quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Vai ficar tudo bem

 sem pedi perdão 

você pode ir

viver nunca é em vão 

sempre é construir


mesmo se desconstrói 

as amarras que doem

as lembranças que corroem 

puras projeções que criei


te fiz em mim herói 

ponte Rio x Niterói 

mas saudade dói 

duras injeções que me dei


recolhendo meus cacos

costurando meus retalhos 

me refiz por inteiro

o que ofertei não foi pedaço 

coração eu pus no prato

alimentei teu fevereiro


estou cheio da falta

de presença de ausência 

de carinhos que assaltam

corredores de carência 


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Águas

nas águas do Paraíba 

quero lavar-me de todos os males

bebendo de tua saliva

na tua boca encontrar teus mares


palavras doces encontram no teu sorriso salgados lares

tuas ondas temperam a dança do meu caminho rumo teus ares


eu quero te desbravar com meu carinho

vou em ti desaguar, fazer meu ninho


em ti eu vou

nadando em ti eu vou

nadar em tudo

é tudo no nada


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Sapiens

 somos

monstro sapiens

lidamos uns com os outros

como se fôssemos 

meros seres descartáveis 

nunca recicláveis 

à mercê do egóico

sentido do satisfazer

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Casa

 e me convidou a adentrar

sua casa humilde

revelando cada detalhe

de uma decoração confusa


revelou-me secretos suspiros

engalfinhados nas paredes 

manchadas por secreções juvenis


receoso se desnudou pra mim 

revelando sua alma

aquecidas apenas pelas velas

que velavam os defuntos

das paixões que não soube sepultar

e no teto desenhava o negro sabor da partida 






sábado, 9 de novembro de 2024

Pedestal

 acordei de um sonho bom

te fitei, te guardei no som 

de sussurrar romântico 

entre nós só há Atlântico 


inventei para nós histórias

costurei no dizer memórias

de gargalhar constante

todo eterno foi só o instante


no altar do peito te devotei

todo olhar, teu jeito, eu decorei 

no altar do peito te servi

o coração, menino, eu perdi


teu abraço é edredom 

tuas falas afinado tom

meu corpo teu pedestal

quebrado, vazio, caiado e cal


e de repente eu deixei de existir

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Solto

 o passado 

está pesado demais

mais gostoso

é o gosto da maçã 

que amassamos no beijo


vem pro presente

e de presente 

te dou um futuro

cansei de ser duro comigo

me leve solto

e me solto leve, amigo

Dois sóis

 a gente se ama

só não transa mais

a gente já não faz amor

mas do amor fomos feitos


assim desse jeito

assim nos dizendo sim

acolhendo-nos no peito

pra gente há feliz

nunca fim


deita ali no quarto ao lado

a cama já pequena está pra dois

nós dois que fizemos duas pequenas

removamos os lençóis 

e nossos sóis serão o pra sempre


nunca foi de repente

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Ameixa

 já é verão no Arpoador

desse sol que mora em teus olhos

me prova o sabor

ali a água é salgada

doce são os sucos de meus molhos


você é calor inteiro 

de janeiro ao rio

tô com sede

me beija

me tinjo no sol

sou tua ameixa 

não finjo por mal

deixa isso pra lá 

foi a deixa, me beija


é que nasci no rio

mas sou do amar

elo, contato, encontro

não aprendi ser fio solto

sou trama emocionada de querer 


e hoje tem espaço pra você 

No encaixo do subverter 

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

a cá

a cá o amor

amortece

a morte

a morte ser

tecer-te 

o mundo

fundo, profundo 

em pró 

duto dura muito o segundo

fecundo com você 

oriundo ser

que acaba

a cá

rápido

sábado, 2 de novembro de 2024

Um homem que amei

 eu te guardaria nas nuvens

lá não há pensamentos

te conjugaria nos vens

de onde nascem os ventos


eu te namoraria no silêncio 

onde os olhos calam segredos

e nossos corpos tensos

nos acendem e falam em dedos


eu depilaria teu corpo 

e nu te inscreveria o desejo

assim de um jeito ríspido, louco

eu te deixo, sem deixar


seja na Lapa

ou no reservado das giras

eu em ti oferenda

você em minha boca 

tecendo rendas


às vezes você vira poeta

eu coleciono em ti rimas

para que o Rio aberta

pro Cristo

nos aproxima a cisma

Degustação

 eu chupando tua língua feito romã 

misturando saliva e o tom do hortelã 

brindando o raiar da quente manhã 

a gente sem manha

destrinchando-nos feito poncã