sábado, 13 de setembro de 2025

SOPRO

o sol não nasce todos os dias
há manhãs que se esconde
proclamando notas frias

hoje o dia surgiu nublado
sem sopro, sem vida
e o coração apertado 

a graça dos embalos
se funde ao vazio
viver é um estalo
você, só um menino

hoje o sol se fez choro
para o céu te abraçar 
espero no coro do céu
um dia te encontrar

AQUI

só Tu tens o poder pra curar a minha vida
estou cansado, ferido e mal creio no que prometeu
nesse mundo perdido, carente, coleciono feridas
a beleza da vida se ofusca no que escolheu
eu mesmo

já nem sei como orar, ou chegar em Tua presença 
a vergonha me acusa e condena do que eu vivi
mas há partes em mim que reside a Tua essência 
estou aqui, Pai, perdoa-me

sopra sobre o vale de ossos secos
ensina-me sonhar os sonhos Teus
leva-me aos Teus braços e me perco 
Teus sonhos são maiores que os meus

tão pequeno e pobre, eu me rendo 
entrego o meu Isaque que me deu
quebrantado em choro, mas eu venho
creio na Palavra do Deus meu

Filho Meu, descanse em Mim
Filho Meu, sempre estive aqui 


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

PAISAGEM RUPESTRE

É estranho perceber a estranheza que se firmou em nosso trato. Descumprimos com sutileza a generosidade de compartilhar afeto. E tampouco nos destratamos.

Hoje acordei, embora ainda nem.dormi, pensando em por onde se vai o conforto. No silêncio suave que pairava entre nós, nos gestos espaçados, nas palavras que pareciam aguardarem permissão para existir. Há um cansaço nesse silêncio, uma espera que talvez nunca termine, nem se canse, um desejo de reencontrar aquilo que se perdeu, ou que não deixamos permanecer.

Lembro quando o toque era resposta imediata, sob composição de Bach, quando os olhos falavam antes da boca. O riso era ponte. Agora há entre nós só uma vaga paisagem rupestre, sugestões de noites partilhadas, memórias de risos apagados aos poucos pelas rotinas comuns. A vida nos exigiu pressa, nos ensinou a olhar para frente e quase nunca para dentro.

Vejo nas tuas mãos, às vezes, a vontade de erguer algo que pesou demais. Vejo essa vontade se contorcer, se calar. E penso se ainda moram em ti as palavras que um dia me chamavam, se ainda existe o peso suave que me fazia notar os detalhes de tua respiração. Talvez tudo isso esteja escondido, sob camadas de desculpas, de dias iguais.

Não houve traição explícita, não houve abandono flagrante. Houve o lento deslocar de olhares, o esquecer de perguntar “como estás?”, o desistir de esperar que o outro viesse primeiro. Houve o suave naufrágio do carinho, dentro da quietude do costume, onde o afeto vira protocolo.


JURAS

"jurei mentiras
e sigo sozinho"*

engoli a seco
um rio que fizestes 
nascer em mim

te pintei
num colorido
mágico 
como o sol de outono

me banhei
num mar de lágrimas 
que calam nossa jura

te guardei 
na devoção 
do pecado esculpir

o que jurei
me tiras
por onde segui 
me apanhas 

qual o final desse conto
se o que conto é final?



* Trecho da canção "Sangue Latino" de Joao Ricardo Carneiro Teixeira Pinto / Paulo Roberto Teixeira Da Cunha Mendonça, imortalizada na voz de Ney Matogrosso 

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

VEM SOBRE MIM

Pai, meu coração está sangrando
Pai, por Teu socorro estou clamando 
Pai, eu preciso tanto de uma direção 
Traz Tua paz, Tua unção 

Pai, sou pequeno, fraco, quebrantado 
Sei que por Tua voz sou restaurado 
Vem interceda por mim, Espírito Santo
Eis me aqui

Te deixo agir, transforma o meu interior 
Preciso de Ti, de Teu abraço, Teu calor
Vem com Teu fluir
Entrego tudo em Tuas mãos 
Não vou resistir à Tua graça e Teu perdão 

Está difícil caminhar
Eu mal posso respirar
Vem sobre mim, Senhor

Onde há morte, traz-me vida
Onde há dor, toque Tuas mãos
Cura o peito e as feridas
Estou clamando pela Tua salvação 



* Poesia inspirada no devocional da edição de hoje do podcast "Café com Deus Pai" ministrada pelo Pastor Junior Rostirola, sob a leitura do texto bíblico de Oséias 6: 1 e 2.