terça-feira, 25 de novembro de 2025

ENSAIO DA PROTEÇÃO

 desenhei lábios ao vento
esperando teu sopro de sal
calcei os dias com lembranças
e dancei sozinho o nosso ritual

vem esse medo, úmido, antigo 
segurar minha boca, fechar o tempo
eu quis ser abrigo e me perdi
no eco surdo do teu silêncio

componho desculpas em sílabas tortas
para o peso de me querer inteira
mas teu abraço é deserto de promessas
e minha sede grita na beira

se amar doeu antes,
amar agora custa menos 
talvez porque me aprendi inteira
no verso onde teu nome morre,
e meu nome escolhe renascer

renascer pra mim
para as vozes doces minhas
que tempero com pimenta chocolate
no ensaio da proteção 

sou forte, sou bela, sou livre
sou carente, sou insegura, sou deseja por teus braços 
posso ser muitas
queria teu suporte aqui
para minha essência voar

a concepção de se bastar
interceptação do querer
por acepção o entregar
por cor de mulher agir naturalmente 

se está livre pro amor
por que foges do querer?

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

ESPARRAMAR

 desenhei mil desculpas
para as culpas de teu ego
disfarcei minhas rugas
e nuas relevei os desencaixes do Lego

o medo é a proteção que nos fere
olhos terceiros são segredos que se calam
talvez se me perguntar eu negue
ainda temo por falas que embalam
tuas auto afirmações 

inventei nenhum perdão
para o meu esparramar
teu sim se performa em não
teu olhar dispara amar

domingo, 23 de novembro de 2025

IDEAL

te construí como um ideal
entre acolhimento nos silêncios
te reconheci feito meu mal
carências subscritas por extenso 

e era curto demais o permanecer 

te perdoei as fugas
as mesmas que criava para se achegar a mim
um labirinto fiz das ruas
as mesmas que desbravava na busca do sim

e era duro demais o anoitecer

eu tramei o teu cheiro nas fronhas de casa
chapisquei tuas confidências nas paredes
corrompendo tratados na espera pus asas
solei nosso pas de deux em redes

e era puro demais o pertencer

a casa ruiu
o rio de tanto chorar sorriu
pelo bem de nós a solidão se achegou 
amar é rio que o passado costurou 

é na escolha por nós 
que encontramos voz
para de nossas ilusões 
nos despedirmos 
e quem sabe fazer as pazes 
com o silêncio que reprimimos


domingo, 16 de novembro de 2025

UM DIA CHEGA

casa, aos domingos,
tem um rumor de abandono
e ninguém nota
só eu,
sentado no miolo do silêncio,
ouvindo o tempo escorrendo pelas paredes frias

a tristeza bate à porta, com sua velha intimidade,
mas hoje eu não abro
hoje não

se o amor não quer entrar,
que fique lá fora reclamando da vida,
que deixe suas queixas espalhadas pelo corredor
por onde não corre mais o rubro do sangue

nas minhas preces teimosas,
é teu nome que ainda me escorre da boca
é pecado suspirar o próprio peito?
é ingratidão reconhecer a verdade cruel
do eco vazio que me devolve perguntas
que eu não quero ouvir?
tampouco responder

passei o dia recolhido
no recôncavo do meu quarto em penumbra,
e juro
senti os deuses lamentarem por nós
nossa desumana arrogância 
sangra até a esperança dos deuses,
a minha jaz em paz 

choveu lá fora 
aqui dentro, minha terra continua seca,
escamada em erosão
não tenho lágrimas para hidratar meu silêncio
não importa se somos altivos,
ou melindrosamente carentes.
pouco importa se somos sexo,
flerte, fantasia, madrugada
somos desejos de um pas de deux
que nunca dançamos
acho que você já nem se lembra
do amor que prometeu ao vento ser meu
e, sinceramente,
será que sabes o que é amar
se nunca, nem por um instante,
olhou pra si com ternura?

somos anseios por danças quentes,
suspiros ao pé do ouvido,
madrugadas de quadris tímidos
e vontades que queimam
somos provocações de ficar
quando o mundo insiste em nos mandar ir
para nossa misericordiosa proteção 
mas andamos demais parados,
congelados na espera de uma mensagem
que não chega

somos segredos, nada secretos
somos sagrados, e o amar é profano
ele erra, ele ri, ele humilha
amar nunca foi se fortalecer 
é sempre se quebrar,
ruir,
voltar ao pó
para se reconstruir em dois
entrega
e tudo que se doa
por mais que doa
não se reivindica a volta
e de volta e meia você volta
sempre meia porção de você
o amar deveria ser encontros de inteiros
circulo em quebradas metades

eu tenho saudades de você
tenho falta da musicalidade de tua voz
música que embalava nossos beijos
do ideal de você que inventei,
coisa que todo carente faz
quando o peito insiste em ser palco
do que não existe

lutei contra mim,
tropecei nas minhas próprias ansiedades,
tudo na esperança vã
de ganhar o favor
de um único gesto teu, um olhar
migalhas que disputo com os pombos 
sempre sem paz 

e ainda assim,
hoje,
não estou para tua companhia, tristeza
a porta segue fechada
a casa silenciosa, apagada 
mas o peito,
ah, o peito ainda insiste em ranger

que clama por um dia o amor chegar

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

CONTIGO

saudades de você 
do tom da tua voz
vontade de te ter comigo

o dia amanhecer
e noite só pra nós 
viver e reviver, abrigo 

tanta coisa pra falar 
e nada pra dizer
me basta teu olhar, menino

fiz um chá pra te acordar
pra mim e se tiver que ir 
meu peito pode ir contigo