somos
monstro sapiens
lidamos uns com os outros
como se fôssemos
meros seres descartáveis
nunca recicláveis
à mercê do egóico
sentido do satisfazer
somos
monstro sapiens
lidamos uns com os outros
como se fôssemos
meros seres descartáveis
nunca recicláveis
à mercê do egóico
sentido do satisfazer
e me convidou a adentrar
sua casa humilde
revelando cada detalhe
de uma decoração confusa
revelou-me secretos suspiros
engalfinhados nas paredes
manchadas por secreções juvenis
receoso se desnudou pra mim
revelando sua alma
aquecidas apenas pelas velas
que velavam os defuntos
das paixões que não soube sepultar
e no teto desenhava o negro sabor da partida
acordei de um sonho bom
te fitei, te guardei no som
de sussurrar romântico
entre nós só há Atlântico
inventei para nós histórias
costurei no dizer memórias
de gargalhar constante
todo eterno foi só o instante
no altar do peito te devotei
todo olhar, teu jeito, eu decorei
no altar do peito te servi
o coração, menino, eu perdi
teu abraço é edredom
tuas falas afinado tom
meu corpo teu pedestal
quebrado, vazio, caiado e cal
e de repente eu deixei de existir
o passado
está pesado demais
mais gostoso
é o gosto da maçã
que amassamos no beijo
vem pro presente
e de presente
te dou um futuro
cansei de ser duro comigo
me leve solto
e me solto leve, amigo
a gente se ama
só não transa mais
a gente já não faz amor
mas do amor fomos feitos
assim desse jeito
assim nos dizendo sim
acolhendo-nos no peito
pra gente há feliz
nunca fim
deita ali no quarto ao lado
a cama já pequena está pra dois
nós dois que fizemos duas pequenas
removamos os lençóis
e nossos sóis serão o pra sempre
nunca foi de repente