quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Desdenha

Sobre os trilhos horizontais do lençol depositou o seu corpo
As hélices do ventilador preto aqueciam suas brasas
Não se fazia necessária lenha por
Afinal de contas, já eram secos seus lombos
A fúria do desentendimento consumia sua paz
Era pago o preço pelo disparo que não deu
Computada a sentença pelo beijo que tampouco lascou
What can he do, Mrs. Ross? 
Não se recordava mais dos dias de exultação 
Tampouco lágrimas teria para hidratar seus ais 
Mesmo assim choro houve
Ainda assim a arrogância esnobou


segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Adeus

Sutilmente cercado por minhas íntimas cobras
Utilizado como consolo de meus prazeres
Ignorado pelas sinapses desta mente traiçoeira
Cai inóspito e oco nas sangrias de meu choro
Ignotas foram as juras das companhias amigas
Desleais os anseios que coreografei 
Impactado por relâmpagos de realidade me calei
Observando a morte chegar chorei




quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Chão

Estava limpo o chão da sala
Exorcizada a copa por incensos indianos
Os pisos da casa estavam lustrados a cera 
Preparados para coreografia que executaria
Eu 
Ao encontro do chão
O teu lado na cama estava frio
O travesseiro que usara infectado por teu perfume 
O mesmo cheiro que habitara o meu corpo
Mas em meu corpo já não havia teu suor
Tampouco em minha saliva o teu ácido sabor
Sobre mim se levantada todas as noites
Cinco covardes e solitários soldados
Sobreviventes da guerra que travara a paixão 
Esses tais sufocavam o meu pescoço 
Bombeavam minha cabeça de toda lembrança que desprezava
Sentia o sangue contaminado por teu veneno me preencher
E esvaziar o meu pequeno corpo
Do que jurei ser amor
E foi só o chão da minha casa 
Que estava suja pela manhã 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Volta e vulto

Tarde demais tentamos nos rever
eu já não sabia te dizer olá
não mais te ressentia
não mais te nós
porém pronome de terceira pessoa
o nosso amor se tornou melodias de Ivan Lins
agora minha trilha era funk
outros discos
outros círculos
não porque não houve amor
sim porque não mais ouço o sentir que pintamos
desbotou-se as cores do calor
mas a tela ainda está lá e continuará
velando na memória o vulto teu
que não se vale mais
ai, meus ais

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Um vinho avinagrado

Na taça de vinho tinto depositei minha dor
hidratei as traças que corroíam minha paz
tingi de rubro o alvo de meus dentes
era puro sangue a cor de meus olhos
era turvo o colorido das velas 
as que te sepultavam vivo
as que iluminavam o desamor

Eu queria sorrir
queria querer ser leve, breve, eve
mas eu era dia seguinte
era sombra dos pretéritos
embora não mais-que-perfeito
fui feito de mas
porém era avinagrada todas as vias
eu te via
tu que não me vestes
eu te ia, sem volta
porém hoje já não voltas mais

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Bata a porta ao sair

Queria sorrir
Do fundo do meu coração raso, queria
Todavia só tinha forças para o desvencilhar 
Eram poucas as energias que me mantinham vivo
Me autofagia nos cemitérios de minhas recordações 
Ah, se eu pudesse te dizer de minha dores
Talvez pudéssemos replantar aquelas flores verdes
Não
Novas flores
Sim
Ainda há samba em mim
Bossa nova em desarmonia com jazz
Mas esse esqueleto em ruínas não dança mais
Dancei

Ali jaz minha voz 
Que repetidas vezes te amou
Repetidas vezes repeti em amor
Repetidas vezes vi as flores murcharem
Tão quanto murcharam minhas pálpebras 
Fluiu tanto sal que os olhos secaram
E o coração, por loucura, não conseguiu mais parar
A alma se abrigou nas pautas de tuas cartas
E nao descarta me deixar de vez
De vez em quando a gente morre
De vez em outra sorri

Quando sair bata a porta, por favor