terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Belo


talvez você não esteja adequado

talvez a festa só haja em você 

talvez os brindes desçam amargos

talvez seja a ignorância que te vê


ainda assim

não se conforme

não tome pra si a forma do outro


ainda assim 

não se isole

não se sacie dos risos de quem finge grandeza

e transborda vazio


transforme a ofensa 

conforme a sentença

de ser único e espetacular


a luz sempre incomodará a cegueira

da escuridão que não sabe ver o belo

e desconhece o respeitar

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Noite Negra de Luz


No ventre de Maria, nasceu o som do tambor,
ecoando na escuridão, um prenúncio de amor.
O céu estrelado, um manto de ébano, brilhou,
como os olhos de um povo que sempre lutou.

Nos braços de Maria, negra como o barro da vida,
o Menino chegou, trazendo a alma rendida.
José, com mãos calejadas, ergueu o olhar,
viu na palha o Salvador, pronto para libertar.

Os Reis Magos vieram, passos firmes na areia,
da África, trouxeram ouro, mirra e a ceia.
Guiados por um cometa que cortava o breu,
testemunharam o brilho do Menino de Deus.

Em volta do estábulo, dançou a capoeira,
os anjos cantavam em roda, na noite inteira.
Ali, no quilombo celeste, nasceu a esperança,
um Cristo menino que herda a herança.

A pele negra de Maria refletia a história,
de um povo que resiste, que guarda a memória.
E no rosto do Menino, um sorriso surgiu,
prenúncio de um mundo que ainda há de vir.

Que o Natal seja sempre um nascer de verdade,
um convite à justiça, um grito por liberdade.
Que o Menino da palha nos ensine a amar,
a lutar, a viver, e a não mais calar

Vem, Jesus

caminho chorando, sozinho

quero tua direção

a rosa murchou, só há espinhos

no meu coração


contrito, quebrado, aflito

oh, vem me socorrer

pobre, necessitado de abrigo

de Tua graça vem me encher


vem, Jesus, toma o meu coração

seja luz onde mora o medo, dor e a escuridão

vem, Jesus, estou cansado de deter

me conduz onde mora a paz que excede todo o entender


procuro no mundo um amigo

inquilina é a solidão

cercado por risos 

e grito silencia respiração


recordo da fidelidade

promessas e o porvir 

vida, caminho e verdade

me rendo, me entrego a Ti


dias que eu não creio mais

tem dias que a força, Deus, se esvai

dias lutas, aflição

só penso em desistir


dias que eu nego você

tem dias que faço me esconder

dias que A graça invade-me

se prostro a me render

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Falta

Te recolhi nesse fim de dia como um íntimo diário que rumino meu silêncio. Sou cheio de ar e sufoco-me com as palavras não-ditas. Sou cheio de gritos e coreografo meus passos em melodias românticas que não se equalizam no left and right de meu headphone. Sou cheio de vazio intercalado por pas de deux com a inquilina solidão.
O cheiro da tinta tom castanho escuro se acasala com os tinos de minha mente. Uma explosão de desconexões tumultuam meu sentido. E nada sinto. Além do alumínio que esconde as primaveras que sangraram meus cabelos.
Eu mergulharia-me num copo qualquer de etílico barato. Melhor, mergulharia-me numa bela taça de cristal onde despejaria o rio que hidrataria o silêncio que me permitiria debruçar. Eu gargalharia pra mim. Contrariando o plot da vida medíocre que sucumbi.
No cheiro perpetuado no travesseiro recordo as lágrimas que mancharam meu rosto, inundando meus poros de salina das doçuras que rejeitaste. Nesse momento recordo-me que há meses não troco a fronha e o lençol da cama. Faz calor, o ventilador ventila cinturas caribenhas, eu me cubro transpirando sob o edredom cinza e a manta vinho. Uma taça de vinho eu beberia para alimentar em mim a esperança que no celular subscreveria na tela tuas lembranças de mim. Um.mensagem qualquer.
Outra vez sigo a falar de saudades. Outra vez sigo o rumo de esperar te ver.
Tenho dores no coração que apertam o fluxo do peito e seus músculos bombeiam pequenas explosões de medo tingidas por risos. Tão negros como o tom castanho escuro que me esconde nos calos que tatuei na esperança de te ver.
Outra vez volto falar de ti. Um círculo vicioso de espera e querer. Tenho piedade de minha falta de respeito próprio. A propósito, falta é a única presença aqui.
Outra vez eu sigo no fluxo de não fluir naturalmente e com violento comparecimento e recolho as veracidade. Os meus olhos não mentem. Eles não. Eles revelam o cômodo onde em casa velo teu corpo franzino, alvo e intrigantemente sedutor. Os meus olhos se vêem em ti e no cemitério de minha cabeça espero te descansar a ternura.
Caro diário, por hoje é só. Afinal, sou só.

Saudades


saudade é nó que aperta
um eco no peito a soar
presença que nunca parte
ausência a sempre ficar

saudade é você no peito
distância morando entre nós
teu cheiro no silêncio que deito
lembrança de rompidos nós

saudade é o passado
presenteando o esperar