domingo, 23 de junho de 2013

Lágrimas

- Eu me rendo. Não precisa atirar. Calma!
Estas foram as minhas últimas palavras antes de ser atingido pelo lapso de entendimento que todas as minhas possibilidades já haviam fugido de minhas mãos, como areia finas entre os dedos. Eu chorei. Chorei muito. Mas isto também foi na plenitude de minha solidão. O silêncio compartilhou de minhas frustrações, eu corei a face, disfarcei o bom humor com realidades de frio. Desistir talvez possa significar recomeço e eu estava disposto a recomeçar de onde sai, do nada, sem tudo.
Ana sorriu, compreendeu que nada estava acontecendo. Quis por teimosia dizer pra si que nadar seria o mais correto e produtivo. Mas o rio já havia secado. Ninguém ria ali.
Elizabeth não fez diferente, começou recitar um mantra. Perfurou os meus tímpanos com ladainhas que apenas me causavam enjôo. Cão que ladra não morde, mas ela não compreendeu que o seu pai estava ocupado com outros serviços reais. Os meus eram apenas imaginários.
Da Carla eu não quero falar, nem do Roberto. Do Paulo talvez falaria, mas desta vez o Paulo não disse estupidez. Ele preferiu selar o meu tumulto com um silêncio que cortava o meu peito. Será que fui eu quem não soube ouvir?
Quando eu tomava o último gole de ar para preencher o adeus, o Joaquim chegou. Antes não tivera vindo. Ele riu do meu drama. Construiu cócegas de meus choros. Zombou de mim. Aplaudiu minha queda. Sambou na minha face, sem cerimônias me declarou casado com a derrota e eu nem força para ignorar tinha. Eu gargalhei com o desamor.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário