sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Leite de pedra (Final)

Carolina tinha como hábito repentino, porém já enraizado de fumar depois de suas transas, apenas daquelas que considerava uma boa transa, de verdade, com "t" maiúsculo, com tesão. Procurava no gosto dos cigarros o hálito de sua inocência e virgindade, o gosto do primeiro beijo que se perdia entre o dor da nicotina consumida. Transava com os desconhecidos, mas era com o cigarro que encontrava o sabor agridoce do amor.
Ele sentia o seu orgulho ferido ao se ver tratado como um mísero objeto, mas quantas vezes por ele mulheres foram tratadas assim? A única diferença entre Ernesto e os outros homens, é que este honestamente cria que era diferente. Mas desde quando homem é honesto? Esta era a pergunta que aquele animal arisco esboçava em sua maneira consumista de devorar seus parceiro, dos quais não constituíam parcerias. Os quais não se alimentavam da energia do sexo e morgavam enfraquecidos em sua cama. Mas é claro que isto não seria permitido pela Abelha Rainha.
Num rompante de uma pessoa que matam em suas palmas os mosquitos que as perturbam e bebem do sangue ela o ordenou que de sua casa saísse. Este riu, como se fosse uma bel piada que ouvira. Pegando-o pelo pescoço, como quem de uma cobra quer o veneno extrair, Carol o ordenou com fúria nos olhos transbordados de sangue. Fez das montanhas e vales que minutos atrás preenchiam o cenário de seu gozo, um planalto sem palmeiras ou erosão.
Atrevido como foi na primeira vez que a viu, ele a beijou e os morros se refizeram outra vez e não foi menos íngreme que antes. Mas desta vez houvesse uma avalanche monstruosa de seu cume, uma avalanche de água quente e volumosa. Ouviram som de muitas águas, muito suco, muito gozo. Carol se desfez em pó, sem rumo, sem força, e se refez como fênix das cinzas, mas não houve mais fogo para que a queimasse e Ernesto, houve paz e contato de olhos e mãos.
Carol é pedra fria, é pedra mármore e mãos sem fogo não a aquece, e ela esquece o que foi e se despede sem convites pra voltar. Ela se levantou do chão do corredor à esquerda, voltou a
área de serviço e pôs suas vestes. Penteou os cabelos como um distinta donzela virgem. Olhou-o como se contemplasse um estranho, e ele era. Disse-lhe um obrigado bem sincero, ele entendeu que era a porta a sua próxima estada e logo se prontificou. Se olharam como quem buscasse nos olhos de um e de outro um labareda sequer de faíscas, mas suas pedras já foram molhadas, encharcadas e não se tira fogo de pedra de leite já se derramou.


[Fim}

Nenhum comentário:

Postar um comentário