho que caiu um cisco no meu olho.
Será que amanhã eu poderia te contar que nunca brochei?
[...CONTINUA...]