domingo, 9 de junho de 2013

Quando a amizade acaba

Ela estava acostumada às mudanças de outras estações. Conhecia o sabor do sal do verão nos olhos e os arrepios do vento frio do inverno. Ela sabia falar das folhas que caiam no outono ou dos espirros constantes que as flores da primavera a provocavam. Ela só não sabia falar da solidão que agora se desenhava como a única e fiel companheira. Quando morre um irmão a gente chora como se perdesse parte do peito. Quando vive um amigo distante de nós o choro é quem conforta o peito. 

- O que estou sentindo é alguma coisa com sabor de morte. Sinto-me confusa diante das sentimentalidades estúpidas que arquiteto para justificar o fim. É tão engraçado o nosso comportamento diante à morte. Somos projetados pra vida? Não. Somos projetados para atrapalhar os projetos que nos afastam de nós mesmos. Trocamos os pés pelas mãos e gozamos alegria de ter caminhado conquistas e na realidade nada conquistamos senão o nada. Agora minhas lágrimas produzem rios. Eu não sei nadar. Pelo menos não sozinha. Eu me satisfazia na companhia dela que me abria os mares pra que eu caminhasse em terra seca. Ela sempre enxugou minhas lamas com os mesmos guardanapos que eu jogava fora. Mas não foi por isto que a amei. Eu a amei pela fidelidade que eu também respondia. Eu a amei por escolha, mesmo não correndo o mesmo sangue em nossas vias. Nosso percurso foi traçado por... Não sei dizer. Nunca racionei o nosso compromisso. Apenas nos comprometemos, sabendo que fazia, mas sentindo o fazer e fizemos. Quando foi que deixamos de fazer? Sigamos sem resposta. O riso deixou de ser o mesmo. O abraço deixou de ser um laço. A conversa ganhou tonalidades objetivas e séria. Bate papo parou de bater. O silêncio o papou. Este engordou dez quilos. Silêncio gordo, obeso e não mórbido. Vívido. A amizade morreu e com ela foram os sorvetes, pipocas, miojos e vodcas. Eu não senti nem frio, nem calor. Segui morna. Segui em círculos. Parei de seguir. E então o choro voltou fluir em mim. E em suas lágrimas depositou o meu peito as lembranças de quando eterno jurou o amor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário