terça-feira, 1 de julho de 2025

GIZ

o peito não aprende a lição
que o silêncio 
rabiscou na lousa da carne

o riso 
esse risco falso no rosto 
desenha esperança com mão trêmula
como se a alegria
fosse só dever de casa mal feito

o giz,
esfarelado de tanto tentar ser palavra
vira poeira nos poros
coceira na alma

sede 
olhar
um só
que varre a superfície
e encontra o fundo
um abismo pequeno
do tamanho exato
do que ainda nos falta

e gargalhadas transbordam

sábado, 28 de junho de 2025

QUANDO SOBRA LUZ

 inteiro, parto-me em silêncio

onde a noite lambe o osso da alma

se alimentando de minhas gargalhadas 

regradas no vinho barato de fim de mês 

você fala por olhares mornos,

me mata num gesto de indiferente carícia

sem ao menos me ver

dói: um afundar de mim

onde só ecoam vozes já mortas,

palavras não ditas —

cada sílaba um corte invisível

cada querer um saber

finjo o pulso acelerado,

o pulsar que deseja acontecer

— mas sou intrínseco vácuo,

somente vulto que teme

ultrapassar o próprio corpo

saio, passo por ruas líquidas de neon,

tremendo — exausto de existir onde me rejeita

e nessa fria volta pra casa,

sou um coral ecumênico de medos,

uma promessa que não sustenta

aumenta nos câmbios de gosto de menta 

você, intacto segue inteiro

Mesmo assim, eu sei:

há um pedaço seu em cada amargor meu —

quebra-luz que me rasga e me cura

caio, renasço no mesmo instante,

 me sobras tu 

em ti falta um lapso de mim arquejante

e o que resta das nascentes que nos trombam

quando o silêncio é mais real

que qualquer beijo?

Principalmente, o que nunca beijei

sorrindo pra minha jovem estupidez


sexta-feira, 27 de junho de 2025

SIMPLESMENTE

quem acolhe
colhe sempre
no tempo certo
o melhor riso

pois quem é norte
se faz suporte 
pro nascer do sol 
quando preciso

PASSO

em cada passo
persisto

busco a luz que ainda insiste
na esperança
renasço menino
vejo no riso o elo divino

no velho, a tentação de ficar
mas escolho partir
reencontrar minhas partes
o tempo em que voar era verdade

no rosto
ver a pureza renascer
e reencontrar a velha infância
que abandonei no anseio de crescer

e deixar de ser pertencimento 


RUPTURA

quem me dera ao menos uma vez
entre a legião urbana sentir o ar
penetrar humanamente meu revés

deitar acolhido no bisturi suave do teu abraço
escuto a queda lenta de um prego enferrujado
tentar chorar de tristeza ou alegria
desmantelar os erros que faço

a solidão interrompida por tuas lembranças
eu perfuro as paredes do quarto
na procura de tua voz
no travesseiro não mora mais o teu peso
onde o quase choro é poesia

sou tantos quases que me faço nunca

espelho em frangalhos
máscaras distorcem no calor do fondue
e tuas lembranças me colonizam
numa opressão que ainda se reinventa

somos disfarces
faces desalinhadas com o sentir
o teu mantra hipnótico de me possuir
sem ao menos querer saciar
esse maldito vício da saudade
uma essência perdida, um adeus sem partir
pois é canção que nunca se compôs

quem me dera ao menos outra vez
diluir o adeus que em looping me incompleta